29- Renúncia

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Ele não voltou, já se passaram dois dias e não tivemos nenhum sinal dele. Ruth disse que ele precisava de tempo e que havia voltado para casa, pois precisava pensar.

Para mim, pensar é apenas sinônimo de se afogar em desespero e sofrer. Mas apesar do meu coração me dizer para ir atrás dele, a razão me manda focar em meu objetivo. 

Afinal, eu tenho um exército para liderar e um monstro para matar. 

A montanha que eu havia citado para os outros generais, está abaixo dos nossos pés, o terreno elevado mantém a areia longe o suficiente para montarmos nosso acampamento sem nos preocuparmos com um possível ataque inimigo. 

Sklavarena está há apenas alguns metros de distância, daqui de cima, posso ver as torres em cada ponta do muro quadrado. E apesar do meu estômago se revirar com a sensação ruim que esse lugar me traz, tenho esperança de que sairemos vencedores. Eu lutei na arena e triunfei perante todos que enfrentei, não deixarei de ser invicta logo agora. 

Não demoramos para montar acampamento, dessa vez firmando as barracas no solo duro, ficaremos aqui por um bom tempo até nos prepararmos para atacar. 

O Lorde não deu as caras outra vez, nem mesmo ouvi sua voz depois que o expulsei, e de certa forma, seu silêncio é pior que sua gritaria. 

A tenda do meio é a maior, grande o suficiente para comportar todos os capitães e generais. 

Me envergonho um pouco quando vejo que estão apenas esperando por mim, Gadreel está aqui, seu rosto ainda está um pouco inchado e ele sequer olha para mim quando passo por ele.

Ocupo o espaço frente à mesa improvisada e observo o grande mapa do local e de Sklavarena, feito pelo Xaun. 

Ainda não vimos o exército do Lorde, não temos noção de quantidade, força ou poder que eles têm. Estamos entrando numa batalha cem por cento às cegas. Isso é um problema. 

Antes que eu possa começar a falar, a tenda se abre, um grande focinho roxo adentra o espaço que agora parece apertado demais para um dragão tão grande. 

— Ruth, o que houve? — Ela não me vê, mas rosna de levinho ao farejar o local. 

R– Meus irmãos chegaram a uma decisão. 

— Decisão? Sobre o quê? — Minha voz soa cautelosa. 

R– Mais da maioria concordou que não irá lutar sem a presença do nosso rei. — Ela recolhe o focinho, abaixando a cabeça e olhando para dentro. — Apenas alguns estão dispostos a lutar sem ele, apenas os que perderam a esperança nele. 

Um burburinho começa, todos soam indignados, preocupados, com medo. 

Z– General, a condição para estarmos aqui foi que teríamos apoio dos dragões nessa guerra. 

E– Ora, não somos novatos nisso, já lutamos em diversas guerras apenas com nossas lâminas. Não precisamos de dragões. — Egon acusa a capita Zylon de covardia. E Gadreel abre a boca pela primeira vez. 

G– Nunca enfrentamos um inimigo como esse. 

O burburinho continua, as vozes alcançando tons cada vez mais altos, minha cabeça está girando. Medo me toma também. 

Olho ao redor, meu pai me encara de forma firme, como se esperasse que eu tome alguma decisão, que eu imponha respeito.

Xaun ao meu lado, clareia a garganta, em vão. Eles começam a gritar um com o outro, Ruth apenas me observa, na expectativa também. 

Agora é a hora, de provar não só para ela, mas para todos que eu sou a Salvadora deles, preciso agir, mesmo que minha voz falhe. 

— SILÊNCIO! — Não preciso repetir duas vezes, meu coração se enche de amparo quando eles me encaram calados. — Com ou sem dragões, a ameaça é real. O Lorde não vai parar só porque nos acovardamos e corremos com as orelhas para baixo. Com ou sem dragões, estamos aqui para sobreviver. 

A Lenda do Dragão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora