Capítulo 35

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Susanah

      Sinto um arrepio passar quando ele coloca sua mão na minha cintura. Um beijo lento e muito carinhoso

- É, você estava com muita vontade - digo, me separando, um sorriso enorme nos meus lábios e minhas mãos estão no seus ombros levemente

- Eu disse - ele confirma, acariciando a minha bochecha com as costas da mão -, infelizmente durou pouco 

     Dito e feito. A porta é aberta, pela a Joana. Subo minha máscara rapidamente, me afastando do Bento e ele encosta as costas na cama, fingindo inocência

    Ela entra, nos examinando com o olhar e revirando os olhos em seguida 

- Anos de enfermagem e vida - ela franze o cenho - Quer dizer: poucos anos de enfermagem, mas continuo sendo um pouco mais velha que vocês dois

    Vou para o lado da porta, se alguém abrir vou levar uma pancada. Que maravilha. Enquanto isso o Bento coloca a caixa no chão, vermelho  

- Querida - ela se vira para mim. Graças aos céus estou de máscara senão veriam minhas bochechas coradas -, uma garota está na recepção perguntando por você 

- Quem? - pergunto. Claro que ela deve saber, Susanah 

- Não sei, somente que é... sua melhor amiga? Uma coisa assim - assinto. Por que a Esther veio parar aqui?

- Vou lá então - digo, girando a maçaneta de costas para a porta, me virando em seguida para sair no corredor vazio 

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- Oquevocêestáfazendoaqui? - pergunto tão rápido que nem entendo o que disse quando chego perto suficiente da minha melhor amiga

- Você não tem telefone? - Esther pergunta, aparentemente um pouco nervosa - Eu te mandei umas quinhentas mensagens e te liguei pelo o menos cinquenta vezes 

- Eu falei que quando chegasse em casa eu te falaria tudo - digo com a voz grave, mas baixa

- Disse que iria me falar, mas não que iria sumir! - ela suspira - Agora quero saber o porquê desapareceu
  
    Reviro os olhos. Por que ela precisa ser assim?

- Você vai voltar pro trabalho? - pergunto, a puxando pelo o pulso 

- Acho que não - ela diz, confiante e deprimida ao mesmo tempo - Tá que eu tenho que tirar algumas folgas por ter trabalhado em feriado... então tá de boa

     Assinto, me sentando na mesma mesa que o Matias me levou 

- Ainda acho burrice você ter vindo - falo

- Primeiro você vem para cá mais cedo, depois disse que quando chegasse em casa me contaria e sumiu. O que você pensaria se estivesse no meu lugar?

- Que uma coisa muito séria aconteceu - respondo, apoiando os cotovelos na mesa redonda 

- Exato! - ela diz, fazendo um coque bagunçado em seu cabelo longo - Suse, eu tinha até imaginado aquela sua diretora te batendo. O que não seria nada mau já que poderíamos ganhar um processo, só que me lembrei que não temos dinheiro para um advogado, o que me preocupou ainda mais - eu rio, mas então ela me lança um olhar mortal e paro na hora - Falei que sairia mais cedo, pedi o endereço pro Juan e vim de Uber 

      Assinto. Como alguém pode ser tão paranoica? 

- Não aconteceu nada comigo, quer dizer... não diretamente comigo - digo, encostando minhas costas na cadeira - Não precisava ter vindo aqui por essa causa 

- Se você tivesse morrido eu pelo ia reconhecer seu corpo, ingrata - ela revira os olhos e eu faço um coração com as mãos - Agora me conta agora o que você veio fazer aqui 

      Começo uma longa conversa, quando eu recebi as ligações até o beijo lá em cima 

- Tadinho - ela diz, apoiando a cabeça nas mãos - Ele vai ficar bem?   

- Vai - respondo - Eu não te contei que tudo vai dar certo?

     Ela nega com a cabeça, mas antes de eu começar a explicar ela fala:

- Não tô perguntando sobre a doença e, sim por ter beijado essa sua boca 

- O Juan nunca reclamou de ter beijado essa boca de bafo - retruco, dando de ombros 

- Você está descrevendo a sua boca, né? - ela rebate 

        Menos de vinte minutos estávamos em outra discordância: ela quer que quer ver o Bento mesmo eu negando todas as tentativas

- Você mesma disse que ele não está melhor? 

- Mas agora ele pode não estar, Esther - digo, então aliso seu braço - Prometo falar que você existe e que vou contar que você queria vê-lo - "mas..." - Acabou - dou um beijo na sua bochecha e vou para o elevador 

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- Eu não me importaria - o Bento diz quando conto a história maravilhosa da minha melhor amiga querer conhecer ele 

- Mas sua enfermeira sim - digo me sentando na cadeira - Que por sinal, ela falou alguma coisa? - pergunto, apontando para mim seguindo para ele - Ela parece ter notado alguma coisa 

    Ele dá de ombros passando as mãos pelas páginas de um dos livros que eu dei a ele

- É claro que notou - ele diz, cheirando as páginas dos livros 

- E você não liga? - pergunto 

     Ele se vira para mim e nega com a cabeça

-  Um pouco na verdade, porém tenho muitas coisas na qual já estou ligando até demais - ele suspira - Preciso agora arrumar essa estante, ler, ir regar aquela roseira porque eu tô com leve receio que aquele jardineiro não regou, mas não dá pra fazer nem um terço porque eu estou no soro 

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      Fiquei seguindo suas instruções para arrumar a estante. Minha coluna está doendo. Limpar livro por livro cansa pra caramba. Tentei dizer que não era preciso, mas ele disse que tem que fazer isso sempre

    Não deveria ter me oferecido 

    Esse nem é o pior: depois de ter arrumado tudo, ajeitado o travesseiro na cabeça dele ao perceber que tinha dormido de novo, eu ainda vou regar a roseira. O mesmo disse que não precisava, disse que mandaria alguém regar por ele, mas fiquei com pé firme 

    Me arrependi ao olhar para as rosas inocentes 

    Minhas mãos seguram firme o regador cheio ao incliná-lo para a terra seca tenho visão maravilhosa da beleza delas. Gatilho 

    Branco pelo o menos representa a paz, né? Espero ao menos que todas às vezes que levei e levarei rosas brancas ao túmulo de minha mãe diga que ela está num lugar de paz, onde o branco sempre será presente 

     Me sento ao lado delas depois de ter derrubado água em mim. Estou com fome e minha roupa está molhada agora

     Pelo o menos o silêncio é presente, o que faz minha cabeça enlouquecer. Quando estou perto das rosas elas me lembram minha mãe, o que o silêncio lembra que ela não está aqui

     E que o silêncio agora é a sua última palavra 

WHITE ROSE GARDENS · HELOISA CARDOSOOnde histórias criam vida. Descubra agora