𝐀𝐏𝐑𝐈𝐋 𝐆𝐈𝐑𝐋 - 𝖪𝗈𝗄𝗈𝗇𝗈𝗂 𝗁𝖺𝗃𝗂𝗆𝖾

𝐓𝐰𝐞𝐧𝐭𝐲-𝐨𝐧𝐞

- Então você usa drogas porque essa versão do mundo é melhor do que essa hipócrita?

Mais uma vez, ele estava de volta no assunto drogas, e você odiou.

Era como se ele soubesse que algo estava enterrado naquela área, como se ele soubesse exatamente onde cavar para encontrar o que está embaixo.

Isso foi assustador porque parte de você sabia que ele seria capaz de descobrir, e você não queria que ele soubesse.

- Eu tomo drogas porque sou uma viciada, pare de pensar demais nisso - Você desviou o olhar dele e rolou de costas, como uma tentativa de escapar das paredes de seus olhos que estavam se fechando em você.

Ele viu você escorregando por entre os dedos, como água tentando ser pega, e decidiu não insistir nisso.

Ele fez o mesmo que você, virando de costas e olhando para o céu noturno, roubando de vez em quando uma visão do seu rosto.

Olhando para as estrelas, as lembranças vieram. Rostos rasgados e fragmentos de palavras passavam em sua mente como um filme dramático, uma longa dor aprisionada começou a gritar no coração da escuridão que cercava sua cela, gritos agonizantes ensurdecendo todos os pensamentos racionais, tão ensurdecedores que você tinha que falar em voz alta para calar.

- Você não acha que o céu fica diferente quando tem alguém que você ama lá em cima? - Você perguntou.

Koko congelou por um segundo, analisando suas palavras que haviam despertado nele um sentimento adormecido.

Ele olhou para você com o canto do olho e algo em seu peito apertou com aquela visão de você. Não havia mais o seu sorriso provocador, não havia mais brilho em seus olhos, tudo o que seu rosto mostrava era dor.

A dor familiar, ele conhecia porque estava acostumado a vê-la no espelho todas as manhãs, porque costumava senti-la a cada respiração que dava.

Limpando a garganta, ele se certificou de que sua voz não tinha emoção antes de falar.

- Sinceramente, não sei se vão pra lá. - Você rapidamente virou o rosto para ele, e parecia... Desagradável ver seu rosto familiar tão diferente, tão novo.

Em seus tons ele podia ver, a dor que você não explicaria. E por mais estranho que parecesse, ele tinha a resposta para sua pergunta anterior.

Ele tinha visto a droga, ele viu você sufocando os sentimentos dentro de você com a fumaça de suas juntas. Ele vislumbrou sua própria dor em você, seu próprio fardo que ele sabia que era tão pesado para carregar, e nunca se sentiu tão íntimo de você, mesmo quando você compartilhou seus corpos, você nunca esteve mais perto um do outro do que quando ele descobriu que vocês compartilhavam a mesma dor.

- Eles vão! Acredite, eles sobem para o céu e se tornam estrelas - você sorriu, mas seus olhos não.

Sua voz soou tão quebrada que quase o fez sangrar, isso era definitivamente estranho para ele ver você desse jeito.