"Essa é minha última carta de amor", eu disse isso da última vez. E se a esse ponto você me conhece bem, você sabe muito bem que era mentira, eu sempre minto - por mim e por nós dois.
Eu prometi pra mim mesma, por tudo o que o sol toca e por tudo aquilo que ao luar se esconde, pelo que é intrínseco em mim e pela pouca dignidade que ainda me resta que eu não voltaria aqui nunca mais. A essas terras confusas e labirínticas que me entorpecem e me tiram o sono, que fazem o meu coração bater mais rápido e o meu cérebro pensar mais devagar.
"Eu nunca mais volto aqui", eu disse isso da última vez. A essas terras estranhas, de colinas, picos e vales cheios de novas emoções, de borboletas que batem sutilmente suas asas ao redor do meu estômago, do arrepio na nuca que eu sinto involuntariamente quando eu te vejo chegar, do "eu te amo" que eu seguro no fundo da minha garganta e dos meus pensamentos pra não assustar você. Pra você não ir embora, pra continuar aqui.
Aqui, nesse meio do céu onde nós nos amamos tanto sem sequer saber o que é amar, onde tudo é novo mesmo sendo tão, tão trivial. Onde nada é errado e justamente por isso eu me vejo sem saber o que fazer, como fazer, o que dizer pra você entender que você não é só mais um.
Nesse meio de céu onde voar mais alto é tornar a queda maior e os medos mais intensos, mas caminhar pela superfície é tão igual a todas as outras coisas que não parece valer a pena continuar. Nesse meio de céu, onde eu posso te amar sem te dizer, onde você pode me ter sem precisar pedir, onde tudo ainda é novo e eu sei que nada vai me fazer temer aqui.
Onde eu posso voar, caminhar pelas colinas, planar entre as nuvens, ir e vir sem temer. É nesse meio de céu que nos ensinamos a libertar. Que nos ensinamos como é viver entre nós dois.
Mas e se um dia eu quiser voar mais alto? E se um dia meus pés já não quiserem mais tocar o chão? Se um dia eu achar que devo, que podemos, você voaria comigo?
Seguraria a minha mão e iria além? Se permitiria chegar onde jamais fomos, acima das nuvens, tocar as estrelas e dançar com a lua, sentir o que você jamais sentiu com outro alguém?
Ou será que é nesse meio de céu que você quer morar?
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O Amor de Um Escritor
PuisiApesar da solidão que me assola e da descomunal amargura que cresce dentre meus ossos, falar de amor ainda é algo que faço com maestria. Não como romancistas lunáticos e os jovens que acabaram de se encontrar com o doce gosto da paixão. Não, é claro...