Luana Paiva
Só de saber que o Lucas está a pouquíssima distância de encontrar o meu irmão, meu coração chega errar as batidas. Mesmo com todo esse meu entusiasmo, eu ainda sim tenho o receio da figura que irei encontrar. Mas, em meio a tudo isso, ainda tenho a esperança de que ele seja uma pessoa boa e que tenha a mente aberta pra me conhecer.
Não contei nada pra minha mãe a respeito de estar prestes a encontrar o meu irmão, sinto que cada vez que toco nesse assunto ela simplesmente se fecha, por esse motivo, só irei falar com ela caso eu realmente o conheça.
— Olha a mulher do Cobra. — Eu estava prestes a entrar em casa quando ouvi esse comentário. Peço aos céus que esse boato não tenha chegado no ouvido da minha mãe, caso contrário, eu já sei o que me espera. — Mãe? — A procurei nos cantos da casa, mas ela não estava.
Dei de ombros indo até o meu quarto e ao entrar, levei um susto ao ver a coroa sentada na minha cama com uma cara não muito boa. Arqueei as sobrancelhas vendo-a me encarar furiosa com alguma coisa.
— Mãe, eu sei que devia ter te contado que estou perto de achar o meu irmão, mas eu juro que..
— Você já está perto? — Agora eu que estava confusa. Não era por isso que ela estava furiosa?
— Não é por isso a sua cara? — Me sentei perto dela, mas ela se afastou ficando com mais raiva ainda. — O que aconteceu mãe?
— Eu posso estar louca ou estão me fazendo de louca Luana. — Se levantou ficando na minha frente. — Eu te criei da melhor forma que pude, te dei tudo o que eu pude te dar só pra você não ter que passar pelo o que eu passei. — Eu a encarava em silêncio e ela andava de uma lado para o outro no meu quarto. — Foi por isso que você veio me perguntar sobre namorado?
— Do que exatamente você está falando mãe?
— Não se faça de desentendida Luana! — Praticamente gritou. — Está todo mundo do morro falando da tal mulher do dono do morro. Eu não liguei até escutar o nome dessa tal mulher. E advinha? Luana Paiva. — Meus olhos se arregalaram e ela parou de andar de um lado para o outro ficando na minha frente.
— Mãe eu posso explicar...
— Eu não quero explicação nenhuma Luana. — Passou a mão no rosto. — Tudo o que eu passei com o seu pai foi pouco pra você? Toda essa história que surgiu agora, ainda é pouco pra você? Acorda Luana! Você não está longe de passar pelas mesmas coisas!
— Mas eu não planejei nada disso. — Ela soltou uma risada de sarcasmo antes de ficar a centímetros de distância de mim.
— Você ainda tem escolha de sair disso tudo, ainda da tempo de simplesmente largar ele. — Eu fiquei quieta e ela negou com a cabeça. — Você vai se arrepender de continuar com toda essa história. Anota o que eu estou te dizendo.
— Mãe...
— Quieta! Eu não acredito que criei a ilusão de uma filha bem sucedida, que construiria uma família de respeito, com um cara trabalhador e não com um zé ninguém. — Franzi o cenho incrédula com tudo o que eu ouvi.
— Você deveria ser a última a apontar o dedo pra mim assim. — Ela me encarou. — Você também teve a chance de largar o meu pai quando ele entrou pra essa vida e não quis. Você não é diferente de mim mãe.
— Eu sou muito diferente de você! Eu não tinha noção do que estava fazendo, eu não tinha a estrutura familiar que você teve e tem!
— Mas o que eu posso fazer? — Me levantei da cama.
— Largar ele! Eu te levo pra cidade, a gente sai desse morro. — Segurou minhas mãos.
— Não. — Soltei as mãos dela e ela respirou fundo deixando uma lágrima molhar sua bochecha.
— Bom saber que todo o meu esforço foi em vão.
— Não foram mãe! Eu ainda vou me formar! Eu ainda tenho um futuro inteiro pela frente. — Tentei me aproximar mas ela só se afastava.
