Woori - Caminhos Novos - Série Médicos Do Fim

Capítulo 19 - Minha pequena coreana

Enquanto ouvia o médico tocar, Vanessa decidiu fazer música também. Ela estendeu as mãos até um violino que estava preso na parede e passou os dedos por ele, com delicadeza. Ao sentir a textura de madeira do violino branco, sorriu.

Desde que conheceu Jeong-ho na escola da Coreia, se tornaram amigos depois de um trabalho em grupo. Jeong-ho compartilhou sobre Jesus e sobre a esperança de que tudo está nas mãos dEle. Aos poucos, Vanessa, mesmo tendo pais ateus, decidiu se entregar a Deus e no dia do seu batismo, ouviu aquela mesma música que Gustavo tocava no piano.

A música também fazia parte de sua vida. Desde criança, foi ensinada a tocar violino e piano. Também fez aulas de ballet até os quinze anos e aprendeu muito sobre artes e grandes pintores do passado.

Vanessa Kim tinha um QI de 140 a 150. Era mais inteligente do que a maior parte dos alunos de sua classe, deixando espaço apenas para Jeong-ho competir com ela, já que o mesmo tinha um QI de 130 a 140, e ficava em segundo lugar no ranking da escola. Apesar de ser considerada um gênio, ela nunca se comportou como superior a qualquer um de seus colegas de classe.

Era de sua personalidade fingir ser boba quando era mais esperta do que a maioria. Fingia ser quieta, mas assim que ficava entre amigos, era falante. Fingia não saber tocar nenhum instrumento, quando sabia cantar e tocar piano e violino perfeitamente. Ela não tinha consciência de quão ruim era fingir ser alguém que não era, mas depois de chegar no Brasil, começou a perceber a gravidade da coisa. Por isso, escolheu compartilhar seu verdadeiro eu para alguém próximo.

Gustavo Mark seguia tocando o piano com agilidade, até que Vanessa pegou o arco do violino e o passou com delicadeza sobre as cordas, fazendo uma melodia voar pelo cômodo. O médico olhou para ela com surpresa. A coreana não percebeu a surpresa dele, pois estava com os olhos fechados.

Ele esboçou um sorriso enorme, o sorriso que com frequência vinha quando estava na presença dela. Em seguida, voltou a tocar agradecendo a Deus por tê-la preparado para ele. A cada dia que passava em sua companhia, Gustavo Mark a conhecia mais e esse conhecer gerava mais curiosidade e consequentemente, mais amor por sua pequena coreana.

Assim que a música acabou, voltaram a sentar um de frente para o outro.

Gustavo a olhava com ternura. Ele não tinha mais palavras para descrever o quanto estava apaixonado. Cada detalhe dela o agradava de tal maneira que às vezes, se pegava pensando em como Vanessa Kim era incrível! Sentado na cadeira, enquanto olhava para ela, não deixou de pensar em como era bom amá-la e em como queria compartilhar o que sentia. E demonstrou isso abrindo um sorriso sutil.

Vanessa, por outro lado, entrava em pânico. Gustavo sempre a admirava daquela maneira e isso a deixava inquieta. Se perguntava o que ele via de tão interessante, e apesar de não saber porque, queria acreditar que era porque ele a amava. Óbvio que "nunca" iria assumir isso, mas ela, enquanto o fitava, ansiava por seu amor.

E os dois ficaram se olhando por alguns segundos, até que alguém que estava na sala ao lado deixou uma caneta cair, fazendo com que os dois voltassem a realidade. Vanessa abaixou a cabeça e uniu as mãos ao mesmo tempo que a alisava. Ele fitou o teto, depois o piano e quando tentou lutar contra a mente, já estava olhando-a novamente.

Gustavo sorriu e balançou a cabeça. Decidiu que já a tinha constrangido demais e resolveu quebrar o gelo.

— Então você também gosta de música? — disse ele, inclinando o corpo para frente a fim de se aproximar. Depois apoiou os cotovelos em cima da mesa e esperou por uma resposta.

Vanessa não estava acostumada com aquela curiosidade toda, afinal ninguém queria saber quais eram seus gostos a menos que fosse para paparicar Yeong-gi. Porém, com o tempo, foi aprendendo a compartilhar seus sonhos e tristezas apenas para os mais próximos — que conseguia contar nos dedos.