Susanah
- Cemitério uma hora dessa, senhora? - o motorista pergunta, ligando o carro
Sei, também ficaria com medo de mim mesma, mas acordar de pesadelos frequentes não é fácil. Assinto, colocando o cinto
Abro minha mochila, na tentativa de me fazer distrair
Brigadeiros. A companhia de teatro deu para os participantes. Que dejá vu
São três, eu ia dividir com o Juan e a Esther, mas acabei esquecendo. Abro a caixinha, pego um e dou uma mordida cheia de lembranças, o doce invadindo minhas veias, me fazendo o comer por completo
A chuva cai sob o vidro, me fazendo arrepiar, enquanto o carro corre em alta velocidade numa pista vazia
Minha perna tremendo e o gosto de brigadeiro me faz delirar. O que estou fazendo aqui? Era para ter deixado o Bento me prender
Fecho os olhos, pensando em meus atos
Bento
Estou assistindo um jogo de futebol ao lado do Matias. Mamãe não sabe disso
- Cara... - o Matis diz, "silêncio" repreendo o mesmo - Tá bom, senhor de setenta anos que não fala palavrão
- Puta que pariu - digo, quando a bola bate da trave. Ele me dá um cotovelada, me repreendo
E isso só foi o começo da onda de xingamentos, não só por minha parte como a do meu irmão
E não adiantou já que de qualquer forma o time perdeu, fazendo o Matias xingar todos, até mesmo eu por mandar fazer silêncio para não acordar nossa mãe
Me levantando desligo a tv, não achei que seria uma má ideia
- É só um jogo - retruco
- É porque o perdedor não é seu marido! - "oi?" - O quê? Eu trocaria facilmente o Kauã pelo aquele jogador - assinto, segurando o riso
- É melhor irmos dormir - digo, indo em direção a escada - Bo... - paro num movimento brusco na escada, uma tontura repentina
- Tá tudo bem? - meu irmão pergunta, indo me amparar - Pelo o amor de Deus, não desmaia agora, nossa mãe vai descobrir da nossa torcida de madrugada
Assinto
- Eu tô bem - digo
Mesmo dizendo isso ele me leva até o quarto e verifica se tudo realmente está bem
O único porém é que eu não estou conseguindo dormir
Susanah
Meu corpo balança na alta velocidade. Meus lábios secos só serve para minha língua passar pelos os mesmos
Eu só posso ser muita burra mesmo
O carro desliza pela estrada molhada em alta velocidade, me fazendo segurar na porta
Meus ouvidos são tomados por uma buzinada alta, um cruzamento, sem sinalização. Um caminhão vem em minha direção em alta velocidade
Sentindo os veículos se chocarem fecho os olhos, a única coisa que escuto é o meu próprio grito no dia do acidente e minha visão é tomada pelo corpo de minha mãe voando pelo o vidro quebrado
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WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSO
Teen FictionSusanah Andrade, uma jovem e sonhadora aspirante à atriz, foi contratada para um ótimo papel no novo projeto da comunidade teatral aonde trabalha. Encenando no hospital contra o câncer, Francisco de Braga, Rio de janeiro, ela atua como uma dos pacie...