Capítulo 17

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ANTONELLA POV:

FLASHBACK ON

- Gostaram da viagem? - minha mãe perguntou para meu irmão e para mim, virando o rosto um pouco para trás.

- Eu gostei muito, mãe! - disse abraçando minha boneca favorita de tanta felicidade - Da próxima vez temos que andar de barco! - meu irmão gargalhou do meu lado no carro.

- Você mal entra no mar, Antonella! Que dirá entrar num barco! Aquilo lá balança, balança e te joga no mar para os peixes te comerem! - disse e eu fiz uma careta, ouvindo somente a risada do mais velho ao meu lado.

- AFONSO! - meu pai o repreendeu - Deixa a sua irmã em paz! - mostrei língua pra ele, que revirou os olhos - Querida, o papai promete que da próxima vez a gente vai andar num barco bem legal, ok?

- E vai ser seguro, pai? - ouvi a risada baixa de Afonso depois da minha pergunta.

- Sim, muito seguro! - ficamos em silêncio mais um pouco. Eu olhava para o céu.

- Afonso, olha a lua! Ela tá seguindo a gente!

- Ela não tá seguindo a gente, Antonella! - disse sem muito interesse.

- Mas parece, olha lá! - apontei para o céu, admirada.

- Antonella, eu ... - meu irmão ia dizer algo, mas uma luz bem forte veio em nossa direção, junto com um som irritante de buzina. Fechei os olhos imediatamente, escutando minha mãe gritar de desespero antes de um grande impacto acontecer. Eu quase fui parar na frente, mas o cinto fez o seu trabalho.

Eu não reconhecia o som que escutava até ouvir a voz do meu irmão, chamando pelos meus pais. Eu ia abrir meus olhos, mas Afonso me impediu, tapando o meu rosto e segurando a minha mão.

- Afonso? - era a voz chorosa da minha mãe - Anto?

- Estamos aqui! - Afonso disse. Ouvi o som do seu cinto se soltando.

- Vocês estão bem? - minha mãe perguntou, enquanto meu irmão tentava me tirar do cinto.

- Eu estou! - ele disse.

- Antonella?

- Não sei, eu tô com medo! - resmunguei, abraçando firme o meu brinquedo, enquanto eu sentia meu pé doer muito, sendo pressionando por algo e minha cabeça também latejava muito.

- Tudo bem, fica calma! - minha mãe dizia - Vocês conseguem sair?

- Eu sim, mas a Antonella tá presa! E o papai? - meu irmão perguntou e eu ouvi o soluço da minha mãe.

- Só tira a Antonella daí, Afonso! - ouvi meu irmão fungando.

- Tá! - ouvi a porta do carro abrindo e choro abafado do meu irmão.

- Vai ficar tudo bem, minha princesa! - mamãe me dizia, enquanto eu chorava silenciosa no banco de trás.

Logo a porta do meu lado foi aberta também. Afonso soltou o meu cinto e tentou me puxar, mas dei um grito. Não conseguia sair e meu pé doía ainda mais.

- Não, para! - pedi, chorando - Por favor!

- Droga, seu pé está preso! - ele comentou, com as mãos na minha perna direita.

- Eu quero ir embora! A gente tem que ir embora, Afonso! QUERO SAIR DAQUI!

- Calma, Anto!  - ouvi a voz fraca da minha mãe disse - Daqui a pouco a gente vai!

- PAI! - eu gritei por ele, me remexendo no banco - PAI! - meu irmão me segurou, me fazendo abrir os olhos e olhar diretamente para ele, que tinha o rosto todo vermelho.

- Você precisa se acalmar, por favor!

- Cadê o papai?

- Ele... Ele está dormindo! - ouvi algumas sirenes, que abafaram ainda mais voz da minha mãe.

Só aí consegui observar a cena. Minha mãe estava logo a frente, toda cheia de sangue, os olhos teimando em fechar. Meu pai estava desacordado. Eu não era boba, sabia que ele tinha morrido.

- Vou ver se alguém consegue te tirar daqui, ok? - assenti. Então ele se afastou e logo ouvi a voz de algumas pessoas.

