Capítulo 10 - O coração quebrado

20 4 0
                                    

Vanessa caminhou ao lado de Gustavo até o elevador. Eles ficaram em silêncio, a porta se abriu e ambos entraram. Quando ela foi clicar no botão do seu andar, percebeu que Gustavo foi mais rápido, só não entendeu como ele sabia em que andar ia ficar. Mas preferiu não falar demais, já tinha feito besteira em sua frente, por aquele dia, já bastava.

No entanto, o mesmo médico que foi tão importante para sua carreira e vida pessoal estava ali, bem ali.

Em diversos momentos de sua vida ele foi usado por Deus para tocar seu coração. Isso acontecia porque Gustavo palestrava e Vanessa fazia questão de comprar os ingressos para ir. Ao final de cada palestra, ele deixava uma mensagem para os participantes e era isso que Vanessa mais ansiava durante o dia de palestras. Sim, admirava-o pelo grande médico que era, mas também sentia orgulho do ser humano chamado Gustavo Mark e agora ela estava ali, bem pertinho dele. Queria contar tantas coisas, compartilhar seus estudos sobre tratamentos de câncer, desejava lhe dizer como ele foi um instrumento poderoso para salvar sua própria vida, mas não o fez. Simplesmente entrou no elevador e se comportou como uma muda.

Gustavo passou a mão pela nuca e coçou a garganta.

Vanessa continuou quieta.

Não seria a primeira a falar. O encontro de mais cedo foi terrível! Não imaginou que seu segundo contato com ele daquele jeito tão... tão desastrado. Mas seu tique com comida tinha lhe dado problemas. Ficou muito envergonhada que montou um plano na cabeça:

Quando o elevador parar, vou ser a primeira a sair. Preciso me apressar e devo fechar a porta sem pensar duas vezes. É isso, vai dar certo...

A coreana, tremendo de nervoso, revisava o plano mentalmente enquanto dividia a atenção com o monitor que indicava o andar que estavam.

Ainda está longe, que demora — Sussurrou e respirou fundo. Em seguida, cruzou os braços, os deixando na altura da barriga. — Que sensação de fraqueza chata... Mais essa agora...

— Está tudo bem com você? Tem certeza? — ele perguntou, se virando para ela. Parecia preocupado de verdade, e novamente, Vanessa sentiu a sensação de pertencimento.

A coreana virou a cabeça para o lado. Gustavo era mais alto que ela e mesmo com o salto, ficava pequena do seu lado. Ele estava com as mãos dentro do bolso da jaqueta e a alça da mochila estava quase caindo, mas o médico parecia não ligar. Então, novamente, sorriu para ela enquanto esperava uma resposta, mas Vanessa não deu.

O que eu estou fazendo? — se perguntou mentalmente, respirando fundo de novo. — esse elevador que não chega logo, parece mais uma carroça ambulando. Não! A carroça é mais rápida que isso. — ela deu um leve chute na lateral do elevador e voltou a encarar o monitor que mostrava o andar em que estavam.

Gustavo coçou a garganta e voltou a olhar para frente, esperando o elevador abrir as portas. Estava decepcionado consigo, pois sempre foi péssimo em fazer amizades com qualquer um que fosse, o máximo que conseguia era ser amigável com as crianças do orfanato que vinha visitar uma vez por ano. Mas sua "falta de simpatia" foi pior na adolescência. Mudou quando foi para Oxford e conheceu um jovem que foi seu colega de quarto. Mas não gostava daquele "problema" de personalidade. Quando chegou ao Brasil novamente, dessa vez para trabalhar no hospital Caller, ficou surpreso com a recepção que recebeu e foi mais fácil fazer amizades.

Parece que não avancei em nada... Fazer amizades não é mesmo meu forte — ele resmungou baixinho para que ela não ouvisse.

Entre esse pensamento e a ideia de puxar outro assunto, as portas do elevador abriram, o fazendo desistir de vez.

Woori - Caminhos Novos - Série Médicos Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora