Capítulo XXVI - Crianças

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Se uma árvore cai na floresta e ninguém está perto para ouvir ou ver, será que a árvore caiu mesmo?- George Berkeley,

Devo admitir, estar trancafiada dentro do apartamento de Spencer, me fazia sentir como a Rapunzel presa na torre à espera do príncipe. Entretanto, o meu príncipe é um agente ocupado preso num caso em uma cidadezinha distante.

Enfim, meus últimos dias estavam sendo resumidos em dormir, ter pesadelos, acordar para tomar remédio e dormir mais um pouco. Algumas vezes Garcia vinha, às noites, para falar comigo e dar uma checada na cartela dos comprimidos, mas logo voltava para a agência, afinal ela também estava trabalhando. Esperava que eles conseguissem terminar o caso logo, amanhã será sábado e tecnicamente o dia deles de folga. Tenho planos em mente sobre o que fazer com as crianças, será divertido.

Caminho preguiçosamente para sala e me jogo no sofá, sentindo uma dorzinha se espalhar pelo meu corpo. Olho em volta para ter certeza que não havia ninguém ali e faço careta, permitindo expressar dor. Tenho que me cuidar melhor, realmente. Pelo menos por hora. Respiro fundo e encaro a janela aberta, pelo sol diria que eram umas cinco horas da tarde. Meu deus, como durmo! Talvez fosse esse o motivo da minha mente estar produzindo o mesmo pesadelo toda vez. Devo confessar, estou começando a ter medo de microondas.

Meus olhos parecem pesados e meu corpo lento, alongo querendo afastar o ciclo vicioso que estava criando, o que era quase tarde pois já tinha se tornado minha rotina. Ergo-me do sofá, a contragosto, pego o telefone sobre a mesa e encaro as horas, estava quase na hora de tomar os remédios e da ligação rotineira de Spencer. Deixo o aparelho sobre a mesa, caminhando para a estante de livros, que se mantinha intocada. Aliás, havia evitado mexer e tirar as coisas do garoto do lugar, afinal nunca gostei que mexessem nas minhas coisas então levava isso como regra de vida. Passo meus dedos sobre a parte de trás dos livros, não prestando muita atenção em seus nomes, a sorte teria que me guiar nessa difícil escolha. Paro meu dedo sobre um e escuto um barulho na porta, meu rosto vira rápido em direção ao som e fico confusa ao perceber que me projeto para trás e encolho-me perto da estante, como se ela fosse me proteger de algo. Estranho minha própria reação, vendo a figura de Spencer passar pela porta. Solto o ar dos meus pulmões, num estranho alívio. O observo parecer tentar ser silencioso, o que era difícil, pois mesmo se estivesse dormindo o escutaria. Meu estado de alerta fala mais alto sempre.

Reid deixa a chave sobre a mesa e passa seus olhos pela sala, me vendo ainda, parcialmente, encolhida perto da estante. Fito seus olhos, recebendo um olhar confuso em resposta. O assisto me observar, fazendo com que limpe a garganta e ajeitei minha postura para algo mais normal do que a retraída que me encontrava.

- Te assustei? - pergunta, inclinando a cabeça e dando alguns passos lentos para mais perto de mim. Nego com a cabeça e caminho para mais próximo dele.

- Uma gracinha dessas me assustar - brinco, ainda sentindo seu olhar observador sobre mim. Dou o melhor sorriso que posso e franzo o cenho - Por que você não avisou que voltaria hoje, em? - aproximo-me mais e cutuco seu peito de leve - Eu teria, não sei...preparado arroz? - digo, incerta.

- Ou fast-food - comenta, dando um sorriso ladino, como se soubesse de algo.

- Garcia ou a senhora Joane? - pergunto, sorrindo amarelo. Uma outra coisa que tinha tido esses dias, era preguiça de fazer comida ou comer, então quando dava fome pedia algum lanche pronto. Não havia nenhuma embalagem no ambiente que denunciasse meus hábitos alimentares nada saudáveis, o que me leva a supor que aconteceu a famosa fofoca.

- Ambas - diz, entortando sua boca. Nego com a cabeça, traição em dose dupla.

- Em minha defesa, você já pensou em se alimentar de algo que não seja feijão enlatado? Aquilo é nojento - murmuro, querendo me afastar do seu olhar sério.

Leave Me Lonely  •  Criminal Minds (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora