Capítulo 38

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Bento
Meses depois

     Estou deitado na minha cama, no meu quarto, no meu quarto não do hospital

    Isso não adiantou muita coisa já que, continuo indo no hospital com muita frequência, mas estou em casa!

     Faz mais ou menos uns noventa e poucos dias que o transplante aconteceu. Estou em casa depois de umas duas semanas no hospital. Uma sonda para repor meus nutrientes que a quimioterapia tirou de mim e para meu peso aumentar, é um saco, confesso, mas me ajuda bastante 

     Medicamentos, máscaras, mãos limpas, exames... continuam na minha vida. Mas, vou me livrar disso logo, logo 

   Daqui a mais ou menos sei lá quantos meses, poderei voltar aos poucos a minha rotina de antes. Voltar nadar, trabalhar e me sentir livre das durezas da vida. O que é incrível, muito incrível! 

   Agora, porém, estava uma ligação com a Susa... minha namorada, conversando sobre a vida de atriz que ela está tentando para outro papel, já que a primeira temporada da série acabou. Ela diz que está contente de não ter que ver a cara da diretora maravilhosa dela, mas que também sente saudades. Hoje, nesse ótimo dia chuvoso ela saiu para fazer uma audição para uma peça de teatro -quem disse para ela que teria? A Márcia, eu sei, também fiquei chocado-, e ela está no teatro, tendo um infarto e suada por ter ido andando, eu estava segurando o riso tentando acalmá-la

   Enquanto eu estou, agora me levantando para tomar um dos meus antibióticos 

- Boa tarde! - meu irmão entra no momento que o despertador do seu telefone toca - Seu medicamento 

- Eu não sou uma criança, enfermeira - digo, me sentando de novo 

- Mas, alguém precisa cuidar de você - ele diz, chegando perto de mim

     Ele vai até minha mesa de cabeceiro, coloca álcool em gel e abre a gaveta cheia de drogas do bem e pega um xarope, balançando o mesmo e colocando num copinho medidor 

- Esse é quantos ml mesmo? - ele me pergunta e eu balanço a cabeça, indicando que não sei 

- Quem me dá os remédios é você - retruco - Você não é o enfermeiro? Ande, não pode passar do horário

      O Matias mora aqui, minha mãe trabalha e ele trabalha também, mas só de noite. Eles, por vontade deles -principalmente do Matias- disseram que alguém tinha que estar aqui para me olhar, o que eu nego, mas me diz quando eu tenho opinião? Então, eu não tenho. O Matias fica aqui na parte do dia e como vocês viram, ele faz isso em tudo em que o médico passou para mim, tudo

    Ele está olhando no papel em que anotou todas as descrições dos remédios, colocando sei lá, 7,5 ml? Deve ser 

- Toma - ele me entrega o medidor e como de costume eu bebo. Todos são horríveis, mas esse bate o recorde

     Faço uma careta, tentando não me fazer vomitar  

     O Matias coloca a mão no meu ombro levemente 

- Daqui a pouco eu pego água pra você, maninho - assinto, desistindo deles pararem de me tratar como criança 

        Ele se senta ao pé da minha cama 

- Como vai o namoro? - ele me pergunta

- Normal - digo examinando-o - Você pergunta isso todo o dia, né? O quê? Tá gostando da minha namorada? - pergunto, claramente de brincadeira - Olha, desculpa, mas ela tá comprometida

     Ele fica vermelho, mesmo de máscara
  
     O Matias vem perguntando sobre meu namoro faz um tempo considerável. O que eu estou começando a estranhar

WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSOOnde histórias criam vida. Descubra agora