19. Doce Vinho

523 38 2
                                    


Tanto quero o pão, como o vinho, a fantasia e a realidade. - Cazuza


Minhas pensadas de travesseiro costumam me ajudar, de vez em nunca, e nessa minha autoanálise nada recomendada e profissional, eu claramente fui patética em fugir de Spencer, além de ter sido grosseira. Fui babaca com Spencer, sim, mas a culpa é dele de ser um grande...pessoa incrível.

Limpo minha garganta e direciono o olhar para a janela do escritório de Reid, como ele chegou lá sem tê-lo visto passar? Talvez ele esteja fugindo de mim também, mas pelo que conheço de Spencer, ele está fazendo apenas o que, silenciosamente, o pedi, ficando longe. Eu sou cruel!

Puxo a pequena caixinha com dois donuts que comprei a momentos atrás, levanto da cadeira com a maior moleza, afinal está começando a ficar repetitivo comprá-lo com doces. Ando com passos lentos até sua sala, imaginando as mil possibilidades de abordagens que poderia usar: talvez jogar a caixa sobre a mesa e fingir normalidade, deixando minha consciência me corroer? Talvez fazer cara de cachorro que caiu na mudança e implorar por perdão? Talvez bater na porta logo? Respiro fundo e dou batidinhas suaves na madeira da porta de sua sala.

— Entre — escuto a voz rouca e um pouco abafada de Reid. Quais as chances de ele estar lendo algum livro quando abrir essa porta? Coloco a mão sobre a maçaneta e entro na sala, contemplando a cena dele com as mãos entrelaçadas sobre a mesa, sem seu paletó e as mangas da social rosa bebê dobradas sobre o antebraço. Talvez ele estivesse colocando tensão sobre suas mãos e braços, pois conseguia perceber algumas veias que me chamam atenção, assim como o relógio em seu pulso que parece formar um conjunto perfeito. Ele também não colabora comigo!

Resmungo baixo e coço a garganta, jogo meu cabelo para trás e subo meus olhos, encontrando seus ombros largos e seu pescoço, estranhamente sem nenhuma gravata e com dois botões abertos de sua veste, podendo vislumbrar seu colo. Sinto minha boca salivar, meu Deus do céu, esse homem é o pecado em forma humana. Franzo o cenho e balanço a cabeça, lutando para parar de analisar seu dorso e olhar seu rosto, que me encara questionador. Talvez eu tenha passado tempo demais comendo ele a distância. Suspiro e desvio o olhar do seu, o colocando no chão. Mexo a perna esquerda, não sabendo exatamente por onde começar e se tinha razão para começar alguma coisa, afinal Reid me tira do meu estado normal e me transforma numa safada, quem deveria pedir desculpas é ele e não eu!

— Bom..é..hm...— coço a nuca e me aproximo da mesa, deixando a caixa sobre a mesma e encarando o chão — Oi — murmuro baixo, quase sem som. O assisto intercalar o olhar entre a caixa e a minha pessoa, mexer no cabelo e processar, silenciosamente, meu pedido de desculpas/demonstração de afeto com comida.

— Olá — responde, normal. Franzo o cenho, ele aceitou meu pedido silencioso de desculpas ou ele nem sequer ficou chateado pelo episódio passado?

— Tudo certo? — cerro os olhos e começando a roer a unha do indicador. Ele apenas acena positivamente com a cabeça e puxa a caixa sobre a mesa para si — É...ok, então — faço careta, esperava que ele fosse ficar bravo. Mordo o lábio e vejo Spencer pegar com cuidado seu donut, cuidando ao máximo para nenhum granulado sobre ele cair na mesa — O que você acha de jantarmos depois do expediente em algum restaurante qualquer, Sr. Tenho Calda de Chocolate Fresca Na Minha Blusa Social Rosa? — narro a cena que acabava de acontecer. Um pedacinho de donut escapou e caiu na social do garoto. Rio fraco, adorável.

— Merda — resmunga, quase inaudível, devolvendo o donut mordido para caixinha e tentando tirar a marca marrom da camisa.

— Água morna e detergente — pisco para ele, quando ele desiste de esfregar a sujeira e me olha com uma expressão frustrada na face.

Leave Me Lonely  •  Criminal Minds (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora