o que era mesmo?

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por muito tempo,
mais do que se conta – como inúmeras voltas de um relógio para trás – eu quis.

quis tanto, mas tanto, como nunca antes quis algo pra mim;

e pedi, pedi por tantas vezes até que me faltasse o ar, que se acabassem as lágrimas, que nenhuma palavra coubesse dentro da minha súplica tão, tão ínfima.

e por querer e não receber, me acostumei a não ter mais,
a não esperar mais,
a não contar os dias, as horas, as noites em claro sozinha e largada no escuro;

a não sonhar mais,
ser tão pequena ao ponto de caber na palma da sua mão,
para que assim brincasse como se brincam com bonecas, e fizesse o que tanto quisesse

pois já não importava mais,
era minúsculo, exíguo, insignificante.

e aí, só aí, eu o recebi
mas por quê?
pra quê?
o que eu faço com isso agora?

já não me serve mais.

você é um perito, é o melhor
diz palavras vazias, insignificantes mas com o poder de me fazer ficar,
me destrói por inteira só para montar de novo – e destruir outra vez, e de novo, e de novo –, inventa mentiras doces para que a sua boca não amargue

e cria sonhos dos quais você sabe que não vão se realizar,
nunca vão.
você é um perito, o melhor

em destruir os sonhos que você mesmo idealizou,
não só os meus,
mas os seus.

todas as suas escolhas caminham por trilhas destrutivas e tudo o que você toca por aqui se desfaz.

por muito tempo,
mais do que se conta – como inúmeras voltas de um relógio para trás – eu quis;

mas já não quero mais.
(o que era mesmo?)

O Amor de Um EscritorOnde histórias criam vida. Descubra agora