Capítulo XXXII - Adeus, Spencer!

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A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou.

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou. - Fernando Pessoa

Encaro meus coturnos, cravando os dedos na palmilha, tentando de alguma forma sanar e calar os pensamentos que rodeavam minha mente. Toda aquela situação, todas as memórias, olhar para a plantinha e para o corredor estava sendo meu fim, ou melhor, o nosso fim. Talvez eu realmente tivesse feito merda de me intrometer naquilo, porque eu continuo tentando achar uma justificativa que não doa tanto no meu coração?. É tão difícil, difícil assimilar que o sentimento que tilintava em meu peito feito um sino e que esquentava como fogo tinha que ser apagado, afinal pensar nisso só me causa dor e culpa.

Ignoro minha mente perdida e a tentação de pegar a chave reserva dentro do vaso, caminhando para a porta do tão conhecido apartamento. Ergo a mão, quase sentindo meu coração pular do peito, lembrando da primeira vez quando estive aqui. Acaricio a madeira, sentindo-me uma boba ao afagar algo inanimado. Solto um suspiro profundo, criando coragem e lutando para engolir todas as emoções que queriam vir. Bato na porta algumas vezes e espero alguns segundos, começando a falar o que tinha planejado.

- Oi...sou eu- inicio trêmula- Eu sei que você sabe quem é e sei que está aí - molho os lábios e me apoio no batente da porta, Spencer Reid jamais deixaria seu hábito ler na poltrona próxima a sua estante de livros às dez da manhã - Sabe, Spencer, eu não sei em qual momento você se tornou uma das pessoas que mais me conhece ou quando se tornou alguém tão especial para mim, uma peça fundamental no meu dia...- falo, quase em um sussurro - Eu queria uma despedida decente, queria olhar nos seus olhos que eu tanto amo e dizer tudo que eu estou falando para um porta, mas é engraçado, porque eu não conseguiria- rio nervosa e coço a cabeça- Acho que acostumei a esconder minhas emoções, mas não aprendi a não senti-las e infelizmente eu descobri que amo você - engulo em seco - Nos últimos segundos do segundo tempo, eu entendi que te amava, quando já tinha te perdido e não percebi. Eu sinto muito por, eu não sei exatamente porque, mas me desculpe...- respiro fundo e pisco os olhos rápidos, afastando as lágrimas dos olhos -...sabe, os últimos dias têm sido difíceis, eu não tenho dormido bem e tudo parece em volta parece desmoronar e apesar de querer muito te dar um murrão na boca...- faço graça sozinha no corredor -...eu queria muito aquele abraço que só você consegue dar - encosto a testa na porta - Mas enfim, eu queria que você fosse o primeiro a saber, vou embora hoje! Aceitei aquele emprego, lembra? - esfrego os olhos e tento parecer positiva - Só vim aqui, porque eu achei que deveria- abaixo o tom da voz, constrangida - Só queria agradecer pelos nossos momentos juntos, eu aprendi o que é amar de verdade graças a você, Reid. Até qualquer dia - encerro, sentindo um bolo se formar na garganta. Ainda esperançosa, aguardo alguns segundos, na expectativa boba de pelo menos receber um abraço seu de despedida, mas não é o que acontece. Afasto-me da porta e auto avalio, o amor nos deixa patéticos. Nego com a cabeça e caminho para escada, era hora de deixar para trás.

(...)

Deixo minha mala no chão, observando Penélope extremamente chateada nos braços de Luke, que não parecia feliz.

- Vocês vão me odiar até quando? - pergunto, deixando a caixinha em que Tom dormia e observando os dois.

- Te odiar por ir embora por causa do nerdola do Spencer Reid? Se ele aparece na minha frente agora, eu juro que eu...- diz rápido e brava, empurrando Luke para longe e fazendo gestos violentos com a mão.

Leave Me Lonely  •  Criminal Minds (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora