🍎 9 » Herói enigmático

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│🦋 Dulce María

Dulce ― Preciso voltar para a sala de aula. {Dou ré na cadeira de rodas e faço menção de sair quando o sinal toca, mas minha mãe segura o meu braço}

Blanca ― Vamos conversar mais um pouco, filha. Você pode perder só uma aulinha, não pode? {Me olha com expectativa} 

D ― Tudo bem. {Posso pedir o conteúdo a um colega de turma. Essa aula de agora é de Análise e Produção de Textos. Uma das minhas favoritas}

B ― Juro que não vou demorar. {Sorri}

D ― Desculpe pelo meu surto, mãe. Você sabe que eu me tornei outra pessoa depois do acidente. Passei a dar mais valor à vida, às pessoas e aos momentos. {A vida é um sopro!}

B ― Eu sei. Você costumava ser muito materialista. Sempre comprava roupas das grifes mais caras, frequentava os lugares mais caros, adorava ostentar festas na piscina com os seus amigos... {Ela faz um semblante de recordação}

Aqueles não eram amigos de verdade. Só me queriam por perto quando lhes convinha. 

D ― Não sinto a menor falta daquela época. Só de quando eu podia andar. {Abaixo o meu olhar e olho fixamente para as minhas pernas}

B ― O seu pai disse que a cerca daquela sua espelunca está quebrada. O que aconteceu? {Especula, mudando de assunto}

D ― Um amigo meu bateu o carro sem querer. {Conto-lhe a mesma mentira que contei ao meu pai}

B ― O sujeito estava bêbado? Dulce, você tem andado com irresponsáveis?! {Se exalta}

D ― Como eu disse, foi sem querer. Ele calculou mal. Estava escuro e chovendo naquele dia. {Explico em tom impaciente}

B ― Quero que volte para casa. {Diz em tom de ordem} ― Aquele lugar não é pra você, Dulce!

D ― Não vou voltar. Estou onde quero e preciso estar. 

B ― Mas em que buraco você foi inventar de se enfiar, minha filha! Eu posso comprar uma casa muito melhor, mais espaçosa e mais luxuosa pra você. {Tenta me persuadir}

D ― Já disse que dispenso a sua ajuda financeira e a do papai também. Estou vivendo muito bem assim. {Digo em tom decidido}

B ― Você mal consegue pagar as suas contas básicas. Acha que isso é viver? É SOBREVIVER! Você não precisa passar por isso, meu amor. Volte para o conforto da sua casa!

D ― Não posso, mãe. {Nego com a cabeça}

B ― Abandone essa ideia de achar que as pessoas vão se aproveitar de você. {Alisa os meus fios de cabelo e joga a mecha para trás da orelha} ― Você pode encontrar amizade verdadeira no nosso meio e também um homem poderoso que te dê o devido valor. Pare de procurar essas duas coisas nos lugares errados. Aqui é cheio de gente pobre. {Se refere à universidade}

D ― Incrível como a senhora consegue ser tão soberba. {A olho com desprezo} ― Já se esqueceu que a vovó e o vovô vieram de baixo? A fortuna dos Saviñón não caiu do céu.

B ― Não entende que eu só quero evitar que você passe pelo mesmo que eu passei?! {Exaspera-se} ― Não desejo a pobreza para a minha filha. Você pode ter tudo do bom e do melhor. Tudo o que eu só fui ter depois que os meus pais morreram! 

D ― Que pena que o dinheiro lhe subiu à cabeça. {Dou ré na cadeira de rodas e passo pela lateral da mesa}

B ― Me critica agora, mas antes você era igualzinha a mim. {Joga na cara}

D ― Pois é. Infelizmente essa foi a única educação que recebi. Aliás, o meu pai também me educou, só que eu acabei seguindo o modelo de conduta da minha mãe. Sinto orgulho em ter ficado mais parecida com ele.

Lições do Amor│VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora