Ciclo Olímpico | Hande Baladin & You

03

*POV YOU*

Era segunda feira e estávamos a caminho do clube. Tínhamos comprado um carro para nos deslocarmos na cidade, um Porsche Macan preto, estilo esportivo do jeito que eu e a Branquela gostamos.

Fomos para o clube uma hora antes do determinado, não queríamos nos atrasar, ainda mais que tínhamos algumas burocracias para resolver como o contrato que eles nos entregariam, além das fotos e vídeos para as redes sociais.

Estacionei o carro no estacionamento do clube e desci, aproveitei para dar uma olhada superficial no lugar e era lindo, tudo lá tinhas as cores laranja, preto e branco, além é claro da cor de concreto das estruturas.

Passamos da portaria e fomos muito bem recebidas, cumprimentamos as pessoas em turco (o pouco que aprendemos) e fomos direcionadas ao vestiário. Lá, estavam todos os conjuntos de uniformes de treino, toalhas, kit de higiene, um doce chamado baklava e um bilhete de boas-vindas.

Nos encaminhamos para a área administrativa do clube, onde fomos recebidas de forma calorosa pelos dirigentes e comissão técnica, que, nos explicaram novamente a proposta do time que vinha insatisfeito por ter perdido campeonatos importantes para o maior rival, Vakifbank, time em que a Gabi jogava. Nos explicaram sobre o calendário, horários e o que esperavam de nós. Após tudo acertado, fomos liberadas para o treino, começaríamos na academia pela manhã e à tarde treinaríamos com bola.

Como nossas coisas já estavam guardadas, Roberta e eu nos encaminhamos para a academia. Chegando lá fomos apresentadas as jogadoras que estavam esperando o preparador físico.

- Meninas, quero que recebam as nossas novas atletas, *You* e Roberta! – Disse o treinador em um inglês carregado de sotaque, bem fofo até.

Elas bateram palma e começaram a gritar, eu imediatamente ri e olhei para Roberta que estava rosa, como sempre ficava em qualquer situação que lhe deixasse constrangida. Dei dois tapas nas costas da minha amiga e fui cumprimentar as meninas.

Assim que levantei a cabeça, percebi que tinha um olhar fixo sobre mim. Baladin. Logo a reconheci pelas fotos que Roberta havia me mostrado quando ainda estávamos no Brasil. Assim como ela, sustentei e olhar sem ao menos rir, expressão neutra, mas com o olhar firme. Me direcionei até ela e estendi a mão.

- Hande Baladin, que bom finalmente te conhecer! – Falei, dessa vez sorrindo de forma sincera.

- *You*, que bom que finalmente chegou! – Devolveu o sorriso e pude notar que ela tinha covinhas nas bochechas. – Vai ser um enorme prazer ter você conosco.

A respondi brincando e sem tirar os olhos dos dela. Era estranho, mas parecia o único lugar que conseguia olhar. Nos despedimos e fomos treinar, mas não antes de eu sentir dois tapas nas minhas costas.

- Que troca de olhar intensa foi essa? – Disse Roberta bem baixo enquanto começávamos os treinos. – Nem começa, tá?

- Eu não fiz nada, Branquela. Ela que me olhou e eu sustentei o olhar. Só isso, relaxa sua cabeça e vamos trabalhar. – Mandei um beijo para ela fui para o meu canto.

Era difícil explicar o meu jeito, dentro e fora de quadra eu tinha personalidades totalmente diferentes. Dentro de quadra eu sou explosiva, grito a cada ponto, fecho a cara, dou soco no chão, xingo, chacoalho as colegas do time, corro para comemorar com a torcida. Gosto de incendiar o lugar, mas nunca, nunca mesmo, gosto de desrespeitar as atletas do outro lado, a não ser que elas façam primeiro, mas fora isso, me mantenho muito centrada no jogo e é difícil achar algo que me tire do eixo.

Já fora de quadra, eu sou um pouco tímida, mas uma completa palhaça. Me considero uma boa amiga, estou ali para quem precisar de mim, brinco, faço piada, ajudo, dou puxão de orelha também. Sou organizada, tranquila, não gosto de brigas e conversas atravessadas. Só de não complicar as coisas, para mim já está de bom tamanho. Além do mais, adoro ficar conversando com voleifãs na rede social, eles surtam e eu adoro. Mas mesmo assim, algumas coisas acontecem, cometemos erros e deixamos que as pessoas errem com a gente, mas isso são coisas da vida.

E lá estava eu, terminando o treino da manhã.