Capítulo 2

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Maraisa •

Acordei cedo e arrumei a Maiara pra nossa reunião no escritório hoje. Depois do café, nós fomos pro carro e em minutos já estamos na porta da Workshow.

Mara: oi gente, bom dia! — entro no escritório de mãos dadas com a Mai —

Mai: bo dia pissual!

Sorrio levemente e tomo meu assento na mesa de reuniões. Muito inteligente, minha Balala me observa e faz o mesmo.

– então, a dupla está ganhando sucesso, isso é ótimo!

Mara: isso é mais que ótimo!

Pe: vocês têm talento, seria impossível não virar sucesso.

– é ótimo, mas temos um problema.

Mara: que problema?

– a sua primeira voz. Como todos sabemos, Maiara não é...normal. E se ela não for capaz de cantar pra um público de show maior?

Mai: Balala cosegue xim! ― cruza os braços e faz bico ―

Mara: ei, calminha... ― deposito um beijo no topo da sua cabeça ― 

Arqueando a sobrancelha, volto o olhar para a mesa de reuniões.

Mara: em primeiro lugar, minha irmã é perfeitamente normal, e em segundo, ela pode sim cantar pra qualquer público, eu confio nela.

— mas ela é uma aberração!

A Maiara sai correndo e eu vou atrás dela. Minha vontade era quebrar esse imbecil no soco, mas não posso fazer isso na frente da minha bebê.

Mara: Balala... — me aproximo dela — não chora...

A Maiara me olha com os olhos cheios de lágrimas, as bochechas molhadas e as mãos agarrando firme seu ursinho de pelúcia branco.

Mai: bocê acha te Balala é abelação?

Mara: não, meu amor... — seco suas lágrimas — você é minha metade, meu bebê...

Mai: — sorri — bebê da metade!

Mara: vem, vamo pra casa tomar um banho bem gostoso e depois a gente pode assistir filme, o que acha?

Mai: Balala gotou da ideia!

Chegando em casa, ela foi direto pro quarto. Eu dei um banho nela e nos deitamos na cama, assistindo o filme favorito dela. Mais calminha, ela ficou mamando sem tirar os olhos da tv.

Mara: tá mais calminha, meu amor? — ela me olha — a metade te ama, tá?

Ela sorri com os olhos e volta a ver o filme. Ficamos assim até a Balala adormecer, me deixando livre pra arrumar o quarto, mas antes que eu o faça, meu telefone toca e eu atendo antes que a Mai acorde com o barulho do toque.

Ligação on

Mara: oi, amor, pode falar!

— cê pode almoçar comigo hoje?

Mara: eu acho que não vai dar, a Maiara tá meio tristinha hoje...

— você nunca tem tempo pra gente, é sempre ela! Tudo ela!

Mara: chega! Você tem que entender que  minha irmã precisa de mim! Se não entende isso, é melhor a gente terminar, até nunca mais!

Ligação off

Desligo na cara dele, deixando uma lágrima cair. Quando me pediu em namoro, Bill sabia da condição da Maiara e que ela necessitava de atenção redobrada, ele sabia o que tinha acontecido com a minha irmã e como aquilo tinha me abalado, mas parece que esqueceu. Olho pro anjo ruivo dormindo tranquilamente e deixo algumas lágrimas caírem. Ela se mexe e ao me ver chorando, vem até mim e me abraça com seu jeitinho carinhoso.

Mai: nhão chola, metade, Balala tá ati...

É incrível a habilidade que ela tem de me acalmar mesmo sem entender muito bem os motivos que me deixam triste. Deito com ela e volto a vigiar seu sono. É insano pensar que ela nem sempre foi um bebê preso no corpo de uma mulher adulta.

Maiara já teve uma vida normal, agindo como uma pessoa da idade dela e tomando as próprias decisões, mas tiraram isso dela.

dois anos atrás...

Maraisa

eu nunca gostei do namorado da minha irmã, e eu estava certa. Ouvi os gritos da Maiara ecoarem pela casa inteira quando cheguei, subi as escadas na velocidade da luz, mas quando cheguei no quarto dela, a porta estava trancada. Pude ouvir sons abafados de pancadas e o baque de um corpo no chão, minha metade gritava o meu nome enquanto chorava  desesperada, cheia de ódio, eu começei a socar aquela porta como se a minha vida dependesse daquilo.

Mara: ABRE ESSA MERDA AGORA! LARGA ELA AGORA!

arrombei a porta com um chute e pude ver claramente o que diabos estava acontecendo. Parecia uma cena de terror, minha irmã nua em cima da cama, roupas rasgadas e espalhadas pelo chão, objetos quebrados e manchas de sangue nos lencóis de seda.

Mara: o que você fez com ela?! FALA FERNANDO! O QUE QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA IRMÃ?!

Pulei em cima dele e comecei a distribuir socos com toda a raiva que eu tava sentindo. Bati tanto que ele ficou desfalecido no carpete. Me aproximei da Maiara e pude ouvir o som de algo quebrando dentro de mim. Ela tava encolhida, tremendo, o rosto escondido nas mãos, os cabelos bagunçados e sangue entre as pernas. Ela gemia de dor e não parava de chorar. Eu fechei os olhos e a abraçei, ouvi o som de sirenes e os gritos da minha mãe na porta de casa, mas não me movi, fiquei ali com ela.

● ♤ ●

Desde então, a Maiara nunca mais foi a mesma. O trauma fez ela se trancar dentro do próprio subconsciente pra fugir da realidade. Ela se comporta como um bebê inocente pra se proteger, é o mecanismo de defesa dela. Cada vez que olho pra minha irmãzinha, eu vejo que ali dentro, perdida, tem uma Maiara confusa e assustada.

Mai: metade! metade! ― me chacoalha ―

Mara: o que é, meu amor?

Mai: Balala co fominha!

Mara: vamo lá na cozinha preparar a sua comidinha, irmã

Chegamos na cozinha e ela já foi abrindo a geladeira, procurando alguma coisa. Minutos depois, ela vem até mim com um prato de pizza congelada e uma potiguarzinha.

Mara: isso não é almoço, Balala ― a olho ―

Mai: mas Balala que pizza e que chopi!

Mara: tem certeza que não é melhor uma salada com arroz e franguinho grelhado?

Mai: comidinha da metade?

Mara: isso, garota esperta! Mais tarde eu deixo você comer pizza, tá bom? Vai lá por isso de volta na geladeira

Mai: xim, metade!

Ela me olha sorrindo e obedece.



baby MaiOnde histórias criam vida. Descubra agora