23- Dor

19 3 3
                                    

Estou extremamente cansada e dolorida. Meus olhos ardem e minha garganta coça pelo tanto que chorei ontem a noite. Minhas pernas estão molengas e a metade que sobrou da minha orelha, lateja por baixo do curativo. 

O Dragão Branco está sentado à minha frente, acabara de trocar meus curativos e usar um pouco da sua magia para repor minhas energias e saúde. Mas estou relutante, não mereço ser curada. 

— Eu tive uma visão. — Solto de uma vez, sem preparo prévio. Ele desvia o olhar do balde de água para mim. — Saphide apareceu em meus sonhos. 

DB– Com quais intenções? — Sua voz soa baixa e contida. 

— Contar como derrotar o Lorde. De uma vez por todas. — Ele arfa, largando o balde na areia e apertando meu rosto entre suas mãos. — O espelho de pedra, precisamos dele. 

DB– Por quê? 

— Ela não explicou, apenas disse que precisaríamos que o Lorde se visse no espelho. 

DB– Mas o espelho não reflete imagens, ele é uma janela para o passado. 

— Bom, pergunte a ela então. — A irritação está presente na minha entoação. 

Desde ontem venho me sentindo alterada. Com razão, claro. O Xaun até mesmo levou alguns gritos meus quando veio tentar me confortar.
Mas ele não entende. Ninguém entende. Ninguém ama o Alec como eu amo, ele é parte de mim, eu preciso dele. 

— Temos que chegar em Drachen de uma vez. 

DB– Você está para baixo. — Reviro os olhos e me levanto, escapando de suas mãos. 

— Tem alguma razão para eu estar feliz? Estamos em guerra, Dragão Branco. Perdemos vinte soldados ontem e os que não morreram, carregarão o trauma em seus corpos pelo resto da vida inútil deles. Tem alguma razão para eu estar feliz? 

Ele não responde, parece assustado com minha forma de agir, apenas balanço a cabeça negativamente, me desculpando com o olhar e me afastando, indo de encontro aos outros Generais. 

Os homens feridos serão levados de volta para Drachenfeuer pelo caminho mais longo, fora do gargalo e da tempestade de areia infinita. Se sobreviverem à jornada, será uma vitória. 

Voltamos ao nosso caminho assim que nos reagrupamos, diminuiremos o tempo de descanso e de dormir. Precisamos chegar o mais rápido possível. 

[...] 

Estou sedenta por um banho, estamos no deserto há uma semana e a chuva estranha do outro dia não foi o suficiente para limpar meu corpo e chuva no deserto é algo tão raro, que com certeza aquilo teve dedo do Lorde das Trevas. 

Meu corpo todo amolece quando sinto a magia da barreira próxima. Paro, desço do cavalo e estoico meu braço, erguendo a mão e tocando a parede sólida e invisível. 

O Gadreel, continua andando em seu cavalo, não me tento a avisá-lo, ele logo se choca contra ela, caindo de cara no chão e pelo Criador, finalmente algo engraçado. 

— Você deveria olhar por onde anda. 

G– Não devia ter uma parede aqui! — Seu resmungo me causa uma risada nasal, mas logo me viro, chamando os capitães e preparando acampamento. 

— Todos os manipuladores de água devem se exercitar a partir de agora, próximo à barreira. Senti-la e se familiarizarem com ela. — Observo o sol poente. — Amanhã pela manhã iniciaremos os trabalhos. 

Os quatorze homens e uma mulher que lideram seus esquadrões, afirmam, voltando aos seus subordinados. 

Assim que o acampamento é montado e nos reunimos ao redor das fogueiras, me sento ao lado do Xaun. Numa fogueira solitária, encarando as chamas e ignorando sua tigela de sopa. 

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora