Rest and meet

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Uma fronteira sempre é uma área movimentada, com entrar e sair de qualquer tipo de pessoa com um mínimo de motivação para se transportar de uma terra a outra. 

O lado positivo de alguém que presta serviço em um lugar fechado viver em uma é poder falar do que viu com outros, especialmente uma casa de repouso.
Sempre havia um mínimo de movimento na casa de repouso da família Chanstain. Foi assim nos últimos treze anos.

Abra, que logo no início da época havia começado a trabalhar para a família, conhecia isso melhor do que muita gente. E o local em si também.
Sempre havia movimento lá, porque um Chanstain sempre precisava de cuidados. E Abra cuidava dele desde que era um bebezinho com uma mãe chorosa.

Bateu na porta já bem conhecida, e uma voz sem ânimo veio de dentro:

--Se é remédio pode deixar e sair.

-- É comida.

-- Então pode sair.

-- Lord Charles especificamente não me permitiu sair sem que o senhor se alimente até certas horas.

O som que veio de dentro seria patético se não tivesse histórico.

-- Então entra.

Abra entrou.

O lugar não tinha a aparência de quarto de hóspedes dos outros quartos, o garoto passava tanto tempo lá que já era apropriado personalizar: os tapetes revezavam lugar com os do quarto "dele de verdade", haviam vasos com flores que não tinham propriedade alguma mas eram gostadas, como amapolas, e até os ladrilhos do chão já haviam sido substituídos.

Chester tinha o cabelo dourado mantido curto para ser melhor de cuidar, os olhos purpúreos grandes que tantos outros gostariam de ter, e, aos treze anos de idade, começava a ganhar características de adolescente.

Também tinha a pele branca de anêmico com manchas cinzentas que Abra sabia que eram molengas ao toque (só sabe a diferença entre pele macia e molenga quem já tocou), a cor notável o vermelho e roxo de veias dilatadas que começou nos dedos das mãos e ao longo dos anos subiu para o tronco, braços e pescoço, e recentemente chegado ao lado esquerdo do rosto; tinha o olho esquerdo vermelho como o de alguém que derramou sabão e lentamente ficando desfocado, entregando que estava tendo a visão prejudicada; tinha problemas de coordenação que não o deixaram aprender a escrever, e ossos fracos que o fizeram ter mais fraturas aos dez anos do que muitos esportistas com trinta; tinha o apetite fraco que deixava tudo pior, o forçando a escolher entre manter a pouca força que tinha e passar o dia com sensação de pedras no estômago; tinha a alma amargurada por ter que crescer num corpo que se deteriorava ao mesmo tempo que se desenvolvia.

Poderia culpá-lo? Aquilo era chamada de "maldição" por um motivo.

-- Dia ruim?

-- Quando tive um dia bom?

-- Talvez "menos ruim" o bastante para ir um pouco para o jardim? O babá que Lord Charles contratou vai se encontrar com as pequeninas lá.

-- Não quero conhecê-lo.

-- Não quer conhecer o cuidador de seus irmãozinhos?

-- Ele vai cuidar bem deles, porque vai ser pago para isso. Se não cuidar bem, vai ser demito e perder de ganhar  em um mês mais moeda do que um trabalhador manual pode querer em meio ano. Teria que ser burro como um coala para fazer isso.

Era verdade, e a enfermeira sabia, mas o jeito que ele falou a deixou com um gosto amargo na boca.

-- O senhor ainda precisa comer.

O barulho que era patético demais para ser de protesto voltou, e o menino afastou os lençóis para não acabar sujando - o entretenimento que havia achado em causar inconveniências acabou no dia que a cuidadora daquele turno pediu demissão e saiu sem limpar nada, o deixando para ser achado coberto de mordidas de formigas no turno seguinte.

Abra pôs o carrinho ao lado da cama, e Chester olhou para os pratos - nada pesado, sopa, pão e uma batata - como se fedessem. Ainda, estar ciente que não ia receber a sua tão desejada privacidade até acabar com eles foi o estímulo necessário para se forçar a engolir, mesmo que a cara que fazia fosse digna de alguém sendo obrigado a comer algo podre.

No outro lado da janela, atrás de arbustos entrando em época de flor, Robin sentia que as duas crianças estavam sendo entregues para si como pedaços de joias.

Quem introduziu foi outro Chanstain, aparentemente aquilo ajudava a aliviar as mentes. Moço alto, com pele corada de sol e cabelo preto que chegaria aos ombros não estivesse preso, e olhos purpúreos grandes. Devia ter mais de vinte anos e fez Robin se perguntar se Charles não aliviava a própria carga botando mais novos para trabalhar ou aquilo era exceção e o moço também queria o olhar nos olhos antes de ceder confiança. Duas garotinhas meio se escondiam atrás dele. 

Uma, que devia ter cinco ou seis anos, agarrava as mangas do vestido de cores frias e cheio de babados, e Robin imaginou que fosse irmã completa do dito moço, pois os cabelos também eram pretos, embora fosse cacheada e consideravelmente mais pálida - o que lhe chamou mais a atenção eram os olhos, grandes, pretos e com jeito de expressivos, porém estranhamente frios, com um toque mínimo de melancolia. Lembrava Robin de uma boneca.

A outra também tinha cachos, mas eram dourados, os olhos eram verdes e não havia frieza alguma, pele rósea de quem goza de boa saúde. Agarrava a calça do irmão, claramente amedrontada com o novo estranho em seu ninho. Devia ter uns três anos.

Após cumprimentos obrigatórios, os dois adultos voltaram a atenção ao assunto principal.

-- Vem, você é mais velha, você primeiro.

A de cabelo preto o olhou como se olha um traidor, mas chegou mais perto do mesmo modo. Olhou de novo o irmão, então para o estranho, o qual de agachou para a olhar no rosto.

-- Eu sou Misery.

-- E o que mais? -- perguntou o jovem lord.

-- Prazer te conhecer.

O Chanstain fez um som com a garganta.

-- ... Senhor.

-- É um prazer te conhecer também. -- Robin disse, tentando passar simpatia no tom.

A loirinha não parecia ter pego.

-- Eu quêo ficá co Miel.

-- Lily, a gente já falou sobre isso.

-- Má eu qelo Miel.

O moço (Miel?) levantou a mão pedindo para esperar e se abaixou para falar com a garotinha, Misery às vezes olhando para eles enquanto evitar olhar Robin. Depois de um momento "Lily", fazendo bico, andou para perto.

-- Shô Felity. Pázê.

-- Isso aí. -- "Miel" disse com aprovação no tom. Depois disso se aproximou e abaixou para tocar as cabeças das garotas -- E esse é o senhor Robin e ele vai cuidar de vocês quando não pudermos.

-- Já sabia. -- Misery murmurou, e Robin decidiu ignorar, assim como ter dado o primeiro nome - Handscraft devia ser difícil de pronunciar tão nova que ainda engolia os erres.

-- Espero que possamos nos dar bem. -- foi o que ele disse.

-- Espero que fique mais tempo que a Lucie. -- veio sem hesitação de "Miel". Mesmo sendo inapropriado, Robin se perguntou porquê ela foi.

Tales Of EsterpeOnde histórias criam vida. Descubra agora