WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSO

Capítulo 23

Susanah

     Bom

     Estamos umas meia hora do hospital e, algumas horas da minha casa

   Escolheram o pior lugar para se gravar: no meio do nada. Literalmente. Não tem nada aqui a não ser insetos que conseguem atravessar o repelente e, árvores

    Eles querem fazer flashbacks da "vida antes do câncer" da minha personagem. Por isso estou com uma peruca mais falsa que o sorriso da Márcia, e com uma roupa que não seja branca!

    Agora eu estou comendo meu almoço, antes de ir para o hospital. O Gabriel, o par da minha personagem está ao meu lado e, ele não para de falar coisas nada a ver. O que está dando um pouco certo, já que eu não aguento mais a Márcia

- Você não deveria reclamar tanto assim, nós deveríamos agradecer que ela só é diretora não presidente - ele diz, dando uma garfada na sua comida - Imagina: vote 54, ela tem 54? Ela tem cara de 54. Ok. Vote 54, se não vou gritar no seu ouvido até o seu tímpano estourar e depois, abrir um sorriso de palhaço assassino

     Eu gargalhei alto

- É capaz dela espantar bandidos. Ela deveria ser uma policial - e eu ainda estou rindo, segurando o pote da minha comida com força

- Do que vocês estão rindo? - a nossa querida diretora aparece ao meu lado

     Me engasgo com o meu riso, mas tenho tempo suficiente para me controlar

- Política - responde o Gabriel de imediato - Estamos ano de eleição, não é mesmo? É muito importante pensar em pessoas que seriam ótimos candidatos

- Tipo quem? - ela pergunta e, eu fico vermelha

- Tipo... O Gabriel. Ele seria um ótimo candidato - digo, apertando o pote com mais força para não ri

     Ela olha de mim para ele, e faz uma careta

- Discordo - e sai de perto

      E eu não me controlo e rio de novo

    •≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠•

     Estou amarrando o meu cadarço, enquanto estou no corredor do quarto do Bento

     Me levanto e, ando um quinze ou vinte passos. Estou pronta para bater na porta quando, uma mulher de cabelo ruivo -claramente pintado- sai do quarto

- Quem é você? - pergunta a mesma

- Sou a atriz do teatro - digo, e percebo pela a bandeja de remédios nas suas mãos e, pelo o seu jaleco branco que ela é uma enfermeira - O Bento está acordado?

   Ela semiserra os olhos, e apoia a bandeja na sua barriga

- Ele acabou de tomar alguns medicamentos, possivelmente ele vai dormir daqui a pouco - ela me responde - Ah, vem comigo, o Matias falou comigo de você

   Ela começa a andar, e eu, sem entender nada começo seguir ela pelo o longo corredor

    A moça para numa farmácia pequena, aonde se encontra alguns medicamentos e coisas simples. Tipo, máscaras, luvas, álcool...

- Você precisa usar uma máscara, querida - diz ela me entregando uma - Use-a quando estiver perto dele, quer dizer, quando sair do quarto dele jogue esta fora e, se você for ter mais contato arrume outra

   Eu coloco no meu rosto, tendo uma leve diferença no ar mas, nada sufocante demais

- Tchau - diz a moça, acenando

   Eu volto para a frente do quarto e, dessa vez eu consigo bater na porta

- Entra - escuto e abro a porta levemente

- Oi - digo, abrindo a porta - Posso entrar?

    Ele assente da cama

- Quem te deu essa máscara? - pergunta

- Uma mulher que saiu do seu quarto - respondo, cruzando as mãos na frente do corpo

- Joana - diz ele, baixo - Ela é a minha enfermeira, é legal mas puxa no pé. Não precisava

    Dou de ombros, me encostando na parede

- Não custa nada mesmo, pelo menos vou poder ver mais o seu rosto - digo, e então deslizo para o chão me sentando - E então, tem alguma novidade?

- Nenhuma - diz ele, se virando para me olhar melhor - Bom, eu acho que eu já posso fazer algumas perguntas, né?

    Ergo uma das sobrancelhas

- Depende da pergunta - respondo

- Vou perguntar logo, antes que o efeito dos medicamentos sejam mais fortes - ele se endireita na cama, ficando mais reto - Seu tipo musical?

- Meu tipo musical? - pronto, essa me pegou. Eu imaginava tudo, mas, ok, às vezes o tipo musical da pessoa a define - Não tenho um ao certo. Gosto um pouco de tudo, sabe? Depende mais do dia, do clima, do meu humor

    Ele assente, então junta as pontas dos dedos das mãos

- Tipo filme - ele diz

- Tudo depende do meu dia, mas, eu gosto mais de romance e que tenha final feliz. Não gosto de coisas dramáticas

    Ele assente novamente

- Entendo, mas, eu gosto de sofrer um pouco. E, chorar - ele comenta - Sei lá. Você tem algum assunto? Perguntas?

    Fecho um olho, pensativa

- Acho que não. A não ser que eu queria saber mais sobre como é ter um irmão gêmeo - digo, apoiando minha cabeça nas minhas mãos

      Eu sempre quis saber. Eu acho gêmeo uma coisa impressionante. Tipo, como tem pessoas que são idênticas a outra? A cópia?

- Legal - ele diz, e então os seus olhos brilham - O Matias é o meu melhor amigo, dês que eu nasci, literalmente. Um fingir ser o outro, brigar pelo último tablet de chocolate, pegar uma régua pra dividir comida... Coisas fraternais - ele sorri - Você não tem irmãos?

     Balanço a minha cabeça, negando

- Não, não deu muito tempo para meus pais terem outros filhos - digo, meio triste

- Ah - diz Bento - Eles são separados? - pergunta

- Não e sim - digo, e então olho para ele e digo uma coisa que eu não sei o porquê que eu disse - Minha mãe morreu

     Pronto. Aqui estou eu, me abrindo para o garoto que eu conheci a alguns dias. Foi exatamente assim com a Esther, eu contei em menos de dois dias

      Normalmente eu tenho um detector aonde eu me abro com pessoas na qual eu sei que podem durar para o resto da minha vida. Bom, até agora foram menos de cinco pessoas

- Eu sinto muito - diz o Bento - E...

- Acidente de carro - respondo antes dele perguntar - É, é isso. Vou mudar de assunto agora porque eu não quero chorar de novo

- Claro - ele diz, bocejando

    Conversamos um pouco, antes dele está lutando contra o sono. Me despedi e, infelizmente dessa vez eu fui de ônibus. Cheguei em casa, tomei um banho, comi e só me joguei na cama, absorvendo a informação que eu contei para o Bento do meu maior trauma. Metade do trauma