- Antonella? - era a voz de uma mulher que se aproximava. Ela estava vestida de bombeiro, enquanto outras pessoas tentava ajudar mamãe.

- Oi?

- Eu sou a bombeira Brenda e vou te ajudar a sair daqui, tudo bem? - disse e ela segurou firme as minhas mãos.

- Meu irmão já tentou e não conseguiu. O meu pé doeu muito!

- Só o pé que dói? - ouvi outras pessoas conversando próximo dali.

- A minha cabeça um pouco também! - ela me analisou - Você acha que vai conseguir me ajudar? 

- Vou fazer tudo que eu puder, ok?

- E a minha mãe e o meu pai?

- Meus amigos estão cuidando disso, tá? - assenti - Você confia em mim?

- Acho que sim!  - disse apertando firme a minha boneca novamente, enquanto sentia a mulher mexer na minha perna puxando delicadamente, mas parecia que piorava a situação. Ela percebeu e disse que iria buscar algumas coisas para tentar soltar o meu pé, que estava preso nas ferragens. Não entendi bem, mas assenti.

Estava toda cheia de sangue, também acabei vendo a minha mãe sendo tirada no banco da frente, cheia de sangue. Havia muitas luzes vermelhas e azuis e o som das sirenes e de todo o falatório, me deixava cada vez mais assustada.

- Mãe? - me agitei na cadeira, chorando muito.

- Antonella, eu sei que isso é difícil para você, mas eu preciso que respire fundo para que eu possa te ajudar, ok? - Brenda disse, voltando com algumas coisas em mãos e eu assenti. Um outro homem apareceu, mas ele não conversou muito comigo, apenas ajuda a mulher.

Abaixei minha cabeça, chorando baixinho enquanto sentia meu pé sendo libertado. Isso demorou um pouco  e estava sendo uma tortura para mim tudo aquilo

- Pronto! Vou te pegar pelo colo e te tirar daqui, ok? - ela me disse e eu assenti.

Brenda me pegou com cuidado, me envolveu em seus braços e logo uma coberta foi posta sobre mim. Vi minha mãe indo para uma ambulância e meu irmão estava lá.

- Posso ver ela? - perguntei e Brenda me olhou suspirando.

- Tudo bem, criança!

- Mãe? - a chamei, assim que fui colocada com cuidado na maca que ela estava. Meu irmão segurava firma a mão dela e depois segurou a minha. Vi a mulher na minha frente abrir os olhos com dificuldade e deu um fraco sorriso.

- Sabe o que eu estava reparando? - disse quase num sussurro, depois de um tempo. Meu pé latejava de dor.

- No quê?

- Acho que a lua realmente estava nos seguindo! -  olhei para o céu - Agora ela está lá parada, esperando a gente! - eu olhei para o céu e assenti, mantendo meus olhos lá em cima por um tempo. Recebi um beijo no topo da cabeça do meu irmão - Quando você ou seu irmão sentirem medo, basta olhar lá pra cima, perto da Lua, eu vou estar seguindo vocês! Eu e o seu pai seremos as estrelas mais brilhantes do céu! - engoli seco.

- Mãe! - eu disse, sentindo um nó na garganta. Ela deu um sorriso fraco e apertou as nossas mãos, antes de fechar os olhos novamente.

- Acho melhor... - meu irmão disse, engolindo o choro - Acho melhor a gente ir ver o que aconteceu com o seu pé, Anto!

Olhei para ele, chorando muito. Aquilo tudo só podia ser um pesadelo. Fechei forte os olhos um monte de vez, mas todas as vezes que eu os abria, ainda estava presa naquela tortura.

Meu irmão me abraçou forte e me segurou no colo. Me tirando de perto da nossa mãe, chorando, mas acho que estava tentando ser forte. Por mim.

- Anto, olha lá pra cima! - abri meus olhos e virei meu rosto para a noite estrelada. E eles realmente estavam lá!

FLASHBACK OFF

Depois Que Te Conheci - G. BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora