Capítulo 8

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Oieeee, como estão? Espero que bem!

Boa leitura!!
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Camila

Nadar?

Não muito.

Havia poucas oportunidades para nadar na Cidade do Sanctum. O Grande Rio era por demais frio e violento. Eu tivera algum treinamento, enquanto Rahtan, mas nada mais que o básico da flutuação. Não havia nenhum lugar onde praticar.

Mas essa pergunta acusadora me ofendeu. Ele ser arrastado para o fundo por um peso morto? Foi ele quem passou as chaves para os outros antes de nos libertar e foi ele quem nos empurrou ladeira abaixo, fazendo com que eu as perdesse.

O caçador estava se aproximando rapidamente e um outro vinha logo atrás dele, com as armas em prontidão para golpear nossas cabeças ou para, pelo menos, nos incapacitar o suficiente e nos arrastar de volta para a carroça. O caminho para o rio ainda era longo, mas eu seria a encarregada de nos empurrar.

Agarrei o braço dele e pulei.

Pareceu uma eternidade até atingirmos o rio, cuja superfície se revelou surpreendentemente dura quando irrompemos por ela. A batida veio feroz contra minhas costelas, e seguimos rolando correnteza adentro.

Eu não sabia para que lado ficava a superfície, e meus pulmões rebentavam, tentando respirar. Eu chutava e me debatia, procurando a superfície, o ar, o caminho para cima, mas só havia milhares de bolhas, lampejos de luz, espirais de escuridão e uma pressão contra meu peito.

O último fôlego que tomei se esvaía enquanto eu chutava desesperadamente, e então senti algo me agarrando, dedos cravando em meu braço, me puxando bruscamente para cima, até que irrompi na superfície, ofegante, arquejando.

— Incline-se para trás! — ele gritou. — Cruze as pernas! Pés para a frente!

Shawn tinha me puxado, de modo que eu me encontrava entre seus braços, apoiada em seu peito, nossos pés seguindo a direção do rio enquanto as corredeiras nos golpeavam, fazendo-nos girar.

Porém, toda vez que ele endireitava o curso, acabávamos disparando pelo rio como folhas sem rumo varridas de sua superfície. As margens de ambos os lados não estavam longe, mas eram ladeadas por penedos e estávamos em tão grande velocidade que não conseguíamos nos agarrar às pedras.

Eu me engasguei quando a água bateu na minha boca e no nariz. Os braços dele me seguraram com firmeza, puxando-me para trás enquanto eu tentava me esticar para cima.

— Relaxe junto ao meu corpo. — ele ordenou. — Siga a correnteza. Quando o rio ficar mais largo e mais calmo, seguiremos até a lateral.

A sobrevivência dele dependia da minha, e a minha, da dele. Realmente éramos as âncoras um do outro.

A única coisa boa em relação à temerosa viagem pelo rio era que essa aventura estava nos levando para bem longe dos caçadores de mão de obra. A correnteza por fim se tornou mais lenta, e faixas de margens arenosas começaram a aparecer.

— Um pouco mais adiante.. — disse ele, com o rosto perto do meu — para nos certificarmos de que eles não conseguirão nos seguir.

Já tínhamos percorrido um quilômetro e meio — ou mais — rio abaixo. Minhas pernas latejavam, e eu fiquei aliviada quando ele começou a se movimentar em direção a uma das margens.

Por fim, senti meus pés tocarem o fundo, e nós dois saímos aos tropeços do rio. Desmoronamos na riba, ofegantes.

Meus cabelos eram uma massa emaranhada na frente do rosto, meu coração ainda socava o peito. Olhei de relance para o lado. Ele estava deitado de costas perto de mim, os olhos fechados, o peito subindo e descendo, e seus cabelos pingavam feito cordões encharcados.

Eu até poderia ter deixado uma ameaça para trás, mas agora estava acorrentada a outra — no meio do nada. Não tinha como fingir que éramos amigos, e agora eu não tinha nenhuma arma. Nem ele. Mas ele era inegavelmente maior e mais forte, e eu já tinha visto o que seu punho era capaz de fazer. Estava claro que eu precisava de, pelo menos, uma trégua temporária.

Assim que consegui respirar direito, perguntei:

— E agora?

Ele virou a cabeça para o lado e olhou para mim, um olhar demorado, firme e abrasador. Seus olhos estavam límpidos, o atordoamento da bebida há muito desaparecido, e suas íris no mesmo tom de mel da terra sobre a qual ele estava deitado.

