Capítulo 17

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dias depois

Maraisa

voltamos pra nossa casa em Goiânia. Maiara, por incrível que parece, pediu pra que nada no quarto dela fosse mudado, ela quer do jeitinho que está. Hoje a Lila vai trazer o Léo pra jantar com a gente, assim nós vamos poder conversar com ele com mais calma. Então, como vamos receber visitas, eu estou arrumando o quarto da Mai enquanto ela assiste desenho na tv dela enrolada na naninha rosa.

Mai: metade, o cachorrinho é engaçado! - ri -

Mara: ele é engraçado mesmo, metade - recolho alguns brinquedos do chão - mas já tá na hora de desligar essa tv e ir tomar um banhozinho, não é, meu amor?

Mai: metade vai dá banho na Balala?

Mara: se você quiser

Mai: Balala quer!

Mara: então vem - guardo os brinquedos e viro de costas - pula aqui!

ela pula nas minhas costas e eu carrego ela até o banheiro, onde já estava tudo preparado pro banho. Ela tira a roupa e entra na banheira.

Mara: eu vou pegar o xampu, você precisa ficar bem cheirosa pra dar um abraço de urso na Lila ⎯  procuro na prateleira ⎯

Mai: metade... ⎯  me chama ⎯

Mara: sim? ⎯  olho pra ela ⎯ 

Mai: fica na banheira comigo? ⎯  fala envergonhada ⎯

Mara: você não precisa ter vergonha de me pedir nada, irmã 

tiro minha roupa e entro na banheira. Me aproximo dela e deito sua cabeça em meu peito, fazendo um leve cafuné em seus cabelos molhados.

Mara: agora que a Balala deu um tempo, me conta, o que tanto atormenta esse coraçãozinho?

Mai: eu dei muito trabalho pra você todo esse tempo, ainda sou um peso pra você...

Mara: para com isso, você nunca vai ser um peso pra mim... 

Mai: por que você insistiu tanto em cuidar de mim? por que ainda insiste? ⎯ me olha ⎯

Mara: por que você cuidou de mim quando eu tava no meu pior... ⎯  colo nossas testas ⎯  você me fez viver quando tudo que eu queria era morrer...

Mai: eu precisava cuidar de você...

Mara: assim como eu preciso cuidar de você...

fecho os olhos e me lembro do meu pior momento, da minha irmã cuidando de mim quando eu estava despedaçada, e então, lembro também do poema que li em um dia perdido daquela época:

"Faz de conta que ela não estava chorando por dentro – pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver."



maratona hoje, pessoal!

Esse trecho, assim como um dos muitos que pretendo trazer aqui, é de uma poetisa que eu amo muito, Clarice Linspector.

Querem um capítulo explicando o que aconteceu com a Maraisa no passado?




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