034 | Luana Paiva

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Luana Paiva 

Só de saber que o Lucas está a pouquíssima distância de encontrar o meu irmão, meu coração chega errar as batidas. Mesmo com todo esse meu entusiasmo, eu ainda sim tenho o receio da figura que irei encontrar. Mas, em meio a tudo isso, ainda tenho a esperança de que ele seja uma pessoa boa e que tenha a mente aberta pra me conhecer.

Não contei nada pra minha mãe a respeito de estar prestes a encontrar o meu irmão, sinto que cada vez que toco nesse assunto ela simplesmente se fecha, por esse motivo, só irei falar com ela caso eu realmente o conheça. 

— Olha a mulher do Cobra. — Eu estava prestes a entrar em casa quando ouvi esse comentário. Peço aos céus que esse boato não tenha chegado no ouvido da minha mãe, caso contrário, eu já sei o que me espera. — Mãe? — A procurei nos cantos da casa, mas ela não estava.

Dei de ombros indo até o meu quarto e ao entrar, levei um susto ao ver a coroa sentada na minha cama com uma cara não muito boa. Arqueei as sobrancelhas vendo-a me encarar furiosa com alguma coisa.

— Mãe, eu sei que devia ter te contado que estou perto de achar o meu irmão, mas eu juro que..

— Você já está perto? — Agora eu que estava confusa. Não era por isso que ela estava furiosa?

— Não é por isso a sua cara? — Me sentei perto dela, mas ela se afastou ficando com mais raiva ainda. — O que aconteceu mãe?

— Eu posso estar louca ou estão me fazendo de louca Luana. — Se levantou ficando na minha frente. — Eu te criei da melhor forma que pude, te dei tudo o que eu pude te dar só pra você não ter que passar pelo o que eu passei. — Eu a encarava em silêncio e ela andava de uma lado para o outro no meu quarto. — Foi por isso que você veio me perguntar sobre namorado?

— Do que exatamente você está falando mãe?

— Não se faça de desentendida Luana! — Praticamente gritou. — Está todo mundo do morro falando da tal mulher do dono do morro. Eu não liguei até escutar o nome dessa tal mulher. E advinha? Luana Paiva. — Meus olhos se arregalaram e ela parou de andar de um lado para o outro ficando na minha frente.

— Mãe eu posso explicar...

— Eu não quero explicação nenhuma Luana. — Passou a mão no rosto. — Tudo o que eu passei com o seu pai foi pouco pra você? Toda essa história que surgiu agora, ainda é pouco pra você? Acorda Luana! Você não está longe de passar pelas mesmas coisas!

— Mas eu não planejei nada disso. — Ela soltou uma risada de sarcasmo antes de ficar a centímetros de distância de mim.

— Você ainda tem escolha de sair disso tudo, ainda da tempo de simplesmente largar ele. — Eu fiquei quieta e ela negou com a cabeça. — Você vai se arrepender de continuar com toda essa história. Anota o que eu estou te dizendo.

— Mãe...

— Quieta! Eu não acredito que criei a ilusão de uma filha bem sucedida, que construiria uma família de respeito, com um cara trabalhador e não com um zé ninguém. — Franzi o cenho incrédula com tudo o que eu ouvi.

— Você deveria ser a última a apontar o dedo pra mim assim. — Ela me encarou. — Você também teve a chance de largar o meu pai quando ele entrou pra essa vida e não quis. Você não é diferente de mim mãe.

— Eu sou muito diferente de você! Eu não tinha noção do que estava fazendo, eu não tinha a estrutura familiar que você teve e tem!

— Mas o que eu posso fazer? — Me levantei da cama.

— Largar ele! Eu te levo pra cidade, a gente sai desse morro. — Segurou minhas mãos.

— Não. — Soltei as mãos dela e ela respirou fundo deixando uma lágrima molhar sua bochecha.

— Bom saber que todo o meu esforço foi em vão.

