35- Adeus

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As flores balançam com a brisa quente e leve da campina, o silvo do vento me faz retorcer o pescoço, incomodada com o suor que escorre pelo meu corpo. 

Tento correr, mas a falta da minha armadura me faz estranhar o vestido branco e longo de cetim que não me lembro de ter colocado.
Não entendo a calmaria, a beleza e pureza do lugar. Onde estão as chamas? Os gritos? A magia destrutiva do Lorde das Trevas? 

Olho ao redor, procurando a entrada e me deparo com o olhar sanguinário do Lorde, encarando algo atrás de mim. 

LT– Querida? — Ele ergue a pata e saio da frente quando entendo. 

Saphide está atrás de mim e dessa vez não parece uma visão. Ela está aqui de verdade. Agora eu entendo. 

Ela criou o Espelho com sua magia e se manteve viva absorvendo a energia da natureza, aqui dentro, onde é sempre passado, sempre presente e sempre futuro. 

Suas escamas se tornam pele élfica novamente quando ele atravessa, voltando a sua forma natural, ele desliza os dedos pelos cabelos brancos dela, sorrindo de forma assustadora. 

LT– Minha querida, você esteve aqui esse tempo todo? — Ela afirma, segurando sua mão. — Você poderia ter dito, eu viria salvar você. 

S– Eu não preciso de salvação, Mors. — Então monstros também têm nome. 

LT– Como não? — Ele puxa seu cabelo com agressividade. — Você me traiu, querida, precisa ser purificada. 

S– Você precisa, Mors. Seu reinado acabou. 

LT– Ele só começou. — Ela acaricia seu rosto, com uma ternura doentia. 

S– Não. Acabou. Acabou para nós dois, o mundo não precisa mais da gente. 

LT– Você não pode me deter. — Ela o solta e desvia os olhos para mim. 

S– Não. Mas ela pode! — Ele me encara com ódio e tenta pular até mim, mas seus pés estão presos ao chão. 

Suas investidas me fazem correr, correr até a saída, onde o Dragão Branco – agora em sua forma élfica – me espera de braços abertos. 

Estico o braço, ele me puxa para fora e não dou tempo para ele perguntar o que aconteceu. Minha armadura faz meu corpo pesar e apenas encaro o Lorde tentando escapar das raízes que o mantém preso. Ele grita, fazendo meus ouvidos sangrarem. 

Saphide acena para mim, me dando forças e permissão. Ergo as mãos, apontando-as para o Espelho. A água da nascente penetra as camadas dele e a toda a magia que faz do Espelho especial, está sob meu controle. 

Empurro com força, sentindo meu corpo perder a estabilidade. Um grito de esforço faz minha garganta e meus nervos doerem, empurro ainda mais. A água se torna sólida, fechando a passagem e rachando. Como a barreira, como vidro, frágil. 

Com uma das minhas mãos, tiro uma adaga prateada da bota, a que meu pai deu para mim antes de iniciarmos essa jornada. 

Não tenho força suficiente para quebrar o vidro apenas com magia, então lanço a adaga que se prende no vidro, aumentando as rachaduras. 

LT– EU VOU MATAR VOCÊ! VOU TE FAZER SOFRER! VOU MATAR TODOS QUE VOCÊ AMA! — Deixo um risinho escapar. 

— É desespero que ouço na sua voz? Eu fiz o que você queria, não foi? Te entreguei à sua amada. — Ele se balança, se remexe como uma criança birrenta. 

S– Obrigada, Amaya. Por me salvar! — Apenas sorrio para ela, fechando o punho com força. 

O vidro se estilhaça em câmera lenta, o ódio do Lorde ressoando pelo que restou da caverna e sua magia opressora se dissipando de uma só vez. 

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora