Sollaria Hopper nunca foi uma garota fácil de lidar, talvez por causa da sua complicada família, uma mãe que abandonou ela, um pai agressivo, uma irmã que odeia brigas e um irmão problemático, o qual era bem parecido com ela. Mas fora isso, ela tent...
Chapter Four - Stay With Me "Apenas volte para casa, por favor..." Sollaria's point of view
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A noite caiu sobre a casa, a delegacia tinha sido um pesadelo burocrático e gelado, um turbilhão de perguntas sem respostas, de olhares de pena que me queimavam mais que o desprezo do meu pai. Agora, em casa, o silêncio era uma entidade viva, um monstro que se alimentava de cada som que não era o de Vance chegando.
Kayla estava no quarto dela, a porta fechada, eu sabia que ela não dormia, porque eu ainda ouvia o abafado som de sua respiração entrecortada através da madeira, enquanto meu pai... bem, ele estava na sala, encarando a garrafa de uísque como se ela pudesse dar todas as respostas, o cheiro doce e podre da bebida impregnava o ar, uma âncora fedorenta na nossa realidade.
Eu estava no meu quarto, sentada no chão, encostada na cama, encarando a porta vazia, a luz da rua entrava pela janela, projetando as sombras dos galhos da árvore na parede que se contorciam como dedos ossudos, apontando para mim. Acusando.
A culpa não era mais uma emoção; era uma condição física, um peso de chumbo no meu peito que tornava cada respiração uma vitória, um frio interno que nenhum cobertor podia aquecer. Minhas mãos não paravam de tremer, e eu as observei, sob a luz fantasmagórica, e vi as mãos que seguraram o baralho de tarô, as mãos que empurraram Vance para longe com minha teimosia de não acreditar nos pesadelos, as mãos que não se agarraram a ele quando tive a chance.
"Nada vai me acontecer."
A voz dele, tão confiante, tão Vance, ecoou na caverna da minha mente, e então a imagem do pesadelo: os socos contra a parede. A raiva impotente. A jaula.
Meu estômago se contraiu, e eu me levantei, cambaleando até a janela, precisando de ar, mas o ar lá fora era o mesmo, pesado e sem esperança, lá embaixo, a calçada estava vazia, sem nenhum sinal dele. Sempre havia a chance, um fio de esperança insano, de que ele aparecesse, com as mãos nos bolsos, resmungando sobre como tinha se perdido, mas a rua permaneceu deserta
Minha mão voou ao pescoço, procurando o pingente de sol, mas o metal estava frio, morto, não guardava mais o calor do cinema, do sorriso do Finn, da promessa de um futuro normal, agora era apenas um objeto, um lembrete de que eu estava rindo, vivendo, enquanto meu irmão...
Um soluço escapou da minha garganta, um som feio e quebrado, e eu o engoli, mas veio outro. E outro. Então afundei no chão novamente, encolhendo-me no canto mais escuro do quarto, onde as sombras podiam me engolir, enterrando o rosto nos joelhos, mas as lágrimas não vinham mais. Tinham secado, deixando para trás uma dor seca e abrasadora, em vez disso, veio um zumbido, um ruído de estática branca enchendo minha cabeça, abafando o mundo exterior, mas era melhor que o silêncio, porque o silêncio me deixava ouvir o eco dos meus próprios erros.
Fechei os olhos e fui forçada a assistir, em um loop torturante, a fita de cada escolha errada.
Teria sido diferente se eu tivesse insistido para ele ficar? Se eu tivesse contado sobre a intensidade do pesadelo? Se eu não tivesse saído, se tivesse ficado em casa, será que a minha presença, o meu medo, teria sido um amuleto suficiente para mantê-lo seguro?