Capítulo 31 - Saranghaeoyo

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- Não? - ele arqueou uma sobrancelha, enquanto a estudava. - Você não a matou...

- Não! - revirou os olhos. - Pra que me perguntou se até você duvida?

Ela sentou novamente.

Já Gustavo ficou em silêncio, confuso. Não perguntou porque duvidava, mas porque queria que ela mesma reconhecesse a verdade. Afinal, às vezes, quando estamos contando uma mentira tão bem e a repetimos com frequência, para nós, a mentira se torna verdade.

O médico a fitou por alguns instantes, em silêncio. Então, Vanessa se deu por vencida e começou a falar:

- Tá, eu tentei matar a Melissa - mentiu novamente. - Estava fora de mim, com tanta raiva de tudo que ela estava me fazendo passar aqui, que não aguentei!

Contou a meia verdade tentando se convencer de que aquilo era o melhor. Mas se ele continuasse insistindo, não sabia se ia conseguir fingir por mais tempo. Gustavo sabia lê-la muito bem, e apesar dela estar se esforçando para enganá-lo, ele não ia cair tão fácil.

- Mas não é assim que se resolvem as coisas, Vanessa... O que você fez com a Melissa é muito mais grave do que está achando.

Ela fechou os olhos e demorou para abri-los, pensando no próximo passo a dar.

- Tá, eu sei disso... Eu sei que não é desculpa, mas não vi outra alternativa! Se continuasse assim, meu pai ia...

A coreana abaixou a cabeça nesse momento, sabendo que falou mais do que deveria. Se Gustavo descobrisse a verdade, tudo que fez até aquele momento estaria perdido e não podia se dar ao luxo de falhar. Então, levantou a cabeça e voltou a olhá-lo, com um meio sorriso, orando para que Deus a ajudasse a sair daquele emaranhado de mentiras.

- Seu pai? Como assim seu pai? - perguntou, começando a ligar os pontos.

- Nada, Gustavo - ajeitou a postura e coçou a garganta antes de voltar a falar. - Eu sei que agi errado, deixei meu temperamento tomar conta de mim, senti tanta raiva de tudo que tentei acabar com meu sofrimento e... - ela fez uma pausa, respirou fundo e deixou as lágrimas saírem.

De novo, outra lágrima. Outra irritante, frustrante e deprimida lágrima...

- Até quando? - pensou, fitando a multidão que se escondia no abrigo. - Até quando vou ter que me sacrificar pelo bem de todos? Eu mereço, pelo menos, sua confiança, Gustavo. Por que está agindo assim comigo? Por que não faz a mesma coisa que fez com a Melissa quando ela estava mal? Será que você pode só ficar aqui...

Vanessa não estava bem; pensou que podia lidar com as consequências das próprias ações, mas acabou descobrindo da pior forma que era "fraca" nisso. Ela queria o abraço, o aconchego e amor de Gustavo, e, por outro lado, queria provar para si mesma que era forte o bastante para lidar com os próprios problemas. Ela queria ser uma boa médica, mas acabou se perdendo dentro dos ideais... Desejou ser uma boa filha, mesmo com pais ruins e se esqueceu de se amar acima deles... Eram muitos problemas e a pequena coreana que um dia começou a se erguer, começou a se perder em si mesma.

A mulher que Gustavo Mark passou a admirar estava morrendo e morria por não confiar em outras pessoas para ajudá-la a carregar a dor.

É verdade que a dor é solitária. Só quem sente, entende a si mesmo e compreende o nível do próprio sofrimento. Quando um médico pergunta de um a dez, em qual nível a dor do paciente está, mesmo que se esforce, não sabe quão doloroso é. Então, apesar de Gustavo buscar se colocar no lugar da pequena coreana, só quem a entendia era Deus - e ele ia entender isso. No entanto, apesar desse fato, a dor também existe para ser compartilhada. Quando se pode contar com alguém para ajudar a carregá-la, tudo fica diferente. O sofrimento não desaparece, mas quem compartilha o que sente consegue lidar melhor com os próprios sentimentos.

Woori - Caminhos Novos - Série Médicos Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora