Tales Of Esterpe

Send bride

Rosemary insistiu até conseguir consentimento para a meia-irmã Rowan lhe acompanhar quando chegou o momento de partir.

A maior parte da distância foi atravessada a trem, junto a um grupo de enviados, com vagão separado e aparências disfarçadas por segurança, e tempo foi passado falando sobre nada entre as duas e as acompanhantes - as oficiais - até a aproximação da fronteira.

A queda de temperatura foi terrível, mas as expressões corporais da outra dupla entregavam que não devia ser muito pior do que um inverno - e, no entanto, a sensação que vinha junto com a de raízes penetrando-lhe a carne até os centros dos órgãos internos era de estar congelando.

Era a pior, a única que escapava da névoa mental que trazia a fraqueza e fadiga. Se sentia entorpecida, vulnerável como um pombo que levou uma fechada. Só depois iria ouvir as outras falando e ficaria sabendo que elas tentaram lhe dar conforto nesse meio tempo.

Deviam ter parado em lugares... não, com certeza, pararam, se permanecesse em redução sem comer entraria em estado de coma, sem dúvidas. Quando isso aconteceu, não fazia ideia, sequer lembrava bem de ter andado ou comido, apenas que perdia e recuperava a consciência e que haviam azuis e brancos à vista. A primeira memória nítida que teve dentro do território foi quando imediatamente reconheceu que estava em uma casa de repouso.

Não apenas o Palácio Real de um país tinha esse tipo de área, mas províncias cuidadas por duques e marqueses também. Lhe dava um curioso conforto ver que, fosse no seu lar ou outro lugar, a estrutura era reconhecível:
Não uma estrutura de formas retas firmes, mas o mais próximo de circular que era possível com pedras, o meio do círculo um jardim, com mais plantas de bom cheiro do que boa aparência e algumas ervas medicinais para emergências, embora emergindo do que parecia ser uma camada bem grossa de neve - mantido com ajuda de mana, de certo. Se não fosse diferente lá, a estrutura em si devia ter quartos vazios para quando alguém precisasse ir lá, além de quartos onde dormiam enfermeiros - alguns, que eram pagos para estarem disponíveis naqueles dias, já que um dia passado lá "em caso de" era um dia que não passava trabalhando em um hospital ou asilo onde havia serviço constante -, assim como salas para diferentes tipos de cuidados e materiais, e uma biblioteca dividida entre os livros de trabalho e de entretenimento. Todas as partes com janelas grandes feitas para selarem tão bem quanto frascos de veneno, para que o necessitado pudesse apreciar o clima se estivesse bom ou ser protegido dele se estivesse feio - apesar que, provavelmente só criogênios conseguiriam apreciar a janela aberta.

Ainda sentia fraquezas, mas ao menos agora estava lúcida, então puxou a corda indicada como para sinos e, depois de confirmar que o atendeu era de fato um dos servos, pediu para as acompanhantes poderem lhe ver, sim, tinha força para receber uma visita sem grandes dificuldades.

Aparentemente ele tomou no sentido literal, pois foram as acompanhantes oficiais que entraram no quarto ("damas-de-companhia" era o nome formal, mas todos usavam somente "acompanhantes" fora de eventos). Calamiri era a que suspeitava que se afastaria para se casar primeiro, adolescência a amadureceu como uma flor que vira fruto, com um cabelo cacheado que parecia querer lhe coroar e um corpo ampulheta com busto e quadril que era um ímã de olhares para qualquer alma que gostasse de moças; Laura ficava atrás, mas não muito atrás, baixa e reta com rosto redondo, pendendo mais para fofa do que bela. Não eram tão próximas quanto a meia-irmã, mas isso não significava que não gostava delas. Apesar da carga de obrigatoriedade, ainda foram suas parceiras de adolescência e final de infância, e, do mesmo modo que vida muda as pessoas e pode fazer as amizades da meninice se afastarem, quando não o fazia existia uma curiosa segurança provida por saber que quem está ao seu lado conheceu os seus momentos de tolice juvenil e não lhe estima menos por eles.