10- Impureza

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Nesses onze meses nessa longa jornada eu sempre fantasiei o momento em que eu perceberia o erro que estava cometendo, daria meia volta e voltaria para casa.
Imaginei como seria recebida, se meus pais abririam suas portas para mim, ou se eu tinha ferido tanto eles que nunca me aceitariam de volta.

Eu esperei por esse dia o tempo todo, o dia em que eu voltaria para casa, mas agora que ele finalmente chegou, me sinto perdida. Sem sentidos no meio da guerra, cega em antecipação e receios.

É noite agora e acabamos de passar por mais um tremor. A terra não parou de tremer desde ontem, mas parece que finalmente temos uma pausa para dormir e nos prepararmos.

O Dragão Branco não comentou mais nada além do que disse ontem. Ele se recluiu em sua caverna e o ar de raiva que toma o ambiente me fez me manter afastada.

Eu até tento dormir, mas o medo me mantém de olhos bem abertos.

A– May? Tá dormindo? — Não estou a fim de conversar agora. — Sai de perto.

X– Até parece que você não gosta.

A– Será que dá para ir mais devagar? — Mas que pouca-vergonha.

Me viro de uma só vez, eles ainda estão vestidos, ótimo.

A– May... — Apenas reviro os olhos, me enrolo em meu cobertor e saio da nossa caverna/casa.

Estou feliz que o Alec está feliz, mas, sei lá, sempre fomos eu e ele.

Quando tínhamos doze anos eramos crianças desajustadas e teimosas, sempre correndo atrás de aventuras, caindo de cara no perigo. Aprontávamos todas quando nos juntávamos.
Certo dia, quando o Alec passou no teste e se tornou um caçador, decidimos testas suas habilidades e entramos na floresta. O Alec era bom, ainda é, mas não esperávamos trombar com uma família de ursos.

Nunca corri tanto em toda minha vida como corri naquele dia, o Alec estava tão assustado. Mas o urso maior nos alcançou, eramos só crianças e não tínhamos forças contra ele. O Alec se jogou na minha frente para me salvar e teve seu rosto ferido, resultando na cicatriz que ele tem hoje.

Por sorte, nossos pais sentiram nossa ausência e chegaram a tempo, espantaram o urso e socorreram o Alec que sangrava e chorava. Por sorte ele não perdeu a visão do olho esquerdo ou pior.

A culpa foi minha, mas ele nunca me culpou por isso. Ele disse que era como um urso e como teve coragem de enfrentar um, era o rei dos ursos, o ursão. Virou um apelido e uma piada interna e sua cicatriz virou sua coroa.

Eu e ele sempre fomos uma dupla e agora cá estou eu, sendo excluída da felicidade dele.

Eu me sinto podre, suja por pensar desse jeito. Mas eu queria ser a felicidade dele, queria que não tivesse trazido apenas desgraças para vida dele.

Olho para lua e meus olhos são automaticamente atraídos para a montanha do Dragão Branco, onde fica sua morada e então percebo que sinto falta dele.

O caminho montanha acima me faz questionar várias vezes o que está acontecendo com minha cabeça. Mas não tenho tempo para entrar numa crise existencial. Chego no topo e antes de entrar, ouço vozes.

Ruth e Andeias estão aqui, parecem revoltados e discutem com o Dragão Branco.

R– Quando vai contar para ela? — O Dragão roxo grande encara o elfo pequeno de cima. — A gente devia se livrar dela, assim os tremores param e o Lorde não volta.

DB– Não temos certeza disso.

R– Mas é óbvio que temos, sabe disso, Saphide nos falou.

DB– Saphide não está aqui agora. Amaya está. — Eles estão falando de mim?

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora