Capítulo 2 - O Deus que acalma tempestades

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Vanessa acordou pela manhã três horas antes de pegar o voo direto para Seul. Após fazer a higiene e ler a bíblia, foi para a sala do apartamento. Quando chegou lá, uma cabeleireira especializada em cabelos coreanos a esperava com sua equipe. Vanessa fez um aceno de cabeça e deu um meio sorriso para ela. Em seguida, caminhou até a cadeira e sentou, entendendo que a profissional já sabia qual corte queria, pois enviou as imagens para Ji-hoon no dia anterior.

Uma hora depois, o corte estava feito, bem como suas unhas e maquiagem. A roupa que ia usar estava passada e estendida em uma arara, próxima ao sofá do apartamento. Vanessa agradeceu as profissionais com uma reverência demorada e recusou a ajuda para trocar de roupa.

Meia hora depois do processo acabar, a coreana estava em frente ao espelho do quarto. Ela deu uma boa olhada em si e sorriu de canto.

Todas as roupas que Vanessa Kim usava eram escolhidas para se encaixarem na imagem que seu pai havia criado para ela. Calças jeans, vestidos adoráveis, sapatos de salto alto e blusas em tons claros eram parte dessa falsa imagem de Kim Nari, a filha e herdeira de um poderoso conglomerado sul-coreano. Apesar de ter se acostumado com essa aparência, Vanessa preferia um estilo mais descontraído, com sapatos brancos, calças de alfaiataria, sobreposições e blusas em tons pastéis.

Ela também sonhava em ter uma franja curta, pois achava o corte lindo quando via suas amigas do colegial com ele. No entanto, raramente podia se expressar através de suas roupas e estilo, porque isso afetava as vendas de algumas lojas pertencentes aos seus pais. Afinal, mesmo sendo médica, ela ainda era uma figura pública na Coreia, uma das mais influentes no país, aliás. Tudo o que ela dizia, gostava ou vestia tinha um impacto na população e nos lucros do conglomerado de seus pais.

Mas, a Kim Nari tinha morrido há muito tempo. Então, o primeiro passo para ser ela mesma era mudar o visual.

Seus olhos, assim que viram o reflexo no espelho, começaram a encher de água. Ela passou as mãos pelos fios negros e inclinou a cabeça de leve, se admirando mais. O cabelo que antes batia no meio das costas, agora parava um pouco abaixo dos ombros. A franja lateral que era quase uma marca para seu visual, desapareceu, dando lugar a uma franja meia lua. A maquiagem continuava no estilo leve e as bochechas que eram rosadas naturalmente, foram realçadas com blush. Ela usava um sapato branco, uma calça de alfaiataria um pouco mais larga e folgada na bainha, e o tecido cobria uma parte dos sapatos brancos. A blusa era branca e por cima havia um casaco azul marinho.

- Está satisfeita? - Ji-hoon perguntou, se aproximando do espelho.

A coreana sentiu o coração acelerar. Às lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e ela fungou.

- Ele ia dizer que estou bonita? - sussurrou, limpando o rosto com as costas das mãos. - Ele dizia que eu fico bonita de qualquer jeito. - sorriu. - Ele tinha razão, não acha?

Ji-hoon sorriu e confirmou.

- Mas temos que ir, senhorita Kim...

Ela deu mais uma olhada no reflexo do espelho e respirou fundo.

- Temos que ir...

Ji-hoon abriu a porta e a coreana saiu do apartamento. No carro, indo para o aeroporto de Brasília, olhou pela janela lembrando as últimas palavras que Deus lhe disse:

"[...] Ele acalmava a tempestade, e as ondas ficavam quietas."

Não sabia se voltaria para o Brasil, se o veria novamente ou se ainda se casariam. Mas, apesar das incertezas e de um pouco de medo, no fundo, sentiu paz por causa das últimas palavras de Deus. E foi com a certeza de que seu Appa ia acalmar a tempestade que ela embarcou no avião rumo a Seul, capital da Coreia do Sul.

Woori - Caminhos Novos - Série Médicos Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora