Cap.46 | O desfecho artístico

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P E N Ú L T I M O
C A P Í T U L O

Encarávamos a tela do notebook em um profundo silêncio. Meu namorado também parecia desacreditado, só conseguindo dizer alguma coisa quando seu cérebro pôde processar a situação:

— Como isso aconteceu...?

Eu me desesperei quando soube que minha irmã estava me ligando, me apressei para terminar a inscrição e acabei enviando o arquivo errado. — Acabo passando uma de minhas mãos pelos meus cabelos, não conseguindo controlar minha expressão de descontentamento. — Como eu pude fazer uma coisa dessas?!

— Se acalme, mesmo que não seja a foto correta, o seu trabalho foi selecionado para uma exposição! Pense pelo lado bom. Pelo menos, você não foi denunciado por nudez. — Disse ele. — ...ainda.

Você é um péssimo consolador!

— Desculpe, mas não temos muito o que fazer nesta situação.

Eu vou enviar um outro e-mail para o museu, pedindo para isso não ser expost-...

— Não! — Ele interferiu. — Essa continua sendo uma foto sua, onde mostra a sua arte. E ela foi selecionada!

Osamu, você sabe que, se formos à exposição, todos vão saber que somos nós dois nessa foto.

— Você é a pessoa mais cara de pau que eu conheço! Confio na sua boa lábia para inventar alguma desculpa que convença o olhador.

Ponderei brevemente sobre o que Osamu disse, já que eu não sabia exatamente se aquilo havia sido um elogio ou não, antes de pensar em alguma justificativa para a foto:

Algo como "nudez artística" e a representação da "luxúria humana", abordando a diversidade sexual e a tatuagem como formas de arte banalizadas pela sociedade?

— Você sempre consegue me surpreender. — Disse ele, rindo da minha resposta pensada surpreendentemente com muita rapidez.

A imagem estava exposta na parede do museu e era maior do que eu esperava, cobrindo uma área de 1,20 metros de altura e 1,10 de largura. Haviam 13 obras penduradas ao lado esquerdo à minha e outras 4 ao lado direito, entretanto, sem nenhuma dúvida, a minha foto era a que mais recebia visitas, olhares e – principalmente – comentários.

A maioria falava sobre o contraste da pintura e das minhas tatuagens e de como elas se tornavam uma só durante o "ato carnal", outros reclamavam do quanto aquilo era pejorativo e que não deveria estar exposto em um Museu devido à vulgaridade, outros ficavam tímidos ao ver a imagem de duas pessoas fazendo sexo sendo mostrada de forma tão aberta e uma minoria se enojava com o fato das pessoas em questão serem dois homens.

— Seu quadro é realmente genial. — Uma voz feminina soou. — Eu consigo captar tantas coisas observando ele!

Olhei para o lado e avistei uma mulher bem mais baixa que eu, de cabelos castanhos curtos e levemente ondulados até a altura dos ombros e vestindo um terno social feminino.

O-Obrigado. — Respondi, um pouco hesitante em prolongar o diálogo.

— Oh, desculpe chegar assim, tão de repente. Sou Kurosawa Hanami, vice-presidente executiva do Museu. — Inclinou-se respeitosamente para mim.

É um prazer conhecê-la. — Curvei-me com muita educação à ela.

— Sua obra foi aclamada por muitos avaliadores do concurso, mas os diretores do museu tentaram fazer com que a sua foto não fosse escolhida. Me juntei ao diretor executivo, juntamente de outro artista, para fazer com que sua obra fosse exposta!

What  is   my  taste? • [Osamu]Onde histórias criam vida. Descubra agora