— Não foram mãe! Eu ainda vou me formar! Eu ainda tenho um futuro inteiro pela frente. — Tentei me aproximar mas ela só se afastava.

— Não vai! — Gritou. — Eu tinha um vida inteira planejada pra você! Eu sonhei com cada segundo da sua vida, todos os detalhes do que você poderia fazer e você joga tudo pro alto por um cara que vai te largar quando você menos esperar!

— Não! Você planejou pra mim a vida que você sempre quis ter. Você viu em mim a saída que não teve no passado! — Agora quem estava chorando era eu. — Eu sei bem no que eu estou me metendo, mas isso não me faz diferente de você!

— Faz sim e muito. — Limpou as lágrimas. — A partir de hoje você vai ter que se virar pra bancar todos os custos. — Eu já estava soluçando, não pelo dinheiro e sim pela forma que ela estava lidando com toda essa situação. — Eu não tiro nenhum centavo do meu dinheiro pra te dar. Não vou patrocinar safadeza sua!

— Mãe, vamos conversar direito! Eu não quero saber do dinheiro, eu só não quero ficar mal com a senhora!

— Eu não quero olhar pra sua cara Luana, pelo menos não por um tempo. — Quando ia sair do quarto, parou na metade do caminho e se virou pra me dar uma última olhada. — Pede pro seu namoradinho de ajudar com as contas que você tem e eu vou passar um tempo fora.

Ela saiu como se não se importasse com mais nada.
Fiquei um tempo sozinha naquele quarto e pude escutar a porta de entrada batendo, sinal que ela já tinha saído pra qualquer lugar que fosse ficar esse tempo fora.

Por um lado eu me sentia triste por ver o estado em que a minha mãe ficou com toda essa história minha e o Lucas. Mas por outro, o que eu posso fazer? Ninguém manda no que sente dessa forma.

O Lucas tem me ajudado tanto, tem sido uma pessoa tão boa pra mim e infelizmente a vida que ele leva faz com que as pessoas não enxerguem o verdadeiro Lucas por trás do cara que anda de cara fechada pelo morro.

— O que foi? — O moreno pergunta assim que entra no meu quarto depois de eu ter mandado mensagem pra ele.

— A minha mãe sabe de tudo. — Suspirei me aconchegando na cama. — Ela não quer olhar pra minha cara Lucas, foi passar um tempo fora e só Deus sabe quando volta. — Suspirei.

— Porra morena. — Se aproximou deitando ao meu lado na cama. — Sinto que parte da culpa é minha. — O olhei confusa.

— Você não tem culpa Lucas, você só foi me defender no morro. — Me deitei no seu peito. — Eu só não sei o que fazer. Vou ficar sozinha todo esse tempo, nem amiga eu tenho mais e nem dinheiro, já que ela nunca quis que eu trabalhasse.

— Dinheiro não é problema e você sabe.

— Eu não vou ficar pegando o seu dinheiro pra usar com meus gastos. — Ele riu.

— Você pode usar o quanto quiser morena, não vai fazer nem cosquinha na minha conta. — Levantei a cabeça e o olhei arqueando as sobrancelhas.

— Desculpa ai senhor riquinho. — Dei um sorrisinho e ele ficou me encarando, o que me fez ficar com vergonha. — O que foi?

— Eu.. — Negou com a cabeça e então com o polegar acariciou a minha bochecha. — Deixa quieto.

— Okay. — Dei de ombros.

Cobra insistiu para que eu ficasse na casa dele e eu neguei todas as vezes. Não vou o incomodar mais do que eu já o incomodei com todas as minhas histórias.

Ele se ofereceu para pagar os custos que ando tendo com a faculdade e me impediu de trancar o curso já que estou tão perto de terminar. Foi praticamente uma ordem vindo da boca dele enquanto me contava que as minhas despesas iriam ficar por conta dele.

O cara não aceita não como resposta.

Patricinha Do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora