Intenções Perigosas - Série Pecados Capitais - LIvro I

Capítulo 1 - O amor sobrevive a tudo

A primeira impressão que Alba Perez teve da mansão Saramago foi a de que a casa era mal-assombrada, cheia de fantasmas, enfim, a moradia perfeita para um escritor de romances históricos. As fofocas e comentários sobre o local corria por todas as bocas e cidades na verdade. Cada um tinha uma história para contar sobre os Saramago, todos queria descobrir os segredos daquela importante família.

Lá estava ela em cima de um penhasco, uma silhueta majestosa contra o céu tingido pelas cores do crepúsculo, os pináculos das torres lembrando o formato de velas acesas, as muitas janelas de vidro refletindo os raios flamejantes do sol do fim de tarde. Era como se aquela casa tivesse sido construída para resistir aos ventos cortantes vindos do mar revolto, às tempestades assustadoras e aos intrusos não desejados.

Um lugar privado, que abrigava as paixões de seus moradores, os descendentes do Don Zein Rodolfo Saramago, conhecida figura do folclore espanhol, o capitão que sequestrara e violentara a jovem donzela que passeava tranquilamente pela areia branca da praia, há muitos e muitos anos atrás. Outros ainda contavam que na verdade, os dois partiram juntos para uma longa viagem de navio e voltaram dois anos depois, de modo que o bebê que a garota carregava no ventre pudesse nascer em solo sagrado pois o mesmo carregava o sangue amaldiçoado de um demônio em forma de humano. Por meios um tanto ilícitos, Don Saramago acabara tornando-se o proprietário da ilha e mandara construir a gigantesca mansão Saramago, como monumento ao amor que sentia pela jovem princesa cigana.

E fora naquela mansão tão cheio de mistérios e de lembranças que a jovem Alba Perez havia sido convidada a trabalhar. Um dia, sem que jamais pudesse esperar, ela fora chamada à sala de seu chefe, Olivier Alvarez, o editor responsável pelo lançamento do novo livro do famoso escritor de Romances Diogo Saramago, e recebera a proposta.

— O pobre Diogo está desolado, pobre rapaz!... — Dissera ele, com ar de tristeza. — Como todos sabem, sua mulher Carmem, de vinte e três anos, morreu afogada e ele ainda não se recuperou do choque... Pois bem, Diogo tem o costume de ditar seus livros a um gravador, que depois são devidamente digitados por uma Assistente Pessoal. Ele só trabalha dessa maneira e se recusa a mandar os audios para nossa editora, de modo que o serviço de digitação possa ser feito aqui.

Olivier Alvarez fizera uma pausa, estudara o rosto curioso de Alba por um instante e continuou.

— A última assistente de Diogo discutiu com a mãe dele e foi despedida no dia seguinte. E estamos precisando urgentemente de alguém que possa substituí-la na propriedade Saramago. Você acha que poderia fazer isso?

Ela levara um susto.

— Eu? Trabalhar na propriedade Saramago?

— Você mesma. A ideia lhe agrada senhorita Perez?

Alba balançara a cabeça, afirmativamente.

— Ótimo, excelente... — Continuara o editor. — Só Deus sabe onde o pobre Diogo está no momento. Desde que a mulher morreu, ele anda por esse mundo, tentando esquecê-la. Abandonou até o filho recém-nascido, que vive agora na propriedade Saramago, com a avó. Parece que até perdeu o interesse por seus livros também... Mas nós não perdemos, é claro. Tem mesmo certeza de que não se importa em morar na propriedade por algum tempo? Por sorte, ele havia deixado adiantado pelo menos dois ou mais obras.