— Você tem alguma coisa em mente? — ele me perguntou.

Eu não soube ao certo se foi sarcasmo ou humor. Talvez ambos, mas seus olhos permaneciam firmes nos meus. Um fôlego inconstante pressionava os meus pulmões.

— Só estou dizendo que sei que você não gosta de mim, e eu não gosto de você, mas até que possamos ficar livres um do outro, acho que teremos de tirar o melhor que pudermos dessa situação.

Ele piscou. Longa e lentamente. Era sarcasmo. E repulsa. Ele desviou o olhar, erguendo os olhos para o céu, como se pensasse no assunto.

— Você tem um nome? — ele perguntou, sem olhar para mim.

Fiz uma pausa, não sabendo ao certo por que parecia arriscado dizer meu nome. Era algo estranhamente pessoal, mas fui eu quem sugeriu que tirássemos o melhor da situação.

— Camila. — falei, esperando que a reação dele.

— E seu nome de família?

— Vendanos não usam sobrenomes. Somos conhecidos pelo lugar de onde viemos. Eu sou conhecida como Camila de Brightmist. É um quadrante na Cidade do Sanctum.

Ele repetiu meu nome bem baixinho e não disse mais nada além disso, seu olhar fixo no alto. Eu tinha certeza de que ele estava conjurando todas as formas pelas quais poderia se livrar de mim. Se ele tivesse aquele machado para cortar fora o pé que me prendia a ele…

Por fim, ele se levantou e estendeu a mão, esperando que eu a segurasse. Com cautela, agarrei seu pulso e ele me ajudou a ficar em pé; ele não soltou o meu braço, mas, em vez disso, me puxou para perto. E olhou para mim.

— Eu também tenho um nome, embora você goste de me chamar de menino bonito. Shawn Mendes. — disse ele. — Mas você provavelmente já sabia disso, não sabia? Considerando que pretendia me prender.

Segundos desconfortáveis decorreram e ele ainda segurava meu braço com força. Nuvens escuras passaram em lampejos por seus olhos. Nossa trégua teve um começo questionável.

— Prender você não era algo iminente, — foi a minha resposta. —  havia perguntas a fazer e acusações para revisar, daí eu intimaria você para discutirmos a questão mais a fundo.

— Você me intimaria? A Boca do Inferno é a minha cidade. Você acha que é quem, exatamente?

Seu pior pesadelo, Shawn Mendes.

Eu estava soltando fogo pelas ventas, mas moldei minhas palavras em uma resposta calma.

— Você quer que tiremos o melhor desta situação ou não?

Exaltado, ele sugou o ar com lentidão, engolindo em seco as palavras que viriam a seguir. Soltou meu braço e se virou, absorvendo os arredores como se estivesse avaliando nossa situação.

— Tudo bem, Camila de Brightmist, vejamos se conseguimos tirar o melhor disso tudo e cair fora daqui. — Seu olhar pulou para a cadeia de montanhas na margem oposta e então se voltou para a floresta atrás de nós. — Eu acho… — Ele balançou a cabeça e seu dedo se moveu levemente para a direita. — Eu acho que há um assentamento naquela direção. A forma de civilização mais próxima que haveremos de encontrar e que não nos colocará de volta ao caminho dos caçadores. Talvez cento e cinquenta quilômetros.

Cento e cinquenta quilômetros? Acorrentada, descalça, sem armas nem comida?

E com alguém que era praticamente tão confiável quanto a piscadela de um mercador. Mas eu tinha certeza de que ele também tinha a sobrevivência em mente.

— Que tipo de assentamento? — eu quis saber.

— O único tipo de assentamento que se tem por aqui. Um dos seus.— Ele não fez tentativa alguma de esconder sua desaprovação.

Olhei na direção para a qual ele havia apontado, ainda indecisa.

— Onde fica a Boca do Inferno a partir daqui? — eu quis saber.

— Do outro lado do rio, onde os caçadores estão. E fica a mais de um dia de cavalgada a leste.

Um dia? Será que eu tinha sido nocauteada e acabei ficando inconsciente por tanto tempo assim? Meu estômago roncou, confirmando o fato, e essa conclusão ressoou com alguma verdade. Havia um outro assentamento vendano bem a oeste da Eislândia. Casswell era um dos primeiros e maiores assentamentos — entre centenas. Eles teriam os suprimentos e os recursos para nos ajudar, de uma forma ou de outra.

A corrente trepidava ruidosamente entre nós, e ele ficou mexendo os pés.

