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VINTE E OITO DIAS DEPOIS.
A mulher estava levando uma eternidade para fazer seu pedido. Os olhos passam do cardápio para mim, enquanto se recosta no balcão. Eu conheço esse olhar. Odeio esse olhar.
Eu adoro ficar no café, com o aroma dos grãos de café e a suave mistura de música e de conversas. Amo a camaradagem que temos atrás do balcão e o fato de que o trabalho mantém tanto minha mãos quanto minha mente ocupadas. Por mais estranho que pudesse parecer, ser barista me relaxa. Sou boa nisso. E por causa dos esforços em que tinha que dedicar aos estudos, isso era um conforto. Se tudo um dia acabasse num beco sem saída, sempre teria o café para me apoiar. Era o equivalente moderno em Porto Alegre datilografia.
A cidade vive à base de grãos de café, cevada. Basicamente café e Cerveja estão no nosso sangue. Mais recentemente, porém, alguns fregueses vinham se mostrando um pé no saco.
- Você me parece familiar. - começa ela, como a maioria. - Você não apareceu na internet a um tempinho? Alguma coisa a ver com o Filipe Ret?
Pelo menos já não me retraio ante o nome dele. E já faziam alguns dias que não sentia náuseas. Não, eu não estava gravida, apenas teria meu casamento anulado. Depois dos primeiros dias me escondendo na cama, chorando até não poder mais, assumi todos os turnos disponíveis no café para me manter ocupada e parar de pensar nele. Eu não podia ficar de luto por ele para sempre. Pena que meu coração continuava sem se convencer disso.
Ele apareceu em meus sonhos todas as noites quando eu fechava os olhos. Tenho que afasta-lo da minha mente umas mil vezes durante o dia. Quando voltei a circular, os poucos paparazzi restantes tinham voltado para o Rio. Pelo que soube, Gabriel foi internado em uma clínica de reabilitação.
Sofia muda de canal toda vez que eu chego, mas eu sempre captava partes das noticias, o suficiente para entender o que estava se passando.
Parece que o Rap me segue em todos os estados. Uma noite, saindo do café, um grande grupo jovens estava tumultuando a praça, do outro lado da rua, uma batalha de Rap. Um menino entrou no café para pegar uma agua, me viu, e falou para os outros. Logo o café estava lotado de fãs, pedindo que autografasse coisas. Isso era insano, eu não era ele, eu não era uma parte dele. Não mais.
Diversas vezes, quase telefonei para ele. Só para perguntar se ele estava bem, só para ouvir sua voz. Dava para ser mais idiota? E se eu ligasse e Carmen atendesse? De toda forma, a crise de Medina é muito mais interessante do que eu. Eu mal mereço uma menção no noticiário hoje em dia. Mas as pessoas, os fregueses, me enlouqueciam.
Fora o trabalho, praticamente me tornei uma ostra. Isso tem a ver com o fato de que o meu irmão basicamente estava morando com a gente. Pessoas apaixonadas são nauseantes. É um fato médico comprovado. Fregueses com olhares brilhantes e especulativos não são muito melhores.
- Você está equivocada - disse para a mulher enxerida.
Ela me lança um olhar tímido.
- Acho que não.
Eu poderia apostar dez dólares como ela está tentando encontrar um modo de me pedir o autógrafo dele. Aquela seria a oitava tentativa só naquele dia. Alguns deles queriam me levar para casa e pagar caro por uma relação sexual comigo, porque, sabe, seu sou ex de uma estrela do Rap. Minha vagina obviamente deve ter alguma coisa especial.
Ás vezes me pergunto se eles acreditam que há uma placa no interior da minha coxa que diz: "Filipe Ret esteve aqui." Aquela ali, contudo, não estava me cantando. Não, ela quer um autógrafo.
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Sra. Ret
FanfictionAcordar ao lado de um desconhecido já é angustiante por si só. Então imagine acordar CASADA com tal? 🥈2º #ret 24/11/22 🏅7º #L7nnon 30/11/22 🥉3º #rap 15/12/22 🥇1º #orochi 21/12/22 Uma história com vibe romântica e claro, com oque mais amamos na...