2- Desconhecido

152 16 130
                                    

Observo o homem no coreto, tocando um instrumento longo de sopro que faz um som melodioso que me dá sono.
As pessoas não parecem se importar com o flautista, a não ser o homem coberto dos pés à cabeça com uma manta preta.

Ele me vê o observando e se vira, caminhando para longe do coreto.

Algo em seus olhos azuis – que vi brevemente – chama minha atenção. Meus instintos me dizem para seguí-lo e sem dar satisfação ao meu amigo, caminho atrás dele.

Ele dobra algumas esquinas, me olha de canto e finalmente o alcanço em um beco. Ele não para de andar, mas apertou o passo como se me esperasse.

— Se queria passar despercebido... deveria se vestir de forma menos chamativa.

Ele não diz nada, apenas me olha de canto e volta a andar. Eu o teria seguido, mesmo que inconscientemente se não fosse pelo Alec gritando meu nome. Então eu apenas deixo para lá, caminhando até meu amigo.

— Ei, deu algum marco ao flautista do coreto? — Pergunto assim que me aproximo o suficiente para ser ouvida.

A– Não podemos nos dar ao luxo de dividir.

— Não foi assim que nossos pais nos ensinaram. — Tiro um saquinho de moedas do bolso

A– Nós já conversamos sobre isso. Nós não podemos perder o pouco que temos.

— Isso não é perder. É investir.

A– Em mais um artista de rua? Você sabe que a arte não leva a lugar nenhum.

— Você parece um aristocrata falando. — Minha voz soa ofendida e tenho certeza que minha expressão demonstra a mesma coisa quando ele suaviza sua testa. Guardo o saco de moedas.

A– Sinto muito. Sei que você ama música, mas prefiro te magoar do que te deixar morrer de fome porque deu todo nosso dinheiro a um flautista de coreto. — Faço um barulho de indignação com a boca quando percebo que ele está certo. Odeio admitir isso.

Olho ao redor, procurando pelo som melodioso da flauta e pelos cabelos ruivos do flautista. Mas não o vejo mais, então tudo que posso fazer é voltar ao meu objetivo com o ursão.

— Já colocou combustível no automóvel? — Ele afirma sem tirar os olhos do mapa. — Para onde vamos agora?

A– Tem uma pequena cidade no caminho até o Labirinto, vamos parar lá para guardar o veículo e comprar mantimentos e talvez alguma arma. Tenho a impressão de que esse não é um simples labirinto.

— Tá. Mas uma cidade? — Ele afirma — Cidade mesmo? Tipo, com prédios e destroços?

A– Segundo o mapa.

— Acredito que finalmente essa jornada está valendo a pena.

A– Pensei que estar em uma aventura comigo já fizesse valer. — Ele ergue uma sobrancelha sugestiva.

— Oh, você esteve aí esse tempo todo? — Minha péssima piada faz com que ele revire os olhos, já eu, apenas rio.

[...]

A cidade parece uma cidade. De forma estética, quero dizer. Prédios altos e coisas que eu nunca vi na vida, enfeitam a entrada. Mas na parte populacional... bem, ela deixa a desejar.

Tudo está tão vazio e silencioso que cogito estarmos no lugar errado. Mas o mapa se mantém igual à última vez que olhamos. A antiga cidade está mais para a Cidade Fantasma.

O som do veículo é a única coisa que escuto, e então, olhando toda a cidade como se fosse um bebê descobrindo as cores, percebo que a Antiga Era não era tão boa assim. Tamanha beleza e imensidão destruídas pelos toques humanos, que mundo era esse para que tal espécie provocasse sua própria extinção? Espero nunca descobrir.

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora