Capítulo 19 - Merecem ter os ossos quebrados

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— Quarto quinhentos e um, à direita — a recepcionista informou, estendendo o braço.

Vanessa confirmou com a cabeça e começou a andar.

Seus olhos ainda estavam avermelhados e inchados, mas ela tratou de esconder isso com um óculos de sol escuro, boné abaixado e maquiagem. Caso alguém reparasse bem, ia perceber que aquela menina abatida era a grande herdeira dos conglomerados, cujo pai acabou de morrer. Pois, por baixo daquele disfarce ela ainda era a herdeira. Mas, ninguém teve a ousadia para retirar o boné, e foi assim que Vanessa Kim conseguiu ir até o quarto.

Ela passava por corredores de hospitais há seis anos, mas nunca reparou como eles eram assustadores para os familiares e amigos dos pacientes. Sempre foi muito fácil caminhar entre os corredores. Eram largos, sem obstáculos, iluminados e limpos. No entanto, enquanto ia ao encontro de Gustavo Mark, eles pareciam como o corredor da morte! Pequenos, escuros e sufocantes...

— Vamos te esperar aqui — o segurança que o Juiz Kang conseguiu, disse.

Ele estava acompanhado de mais dois homens altos. Se alguém tentasse matar Vanessa ou Gustavo, teriam que se esforçar muito, pois no total, eram sete seguranças e dois policiais das forças especiais da Coreia guardando o quarto.

— Se eu precisar, aviso — ela respondeu, e abriu a porta.

No momento em que passou pela porta do quarto, sentiu a nuvem negra se dispersando lhe dando espaço para respirar melhor.

Então, seus olhos passearam pelo lugar; era bem iluminado, com grandes janelas de vidro que proporcionavam uma vista muito bonita de Seul, capital da Coreia do Sul. Haviam duas cadeiras azuis perto das janelas, e uma mesa pequena e redonda com uma bíblia, que provavelmente foi deixada por Jeong-ho. Uma TV ficava na parede, e Vanessa reparou em uma estante com livro ao lado da cama, e sorriu, pois, seu pedido foi atendido. Quando Gustavo acordasse, não ia ficar entediado. Um quadro rústico estava preso à parede, e quando a coreana o olhou, sentiu paz. Gustavo estava deitado e dormia. A cama estava um pouco inclinada, permitindo que ela reparasse melhor no rosto sereno dele. Mas, Vanessa se entristeceu assim que olhou para o braço enfaixado.

A passos lentos, foi até a cama. Retirou os óculos escuros, o boné e balançou a cabeça, permitindo que os fios se unissem no lugar. Tentou erguer o braço para tocá-lo, mas não conseguiu. Vê-lo daquela forma a fez entender que às vezes, as pessoas podem ser mais cruéis do que podia imaginar. Infelizmente, Gustavo estava pagando o preço pela maldade humana.

— Sinto muito — começou a falar. Ela sentia um misto de emoções e quem olhasse, conseguia perceber o que ela sentia só pela intensidade que olhava para Gustavo. — Seu braço, e essa testa enfaixada, é tudo culpa minha. Você sempre conseguia chegar quando eu chorava e precisava de proteção, mas não consegui te proteger. Você só precisou de mim uma vez, e falhei. Miane... Miane...

Gustavo parecia não se importar com o que ela dizia. O rosto continuava tranquilo. Apesar dos leves arranhões que conseguiu durante o acidente, sua beleza continuava ali. Os cabelos estavam alinhados, como se alguma enfermeira tivesse se dado ao trabalho de penteá-los. Além disso, a testa enfaixada foi resultado da pancada que levou ao bater a cabeça no vidro da janela do carro, mas graças a Deus, só precisou levar seis pontos na testa e nada mais. O gesso tinha um desenho que com certeza foi feito por Jeong-ho. Fora isso, Gustavo parecia estar mesmo bem. Jeong-ho não escondeu nada.

Depois de passar os olhos pelo corpo dele em busca de mais ferimentos, Vanessa levantou, puxou a poltrona para mais perto da cama e sentou. Então, cruzou os braços e ficou ali, em silêncio, vendo ele dormir.

Muitas coisas passaram por sua mente, como o fato dele ainda estar tão fofo e bonito mesmo com a roupa do hospital. Ou, por sua pele ainda ser como a de porcelana, fazendo-a admirar seu rosto mais ainda. Ou como o fato de continuar apaixonada por ele, apesar de ter passado algum tempo sem vê-lo com frequência. Também sorria ao reviver os momentos que passaram juntos, momentos que não envolviam lágrimas e mágoas, pois a única preocupação que tinham era a de se amar. Ela reviveu o último instante que estiveram juntos, quando Gustavo a abraçou e sussurrou que a amava, enquanto estavam admirando o mar. O abraço foi tão acolhedor e quentinho.

Woori - Caminhos Novos - Série Médicos Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora