Os dias foram passando e, como Alba continuasse a trabalhar normalmente, chegou à conclusão de que fora aceita pela eminência nobreza da casa e não seria despedida.
Graças a Deus por isso. Ela estava adorando seu trabalho na mansão, e ser mandada embora agora era a última coisa que queria. É claro que o emprego não era permanente, mas passar umas semanas à beira-mar valia qualquer sacrifício. Como era gostoso poder passear pela praia de manhã bem cedo, ouvindo apenas o ruído das ondas se quebrando na areia, e respirar o ar puro, sem a poluição da cidade grande...
O escritório de Diogo era uma sala à direita, no fim do corredor, com paredes altas e estantes repletas de livros, papéis e muitos manuscritos antigos também, ela descobriu que a antiga biblioteca dos Saramago havia acabado sendo incorporada ao escritório a pouco tempo. A mesa onde Alba trabalhava ficava perto da janela e, de vez em quando, ela levantava os olhos do laptop e tinha a nítida sensação de estar sendo observada. Não havia esquecido daquela história a respeito do fantasma que prima Coralina jurava ter visto e, às vezes, não podia deixar de sentir um certo receio de ficar sozinha.
Era estranho ouvir, no gravador, a voz de um homem completamente desconhecido. Diogo Saramago tinha uma maneira calma de falar e, se Alba fechasse os olhos, teria a impressão de que ele estava ali, ao seu lado. Não tinha a mínima ideia de seu rosto, já que seus livros não traziam sua fotografia. Diogo nunca aparecia em programas de televisão para divulgar seus livros, não dava entrevistas e era um mistério para seus leitores.
A verdade era que ele não precisava de promoção. Era um escritor fantástico e Alba já escrevera a Olivier Alvarez, informando-o de que não ficaria desapontado com o novo livro a ser lançado. A história era bonita e romântica. Era como se os sentimentos de Diogo por Carmem se tivessem infiltrado no enredo e adicionado impacto aos interlúdios da paixão. Um caso de amor triste, destinado ao fracasso, passado ali mesmo na região dos Saramago, uma das histórias mais dramáticas do autor, onde ele misturava ficção e realidade. Alba estava fascinada por poder trabalhar nesse livro.
Ela não costumava cruzar com a Condessa Saramago e sua filha pelos corredores, e isso não deixava de ser um grande alívio para ela. As duas mulheres eram muito estranhas, pois perdeu a conta de quantas vezes as pegou a observando de longe e Alba preferia fazer suas refeições com a babá Sara, com quem ao menos podia conversar mais informalmente. Somente uma vez jantara no salão nobre e passara o tempo todo se policiando, para não cometer nenhuma besteira.
Zandra estava hospedando alguns colegas de teatro na propriedade, mas o pessoal todo passava o dia inteiro fora, ensaiando a nova peça no Teatro da cidade Saramago.
Aos sábados, Alba ia à praia, onde nadava e tomava sol, tendo somente os pássaros como companhia. Era delicioso estender-se na areia e sentir o vento quente a bater-lhe no corpo, enquanto adquiria um lindo bronzeado em sua pele clara.
Ela havia escrito a sua mãe, dizendo que seu novo emprego estava dando certo e a casa onde morava era linda, no alto de um penhasco. Contara-lhe também sobre o pequeno Javier, o esperto bebê de olhos claros, que por infelicidade do destino teria de crescer sem sua mãe.
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Intenções Perigosas - Série Pecados Capitais - LIvro I
RomanceA Série Pecados Capitais, romances... Apesar de fazer parte de uma série, sua história é individual... Instigante, misteriosos obstinados e ambiciosos, realmente são os melhores no que fazem. INTENÇÕES PERIGOSAS - Série Pecados Capitais - Livro I Co...