Tales Of Esterpe

Big name

Neania não gosta de vários tipos de dinâmica de poder, mas há um tipo de poder que é impossível não sentir até na alma: dinheiro. A verdade é que, democracia, monarquia, anarquia ou qualquer outra "quia" que exista, nenhum projeto acontece sem fundos.

Isso inclui as cidadelas. Mesmo que parte considerável do mantimento interno fosse feito pelos próprios usuários, seria inocência demais achar que um bando de adolescentes e alguns gatos pingados de adultos, mesmo que um número de três dígitos, é o bastante. E recursos precisam vir de algum lugar. Uma parte vinha de impostos, outra vinha de indivíduos em troca de alguns privilégios. Como, por exemplo, poderem pegar um lugar com uma seleção muito menos rigorosa, então nenhuma surpresa quando um pessoal de nome grande entrou sem grande aviso.

Na verdade, a maior surpresa foi a falta de barulho feito a respeito. Talvez o rumor quase imediato que aquilo era um exercício de humildade era real. Havia até a porção que tirava alguma alegria de ter jovens privilegiados jogados nas mesmas pilhas que a si.

Ódio dos que não têm poder aos que têm realmente é universal.

Embora, do ponto de vista de Thomas, aquela alegria não tinha muita base. Os três não pareciam estar se sentindo inferiorizados ou tentando manter imagem alta. Se qualquer coisa, pareciam estar tentando manter um perfil baixo: estudavam, trabalhavam, e não demonstravam insubordinação. Não era dos grupos de mexericos, mas também não era surdo.

Eram irmãos, mas aquilo era notável só de olhar para os rostos, se não acabasse achando que era a mesma moçoila usando três perucas - incluindo o macho adulto, cuja figura poderia causar confusão em que não fosse atento e mostrava que bons genes não têm data para manifestar. Uma das moçoilas tinha cabelo preto e liso, o moço cabelo loiro ondulado, a outra cabelo liso que poderia ser castanho claro ou loiro escuro. As cores dos olhos também eram diferentes, embora não tivesse prestado tanta atenção nisso. Todos estavam no grupo de física, apenas a morena em um separado que só quem participava sabia o que era. Em teoria. Na prática todos sabiam que era feitiçaria. Previsível. Como saber se uma pessoa faz parte de um grupo exclusivo? Ela vai contar. Uma coisa que contos antigos acertam é que ser humano não sabe guardar segredo.

A pior parte era que o lado ser humano curioso começou a ganhar o cabo de guerra. Feitiçaria é muito mais interessante do que necromancia, ou pelo menos era menos mal vista. Se fosse seis anos mais novo... não faria uma pena de pinto de diferença, mas se pode sonhar.

-- Você acha ruim pensar tanto, Zuzu? -- perguntou murmurando, com o quão estreitos aqueles quartos eram, a grossura das paredes era uma coisa difícil de estimar, então seria fácil ser ouvido e os "vizinhos" acharem que Tom estava louco -- Quer dizer, tiraram uma das gente como a gente pra pôr uma feiticeira, é normal ficar curioso, não é? 

Zuzu só encostou a cabeça no colo do dono, é claro ("Zuzu", seu cachorrinho Zuzu já havia partido a muito tempo, então quem estava lhe fazendo companhia era uma formação, os ossos do verdadeiro Zuzu envoltos em material escuro que preenchia o que um dia teve carne e pelos, duas massas de névoa branca onde um dia houveram olhos e os ossos em questão visíveis e brilhando no mesmo tom de roxo de sua magia; quando o tocava, a sensação era bizarra, sólido o bastante para segurar ao mesmo tempo que parecia se desfazer sob seus dedos; se animais têm alma, a de Zuzu já estava no outro lado, mas a formação se comportava como Zuzu, e isso era conforto o bastante). Tom o acariciou atrás das orelhas em resposta, com cuidado para não arranhar com o anel de espinhos ou sujar com o sangue pingando.

-- Eu sabia que você entenderia, meu bem. Ninguém é de ferro, não é mesmo? Essas belezinhas que vão ser, se os mestres aprovarem. Em menos de um ano, Zuzu, não é uma coisa linda? -- "Zuzu" respondeu praticamente escalando em seu colo e pressionando a cabeça fria contra as costelas por cima da roupa, e Thomas correspondeu o carinho com empolgação -- É sim, mas você é mais!