Bento
Coloco o regador no chão, ao lado do banco e começo a andar na direção da garota. Eu realmente preciso saber que cena foi aquela que aconteceu
Ando mais rápido que o normal, mas não correndo. Em menos de cinco minutos eu a encontro
Sentada sobre os joelhos, Susanah chora. E não é pouco. Lágrimas é o que menos falta, e os soluços... Ela está embaixo de uma árvore. Me sento ao seu lado, distanciado
Ela não para seu choro
Eu fico em silêncio por uns cinco minutos, deixando ela chorar a vontade. Depois de uns cinco minutos, suas lágrimas, mais controladas fazem ela me olhar
- Desculpa - ela diz, secando o rosto com o braço - Isso não tem nada a ver com você. É só...- Não precisa explicar - interrompo - Só queria saber se você estava bem
Ela me olha, me encarando e sorri fraco
- Bem ninguém sempre está, não é mesmo? E principalmente agora que a minha roupa está molhada e a maquiagem acabada. Se eu passar na frente da minha diretora, e na minha maquiadora eu vou levar uma bronca - ela suspira - Deveria ter se controlado - ela diz, para si mesma
- Tem uma porta nos fundos. Perto dos banheiros. Se quiser eu posso te mostrar, porque até eu não quero esbarrar naquela mulher chata - um riso arrancado
- É, ela é insuportável - ela cruza os braços - Você pode me ajudar? Por favor, quer dizer se não estiver ocupado. É porque a minha necessaire tá lá naquele camarim improvisado, sabe? Só que eu não posso entrar lá assim, e Deus, eu vou ter que me maquiar sozinha?
Seus ombros se curvam ainda mais, mas eu coloco levemente a mão sobre seu braço
- Eu te ajudo. Fica tranquila, a gente dá um jeito
Ela sorri
- "A gente". Gostei. Você me conhece por te derrubar. Não sabe meu nome, e nem quem eu sou e, me ajuda sem eu pedir duas vezes - ela ajeita sua postura - Tá, ótimo. Temos menos de quinze minutos. É agora ou Márcia
- Agora - respondo imediatamente
Nos levantamos, e andamos por onde digo que é
- Susanah - ela diz, ao meio dos passos ligeiros -, meu nome
Viro a cabeça para olha-la
- Eu sei - comento - Bento
Ela assente
A porta que disse, praticamente fez com que a gente caísse mas, entramos
- Plano é o seguinte. Você entra no camarim, e logo você vai ver uma mochila verde, laranja, amarela e rosa neon. Você pega ela, discretamente, enquanto eu vou estar no banheiro, do lado da porta - assinto, tentando lembrar desse plano maluco - Tente ser rápido
Seguimos por caminhos diferentes. O camarim fica num lugar super improvisado. Entro sem bater na porta, e bem lentamente
Duas pessoas: a tal diretora e uma moça qualquer. Elas falam tão alto que não notam minha presença. E, sim, a mochila foi a primeira coisa que eu vi na sala
Prendendo a respiração eu vou em direção ao prego que ela está pendurada. Esticando meu braço eu consigo tira-la
A moça se vira, e então eu fico parado ao lado da porta. Ela se vira novamente e, como um caranguejo eu saio andando de lado
Vou em direção ao banheiro e, quando dou a primeira batida ela se abre
- Obrigada, obrigada e obrigada - ela, Susanah diz, ao pegar na bolsa - Amanhã podemos nos ver?
- Claro - respondo - Tchau
- Tchau
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WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSO
Teen FictionSusanah Andrade, uma jovem e sonhadora aspirante à atriz, foi contratada para um ótimo papel no novo projeto da comunidade teatral aonde trabalha. Encenando no hospital contra o câncer, Francisco de Braga, Rio de janeiro, ela atua como uma dos pacie...