8- Passado

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Xaun e Alec ficaram para trás sob o cuidado dos dois dragões amigos do Dragão Branco. Estou seguindo ele desde então, descendo a margem da pequena nascente de água doce.

Observo tudo com olhos e ouvidos atentos. Vi algumas espécies de parasitos nas árvores que nunca tinha visto, assim como ouço sons que nunca tinha ouvido. Desde rugidos à vozes.

Ele não fala nada, tão calado quanto um Gronikol da colina, até mesmo seu caminhar é silencioso.

— Então, me diz, seu nome é mesmo Dragão Branco ou você tem um nome de nascença, dado, sei lá, pelos seus pais? — Desvio de qualquer coisa que possa me fazer tropeçar enquanto ando.

DB– Eu não tive pais. Já nasci como um grande Dragão e meu nome, dado a mim pelo Criador, é divino demais para ser falado por mim ou qualquer outro. Apenas o Criador me chama por ele.

— O Criador... você fala com ele? — Ele diminui seus passos, pesaroso e pensativo.

DB– Eu não falei. Só ouvi. Duas vezes.

— Duas? Só isso? — Ele rosna de leve.

DB– Ele apenas diz o que é necessário.

— Quando foi?

DB– A primeira vez que o ouvi foi a primeira vez que abri os olhos. Sua voz ecoou por todo o planeta, ele me disse meu nome e meu propósito no mundo. Na época, o mundo era dos dragões e quando a humanidade surgiu, evoluiu e falhou, ele me chamou outra vez. Ordenou que eu reduzisse a humanidade às cinzas. Depois disso, tudo ficou silencioso.

— Bom, vocês parecem manter uma boa relação. Tipo, pai e filho. — Minha voz soa irônica, o que foi cem por cento minha intenção.

DB– Chegamos.

O rio deságua numa caverna grande e bem iluminada. Ele entra sem cuidado, afundando as pernas e a roupa branca na água cristalina e caminha caverna adentro.

Não espero ver o que vejo quando entro, um enorme caminho de pedra que leva até o fundo da caverna. Borboletas fluorescentes iluminam as paredes e no final, um enorme arco de pedra que escorre a água para fora. Enfeitado por borboletas e plantas brilhosas.

Como se fosse um espelho. Um espelho para o passado.

DB– Tens a maior honra que qualquer elfo da Terra já teve ou terá. Entende a sua importância nesse mundo, Salvadora? Nasceste para salvar todas as espécies, para pisar sobre o solo de Drachen e para vislumbrar o passado no objeto mais sagrado que mantemos: o Espelho de Pedra.

— O que... o que é isso?

DB– Apenas olhe, não desvie o olhar. Pode ser que doa, mas não se assuste.

A água parece escorrer pela pedra, formando um reflexo na água, um reflexo meu. Mas de repente não sou mais eu, alguém parecido comigo, está no reflexo.

Uma mulher, negra e de cabelos platinados, mas olhos conhecidos por mim. Olhos violeta vibrantes.

"— Quando o Lorde irá chegar?"

Meu reflexo penteia os cabelos frente ao espelho, enquanto o que parece uma criada a ajuda a se vestir.

DB– Saphide era uma jovem diferente, cresceu numa cidade pobre nos pés do Palácio de Erzengel. Tinha um irmão mais novo chamado Bar que nasceu com uma doença rara e letal. Ela tinha 12 anos quando o Lorde das Trevas chegou e escravizou Erzengel.

"— Jakari, por favor, busque meu vestido verde. Aquele com detalhes em dourado. É o favorito do Lorde e quero presenteá-lo com um jantar agradável essa noite"

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora