029 | Luana Paiva

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Luana Paiva

Eu não conseguia ao menos imaginar o que se passava na cabeça da minha mãe depois do que ela leu naquela carta. O homem na qual ela passou anos acreditando ser fiel à ela, que ela chorou quando recebeu aquela notícia, na verdade era um cafajeste que não conseguia parar com uma mulher só.

A minha mãe quis afundar ainda mais a cara no trabalho que segundo ela, é a única forma de esquecer tudo aquilo. Já eu, não fui a faculdade e decidi ir até a casa da Bianca, preciso desabafar o máximo que conseguir com a minha melhor amiga.

Enquanto subia o morro sem me importar com o que tinha pela minha frente, esbarrei no cobra sem querer que me segurou pelos braços e fez questão de me encarar, podendo assim ver que eu não dormi a noite inteirinha só pensando naquelas cartas.

— Ei, ei, ei. — Me segurou mais firme quando viu que eu estava querendo sair. — O que rolou Luana?

— Me solta, eu preciso ir na casa da Bianca. — Tentei manter a voz firme mas foi impossível, quando menos esperei, meu rosto já estava tomado em lágrimas e meus olhos voltados para o chão mais uma vez.

— Fizeram alguma coisa contigo? — Eu pude reparar em quanto a sua voz mudou quando esse questionamento surgiu e por isso eu neguei com a  cabeça sem o encarar de volta. — Me conta o que rolou.

— Eu não consigo. — E lá estava eu, na rua, chorando feito uma criança. Cobra me puxou para um abraço fazendo questão que eu encostasse a minha cabeça no seu peito, enquanto seus dedos acariciavam o meu cabelo.

— Depois eu volto aqui irmão, deixa tudo em ordem pro Dedeco levar. — Eu não sei com quem ele estava falando, mas ele me afastou um pouco, tirou o cabelo do meu rosto e mais uma vez encarou meus olhos. — Vamos lá pra casa, você precisa se acalmar.

Assenti com a cabeça indo até a moto dele e, depois de subir na garupa, subimos o restante de morro rumo a casa dele.

— Obrigada. — Agradeci pela água que ele me trouxe e então deitei no sofá da sala encarando o teto.

— Agora me diz o que rolou. — Se sentou no mesmo sofá que eu pondo minhas pernas em cima das suas.

— O meu pai Cobra. — Respirei fundo pra não tornar a chorar. — Minha mãe recebeu umas cartas no trabalho de uma tal Elena onde ela contava detalhes da vida dela com o meu pai. — Fechei os olhos. — Ela era amante do meu pai e teve um filho com ele. Hoje esse filho está com 22 anos e quem matou meu pai foi o marido da amante dele.

— Calma. — Levantei um pouco a cabeça para o olhar. — Caralho é muita coisa pra processar. — Alisou minha perna. — Porra morena eu sou péssimo em conselhos. — Acabei por dar um sorrisinho de canto e então me sentei podendo o encarar melhor.

— O que mais me machuca nisso tudo é saber que a minha mãe está sofrendo. Poxa, ela já não sofreu o suficiente? Tinha que ter mais essa? — Passei a mão no rosto. — Eu queria poder conhecer esse meu irmão, saber como ele é, se ele parece comigo ou não.

— A vida é uma merda morena. — Segurou no meu rosto. — Mas se esse é o seu desejo, eu vou te ajudar. Só não acho que agora seja um bom momento. Você conhecendo o seu irmão vai ser um baque ainda maior, muita emoção junta, entende?

— Você não precisa se envolver nisso.

— Mas eu quero e vou. — Sorriu fraco. — Vou dar um jeito de achar ele pra você, certo?

Patricinha Do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora