Bento
Encarando a câmera, espero que a máscara esconda pelo menos um pouco do meu desconforto
Não sou tão chegado a câmeras, prefiro ficar em lugares mais quietos, com livros e pessoas, não câmeras. Digo, pessoas que me fazem me sentir bem
- Você tem que contar a sua história - a diretora diz, e, por sinal, a voz dela é um pouco -bastante- irritante - Tipo, quando você descobriu a doença, idade, nome... Essas coisas
"Essas coisas". Não fui com a cara dessa mulher
Assinto, e acomodo as minhas costas na cadeira de plástico
- Bom - começo - Tenho dezenove anos e descubri a leucemia faz pouco tempo, mas até que ando reagindo bem a quimio - o que eu digo mais? - Bento, meu nome
Lembro que as pessoas na minha frente falaram o que gostam, descobri até que uma garota ama construções de madeira e um garoto que gosta de agulhas
- Amo livros, e carimbá-los está sendo um novo hobby. Mesmo com o câncer, eu ainda gosto de maratonar canais culinários
Deus. Isso já tá bom?
- E acho que isso é só - digo, fingindo querer ficar duas horas contando "a sua história". Acho que não
Aquela diretora começou a falar que o tempo não foi suficiente e blá blá blá. Minha atenção estava na garota que me derrubouSua pele morena parece que foi pintada por um artista e, meu Pai, como ela consegue ficar linda de cabelo raspado e eu feio?
Ela parece estar bem concentrada no que está fazendo. O que parece bom, espero
- Você está prestando atenção no que eu tô falando? - Essa tal diretora diz ou melhor quase grita e, é eu não estava prestando atenção. E mesmo que aquela garota não estivesse fazendo uma cena do outro lado da sala eu também não estaria prestando atenção
Pisco algumas vezes antes de responder
- Eu estava - minto - E não, eu não quero continuar, eu já falei tudo o que precisava
Eu não estou mentindo, estou? Eu disse o que todo mundo disse, só não disse tão detalhadamente. E eu não consigo me sentir bem com tantos equipamentos de filmagens perto de mim, simples
- Já acabou, certo? - Matias diz, meu gêmeo
Vejo que a diretora quer mandar a gente para aquele lugar mas se segura, e eu me seguro para não soltar algum risinho
Ela assente e eu me levanto. Eu e Matias um do lado do outro andando
Nossa mãe aparece na nossa frente, do nada
- Poderia ter dito mais - ela diz, ajeitando a manga da minha camisa
- "Poderia ter dito mais"... Profundo, bem profundo - meu irmão diz
Solto um riso fraco. Que besta
- Acho que foi o suficiente - digo, tocando no ombro da minha mãe - Agora posso voltar? Daqui a pouco a Joana vai trazer aquele bando de drogas e eu vou apagar
Minha mãe assente, e aperta o meu braço- Amanhã eu volto, mas agora eu preciso ir também, se eu for contar o que eu passo naquele trabalho você me chamaria para tomar essas "drogas" que deixam você apagar
- Não queira - aviso. Me viro para o meu irmão - E você, vai ficar comigo ou vai embora
- Te abandonarei. Mas, antes, aquela garota que derrubou você é bem bonita
Assinto
- Concordo, mas nem a conheço, então não tem nada a ver
Ele revira os olhos, o que me faz soltar um riso sem sentido
Me despeço deles e sigo pela a escada
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WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSO
Novela JuvenilSusanah Andrade, uma jovem e sonhadora aspirante à atriz, foi contratada para um ótimo papel no novo projeto da comunidade teatral aonde trabalha. Encenando no hospital contra o câncer, Francisco de Braga, Rio de janeiro, ela atua como uma dos pacie...