— Não vai! — Gritou. — Eu tinha um vida inteira planejada pra você! Eu sonhei com cada segundo da sua vida, todos os detalhes do que você poderia fazer e você joga tudo pro alto por um cara que vai te largar quando você menos esperar!
— Não! Você planejou pra mim a vida que você sempre quis ter. Você viu em mim a saída que não teve no passado! — Agora quem estava chorando era eu. — Eu sei bem no que eu estou me metendo, mas isso não me faz diferente de você!
— Faz sim e muito. — Limpou as lágrimas. — A partir de hoje você vai ter que se virar pra bancar todos os custos. — Eu já estava soluçando, não pelo dinheiro e sim pela forma que ela estava lidando com toda essa situação. — Eu não tiro nenhum centavo do meu dinheiro pra te dar. Não vou patrocinar safadeza sua!
— Mãe, vamos conversar direito! Eu não quero saber do dinheiro, eu só não quero ficar mal com a senhora!
— Eu não quero olhar pra sua cara Luana, pelo menos não por um tempo. — Quando ia sair do quarto, parou na metade do caminho e se virou pra me dar uma última olhada. — Pede pro seu namoradinho de ajudar com as contas que você tem e eu vou passar um tempo fora.
Ela saiu como se não se importasse com mais nada.
Fiquei um tempo sozinha naquele quarto e pude escutar a porta de entrada batendo, sinal que ela já tinha saído pra qualquer lugar que fosse ficar esse tempo fora.Por um lado eu me sentia triste por ver o estado em que a minha mãe ficou com toda essa história minha e o Lucas. Mas por outro, o que eu posso fazer? Ninguém manda no que sente dessa forma.
O Lucas tem me ajudado tanto, tem sido uma pessoa tão boa pra mim e infelizmente a vida que ele leva faz com que as pessoas não enxerguem o verdadeiro Lucas por trás do cara que anda de cara fechada pelo morro.
— O que foi? — O moreno pergunta assim que entra no meu quarto depois de eu ter mandado mensagem pra ele.
— A minha mãe sabe de tudo. — Suspirei me aconchegando na cama. — Ela não quer olhar pra minha cara Lucas, foi passar um tempo fora e só Deus sabe quando volta. — Suspirei.
— Porra morena. — Se aproximou deitando ao meu lado na cama. — Sinto que parte da culpa é minha. — O olhei confusa.
— Você não tem culpa Lucas, você só foi me defender no morro. — Me deitei no seu peito. — Eu só não sei o que fazer. Vou ficar sozinha todo esse tempo, nem amiga eu tenho mais e nem dinheiro, já que ela nunca quis que eu trabalhasse.
— Dinheiro não é problema e você sabe.
— Eu não vou ficar pegando o seu dinheiro pra usar com meus gastos. — Ele riu.
— Você pode usar o quanto quiser morena, não vai fazer nem cosquinha na minha conta. — Levantei a cabeça e o olhei arqueando as sobrancelhas.
— Desculpa ai senhor riquinho. — Dei um sorrisinho e ele ficou me encarando, o que me fez ficar com vergonha. — O que foi?
— Eu.. — Negou com a cabeça e então com o polegar acariciou a minha bochecha. — Deixa quieto.
— Okay. — Dei de ombros.
Cobra insistiu para que eu ficasse na casa dele e eu neguei todas as vezes. Não vou o incomodar mais do que eu já o incomodei com todas as minhas histórias.
Ele se ofereceu para pagar os custos que ando tendo com a faculdade e me impediu de trancar o curso já que estou tão perto de terminar. Foi praticamente uma ordem vindo da boca dele enquanto me contava que as minhas despesas iriam ficar por conta dele.
O cara não aceita não como resposta.
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Patricinha Do Morro
Fanfiction+ 18 Mesmo sendo criada em uma das favelas mais perigosas da cidade, Luana nunca pensou na hipótese de se envolver com ninguém que fosse do tráfico. Mas, quando Lucas, vulgo cobra, cresce o olho na garota de 20 anos, ela não tem mais pra onde corre...