— Então? — ele perguntou. — Você tem alguma ideia melhor?

No momento, não.

— Vamos seguir na direção do assentamento. — respondi.

— Mas… — disse ele, se aproximando de mim e estreitando os olhos, — eis a verdadeira questão: se eu levar você de volta para a civilização, você ainda vai me intimar e me fazer mais perguntas?

Essa era uma ameaça velada?

Se eu levar você de volta?

Agora, a corrente que nos conectava parecia uma garantia abençoada de que eu não seria espancada assim que virasse as costas. Tudo em relação à sua postura era de uma confiança presunçosa. Isso era um jogo para ele. Um desafio. E eu iria morder a isca.

— Eu seria uma tola se respondesse isso agora, não seria? Considerando a minha situação.

Ele parecia estar se divertindo, e uma bufada saltou de seu peito.

— Eu diria que você seria uma tola se não respondesse agora.

Fiquei ali, encarando-o, tentando julgar quanto daquilo era arrogância e quanto era ameaça genuína.

— Então vamos simplesmente concordar em seguir nossos caminhos separados assim que chegarmos ao assentamento? Sem trapaças, sem ganhos.

— Caminhos separados. — disse ele. — De acordo.

Bebemos água uma última vez no rio, pois não sabíamos quando nos depararíamos com água fresca novamente, e então parei para mexer com o pé numas pedrinhas que tinha visto na margem. Peguei uma e a virei em minha mão.

— Isso é para mim? — ele perguntou.

Ergui o olhar de relance. Dessa vez, humor. Um largo sorriso iluminava seus olhos. Ele não era nada previsível, o que só aumentava minhas apreensões.

Lordes de quadrantes e seus egos gananciosos eram tão fáceis de prever quanto um dia de neve no inverno. Todas as minhas conversas com Shawn pareciam uma dança, um passo para a frente, um passo para trás, um giro, ambos conduzindo, antevendo, perguntando-se qual seria o próximo movimento. Ele não confiava em mim mais do que eu confiava nele.

— Pedra para fazer fogo — foi minha resposta. — E a fivela do meu cinto é feita de um material parecido com a pederneira. Os caçadores podem ter levado meus bens valiosos, mas pelo menos meu cinto não tinha valor para eles. Uma fogueira será bem-vinda esta noite.

Ele olhou para o meu cinto, uma fivela de metal oval e marrom em forma de serpente se destacando, e assentiu, aprovando a minha ideia. Um passo adiante.

— Então é melhor que eu fique de olhos abertos para ver se conseguimos algum jantar. — Ele já ia caminhando na direção da floresta.

— Aguenta aí. — falei. — Antes de irmos, preciso que você vire de costas.

— O quê?

— Tenho que fazer xixi. Vire.

— Nós acabamos de sair de um rio. Por que você não fez xixi lá?

— Talvez porque eu estivesse fazendo uma coisinha chamada lutar pela minha vida.

— Você quis dizer que eu estava lutando pela sua vida. Você só estava acompanhando o passeio.

— Vire! — ordenei.

— Dar as costas para você?

Sorri.

— Não se preocupe, — foi minha resposta, cuspindo as mesmas palavras de volta na cara dele. — Eu não ia querer ficar acorrentada a um peso morto. Você está seguro, menino bonito.

— E eu não ganho nem uma charada primeiro? — Estreitei os olhos.

Ele se virou devagar.

— Anda logo!

Eu já tinha feito coisas mais humilhantes, imagino, mas no momento não conseguia me lembrar de nenhuma. Fiz as minhas necessidades rapidamente. Tirar o melhor da situação não seria fácil.

Quando ele se virou novamente, estendeu o braço na minha direção e eu me encolhi. Minha mão ficou em riste, pronta para atacar.

— Ei! Calma aí. — disse ele, recuando. — Eu só ia dar uma olhada no seu rosto. Você tem um machucado que vai ficar roxo aí.

Ergui a mão e toquei o maxilar, sentindo o calor de um machucado recente.

Ele deu de ombros.

— Não estou dizendo que não valeu a pena, pois você pôs as mãos nas chaves, mas isso me leva a perguntar: existe alguma coisa que você não faria para conseguir o que quer?

Eu o observei com cautela.

— Algumas coisas. — foi a minha resposta.

Mas não muitas.

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Então.. pela falta dos comentários eu acabo me esquecendo de atualizar e por isso acabo demorando!!

VOTEM!!

SWEET ARROW         {SHAWMILA}Onde histórias criam vida. Descubra agora