🍎 1 » Rosto bonito

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│🦋 Dulce María

Na adolescência, é comum as pessoas terem a fantasiosa ideia de que a fase adulta será uma maravilha e elas fazem mil planos para quando atingirem a maior idade. Porém, a maioria dessas pessoas tem seus planos frustrados e não conseguem realizar a metade deles. A decepção chega junto com as contas que precisam ser pagas todos os meses, com a fadiga do trabalho, com as noites mal dormidas (devido aos estudos) e com os problemas que parecem não ter fim. 

Pois é, a emancipação não é um mar de rosas. A vida adulta não é uma das coisas mais fascinantes do mundo. Pelo menos não quando você não é alguém que nasceu em berço de ouro e que precisa correr atrás de seus objetivos. Aos meus dezesseis anos, eu já estava fazendo uma lista do que faria quando chegasse à fase adulta:

1 - uma faculdade;
2 - comprar um carro de último modelo;
3 - comprar uma casa ou apartamento;
4 - ter um namorado e planejar o matrimônio;
5 - economizar para a festança de casamento e para a viagem às Maldivas;
6 - planejar filhos (isso mesmo, no plural!).

Bom, eu até consegui realizar algumas das coisas dessa minha listinha: faço faculdade, tenho um carro (que possui apenas um assento, não tem portas e nem teto), a casa onde moro está caindo aos pedaços e em breve eu acho que vai virar um museu (outro detalhe: é alugada), eu até tinha um namorado (mas nós terminamos anteontem), minhas economias são para comprar uma casa própria, e quanto aos filhos, eu tenho: ela se chama Luna, uma gata branquinha e fofa.

E agora, ao invés de uma lista com objetivos pregada no mural do meu quarto, eu tenho uma lista com "Os 5 Nuncas" para usar no meu dia a dia:

1 - Nunca deixar de ser quem sou;
2 - Nunca desistir na primeira tentativa;
3 - Nunca subestimar a minha força e potencial;
4 - Nunca deixar de fazer algo por medo do que os outros vão pensar;
5 - Nunca me culpar por coisas que fogem do meu controle.

Enquanto começo mais um trabalho da faculdade, escuto alguém bater na porta. Nem campainha essa casa tem. Mas mesmo com todos os defeitos, o valor do aluguel cabe no meu bolso e a localização é bem próxima à universidade onde estudo. 

Como estou usando pijama, pego um casaco para cobrir as minhas coxas expostas. Me dirijo até a porta e olho através do olho mágico para saber quem está do lado de fora. Assim que abro a porta, vejo a criatura alta e loira chamada Anahí. Ela se tornou minha melhor amiga desde que entrei para a universidade, há exatos três anos. Annie é estudante de jornalismo e eu de Letras/Literatura. 

Anahí ― Por favor, não me diga que você está comendo porcarias enquanto alaga o quarto com as lágrimas que aquele babaca não merece que você derrame. {Diz enquanto vai adentrando a minúscula sala de estar}

Dulce ― Na verdade eu acabei de começar um trabalho de Literatura Inglesa. {Respondo e fecho a porta} ― Sobre William Shakespeare. 

Que ironia do universo! Justamente após o término do meu namoro de quase três meses, tenho que fazer um trabalho sobre o dramaturgo mais prestigiado e suas obras consideradas como as mais famosas e românticas do mundo.

Anahí ― Encher a cara ou não encher? Eis a questão, amiga. {Faz uma paródia da frase mais conhecida de Shakespeare e dá um sorriso sapeca}

D ― Pensei que você fosse sair com o seu peguete. Hoje é sexta-feira, dia de ter encontros e transar. {Penduro o casaco no cabideiro}

A ― A minha amiga precisa mais de mim do que ele. {Senta no sofá} ― Vá trocar de roupa logo, Dul! {Percebo que ela segura o riso enquanto me analisa}

D ― Rir do pijama alheio é feio, sabia? {Coloco as mãos na cintura}

A ― Desculpa. Mas você tem quase vinte e quatro anos. Ainda usa pijamas de ursinhos? 

Lições do Amor│VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora