Capítulo 25

11 2 1
                                    

Bento

   Estou rindo das maluquices do Matias mesmo com um tubo enfiado na minha veia

- Eu poderia estar dormindo - digo, sentindo a quimioterapia passar por mim - Qualquer coisa que não seria ficar vendo você plantar bandeira

   Ele sai da posição, quase caindo mas sai

- Pelo menos eu te fiz rir - ele diz, se ajoelhando ao lado da minha cama - E aí? A sua namorada vem hoje?

    Reviro os olhos

- A Susanah não é minha namorada - digo calmamente

- Ok - ele diz, e então apoia os cotovelos nos joelhos - Quando você estiver falando que vai casar com ela e, que eu serei o padrinho, eu vou dizer que eu avisei

     •≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠•

- Eu tinha treze anos - ela começa a dizer

   Eu e a Susanah estamos no tronco aonde aconteceu quando ela saiu chorando

   Bom, eu não entendo muito bem o que é o que passa nas nossas conversas. Começamos com perguntas aleatórias, conversas aleatórias, que viram conversas sérias

    Estávamos falando sobre Titanic quando ela e eu decidimos vir aqui quando teve uma pausa de quinze minutos entre uma cena e outra. Perguntamos o que ela achava sobre o filme e ela disse que:"o Jack cabia naquela porta", começamos a debater sobre a morte dele quando do nada nós começamos num assunto mais sério

    "O que a morte significa pra você?" Foi a pergunta dela. Não sei se é só eu que consigo sentir que temos intimidade de dês que nascemos mesmo que nós só nos conhecemos há alguns dias. Consegui responder: "A morte dês de alguns meses é um destino próximo, não tenho medo dela, mas tenho medo do que ela pode causar". Isso causou outra conversa longa em menos de quinze minutos. Nós fizemos par ou ímpar para quem ia começar a contar a sua história primeiro, ela ganhou escolhendo par

     Olhei no relógio que eu coloquei no meu pulso por sei lá qual motivo já que eu não gosto de coisas que ficam sobre minha pele. Falta sete minutos

-... Quando eu fui arrancada da cama de meia noite - ela continua, estamos próximos que nossos ombros se batem -, minha mãe tinha uma coisa que se chamava: quando eu discutir com seu pai eu vou te tirar da cama e te levar num mercado. Isso acontecia quase todo dia - ela encolhe as pernas - Nós íamos no mercado, comprávamos alguma besteira ou ingredientes para fazer brigadeiro e ia pra casa da vovó

   Ela cruza mãos e crava as unhas postiças na mão

- Na última noite que aconteceu isso, eles brigaram de novo e, como disse ela me tirou da cama e me levou no mercado. Nós compramos ingredientes pra fazer brigadeiro e, ela me disse que iríamos para a casa da vovó - ela suspira - Bom, no caminho, começou a chover e um carro não sei da onde apareceu num meio da estrada de barro e cheia de buracos. Minha mãe tentou ultrapassar mas o que nem ela e eu imaginávamos que teria um caminhão na contra mão nessa rua estreita. Foi isso, ela não conseguiu frear e o caminhão atingiu o carro... É isso

   Lágrimas botaram nos olhos mas a mesma seca rapidamente

   Três minutos

- Bom acho que tenho que ir - Susanah diz, olhando para o meu relógio

- E sobre a minha parte da história? - pergunto, me levantando e depois estendendo a mão para mesma se levantar

- Tenho só mais duas cenas pra terminar - ela diz, segurando na minha mão - Não desabafei sozinha, quando terminar eu vou no seu quarto

    •≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠≠•

    Depois de uma hora ou mais, com  Amor e Gelato, da Jenna Evans na mão eu atendo a porta

- Bom dia - digo ao abrir

- São quase seis horas da noite - Susanah retruca, entrando no quarto

- Releve - digo, me sentando na cama e marcando o livro com um lápis, depois eu continuo a reler
   
   Ela se senta no chão. Quem se importa com máscaras? Não vou me levantar

- Quer que eu já vá para o início logo ou vamos começar com nossas perguntas aleatórias? - pergunto

- Perguntas aleatórias - ela responde - Quer dizer, perguntas aleatórias aonde é sobre você. Você já me contou sobre seu pai, sobre o porquê o câncer está na sua vida mas não como você se sente. Então, como você se sente?

    Como eu me sinto? Bem, mistura de emoções

- Medroso - respondo e, então ajeito minha coluna - O câncer apareceu no melhor momento da minha vida, eu ia conseguir a vaga para professor aonde eu tanto queria

- Você é formado em algo? - ela me interrompe e, quando percebe coloca a mão sob a boca - Desculpa

   Solto um sorriso rápido e dou de ombros

- Não, mas tenho certificado de natação e mergulho. Conseguiria dar aulas porém, a leucemia chegou como uma bomba...

- Faz quanto tempo que você descobriu? - ela pergunta, me interrompendo, de novo

- Alguns meses atrás - respondo, conseguindo me lembrar quando saiu o diagnóstico e, o peso no papel do diagnóstico nas minhas mãos - Tô na fila de transplante de medula dês que descobri. Achávamos que o meu tipo sanguíneo era o mesmo que o do Matias mas ele fez exame e não, meio que agora só é esperar

    Ela sorri em solidariedade, apoia o cotovelo no joelho e a cabeça na mão

- É. Como podemos ver: nós dois temos vidas difíceis

- Agora só saber como lidar com elas - completo

WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSOOnde histórias criam vida. Descubra agora