Respirar dói. Abrir os olhos é ainda pior, mas forço, meu olho esquerdo não abre por completo. Mas consigo enxergar algumas coisas. Como a sala branca a luz entrando pela janela aberta, minha mãe dormindo na poltrona, ainda com o vestido da festa cheio de sangue. O meu sangue.
No sofá vejo Kiram, Rosalie e Giulia.
Me arrumo na cama, sem me mexer muito.
- Kai?- Giulia me chama.
- Giulia. - Seu nome sai quase inaudível.
- Não fala muito, a sua garganta ainda está inflamada.- Ela fala aproximando-se.
- Estou cansada. - Disse meus olhos já fechando.
- Pode dormir. - A sinto beijar minha testa.
Durmo ainda sobre efeito dos remédios.
- ... as costelas, o pulso quebrado, e o rosto machucado.- Acordo ouvindo Rosalie falando com alguém.
- Ela acordou de novo. - Vejo Kiram.
- Oi, linda.- Nico beija minha bochecha.
- O...- Sinto o incômodo nas cordas vocais.
- Não fale.- Mamãe pede, ela me olha e passa a mão em meu cabelo. - Está tudo bem, já falei com o seu tio Cris.
- Mamãe o fez tirar mais de dois raios-x seu, e umas três tomografias. - Kiram fala me encarando.
Dou um sorrisinho.
- Quer alguma coisa?- Ela pergunta. Mexo a cabeça negando. - Vou falar com o seu tio. - Ela sai junto a meu irmão.
Rosalie se aproxima.
- O seu tio médico é um gato.
- E é casado. - Sussurro.
- Não tenho preconceitos.- Ela senta-se ao meu lado.- Está doendo?
- Não.
- Para de fazer perguntas a ela.- Giulia fala olhando para Rosalie.- E você para de responder. - Ele vira os olhos para mim.
Concordo com um gesto de cabeça.
- Linda, eu trouxe isso. - Nico me entrega um livro de poemas. Sorri agradecendo. Ele coloca o livro na cama perto de mim.- Vou deixar você descansar, depois eu volto.- Ele me beija e sai.
- Como sabiam?- Pergunto.
- Para de falar!- Giulia exije.- Nós esperamos até às onze horas, e quando vimos que já passavam alguns minutos...
- Três minutos. - Rosalie corrige.
- Cala a boca.- Ela da um tapa em sua cabeça. - Ligamos para você, e foi a sua mãe quem atendeu, ela disse que estava aqui, e a gente veio.- Analiso elas, Rosalie está sem maquiagem nenhuma. E Giulia está com a camiseta do pijama, com apenas um casaco por cima. Ela me vê sorrindo. - O que foi... espera, não responde.
- Eu...
- Está em voto de silêncio. - Tio Cris fala entrando.- Abra a boca.- Ele pede, e analisa minha garganta.- Pode falar, mas não esforça muito.
- Posso ir embora?- Pergunto.
- Calma! Precisa fazer mais alguns exames, antes que sua mãe surte comigo.- Uma enfermeira entra.
- O que vai fazer?- Pergunto.
- Levá-la para fazer uma análise completa.
- Vão me esperar?- Olho para as meninas.
- Claro!- Rosalie responde.
Faço os exames, e como esperado nada muda, está tudo como antes. Volto para o quarto, as meninas foram à lanchonete. Encaro o teto, e ligo a tv que está de frente para cama. A porta abre-se.
Papai caminha em minha direção.
- Nós precisamos conversar. - Ele diz.
- Agora não. - Recuo um pouco.
- Por favor, kaira. Preciso me desculpar, não sei o que deu em mim. - Está sendo sincero. - Não lembro o que aconteceu depois que entramos no escritório. Mas sei que jamais encostaria em você para machuca-lá.
- Acredito em você. - Lembro da sombra por trás dele. - Mas não quero falar sobre isso agora.
- Entendo. - Ele vira-se para sair.- Já resolvi o problema do aluguel do seu apartamento.
- Como?- Pergunto relaxando o corpo.
- Agora é seu.- Ele sai.
Me arrumo entre os travesseiros, e fecho os olhos com cuidado.
- Está acordada? - Giulia pergunta entrando.
- Estou.- Abro os olhos.
- O seu pai comprou o nosso apartamento. - Rosalie fala incrédula.
- Eu não pedi.- Aviso.- Descobri isso hoje.
- É a forma dele de se desculpar?- Giulia pergunta sentando.
- Na verdade nunca o tinha visto pedindo desculpas. Mas ele pediu.
- É o mínimo. - Rosalie fala.
- Não, o mínimo é ele ter comprado o apartamento. - Respondo. - Não entendo.
- O que?- A loira pergunta sentando-se no sofá.
- Ele não lembra de nada. Ele parecia cego no momento. Nunca o vi daquela forma, nem quando fui embora.
- Estranho. - Giulia diz arrumando os travesseiros para mim.
- Oi? Kaira?- Mamãe me chama entrando.- Podemos ir para casa.
- Não vou para casa. - Ela caminha até mim.- Vou com as meninas.
- Para casa. - Rosalie me corrige.
- Isso.- Disse.
- Certo. Mas vou levar você. - Mamãe nunca viu o lugar onde moro.
Kiram surge com uma cadeira de rodas, e me ajudar sentar. Vamos até o carro. Entro junto as meninas, nos sentamos nos bancos de trás. E mamãe vai dirigindo. Encosto minha cabeça no ombro da Rosalie e vou descansando. O carro para no estacionamento.
Saimos, Kiram me segura, mamãe aperta o botão do elevador. Assim que ele abre entramos.
- Vamos.- Mamãe chama Rosalie, mas ela sorri e recusa, Giulia sai do elevador, e fica com ela.
- Nós vamos pelas escadas.- Giulia avisa.
- Certo.- A porta se fecha.
- Ela tem medo.- Falo.- Nunca usamos o elevador quando estamos com ela.
- Ah... desculpa, não sabia.- A porta abre-se. Saimos.
- É essa a chave?- Kiram prgunta segurando. - Estava no bolso do seu blazer.
- É sim.- Ele abre a porta. Entramos.
- Quer ficar aqui, ou ir para o quarto?- Pergunta.
- O quarto, é o último do corredor. - Ele me leva. Mamãe vem atrás observando tudo.
- É tão organizado. - Ela diz me arrumando na cama.- Estou orgulhosa.
- Obrigada. - Ela senta na poltrona perto da minha cama.- O que está fazendo?
- Me certificando como mãe de que minha filha está bem.
- Eu vou dormir um pouco.
- Não se preocupe, são efeitos dos remédios.
Kiram senta-se no canto da cama.
- Fica tranquila, maninha.
Adormeço.
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Paper Man
HorrorUm boneco de papel. Uma maldição. Como fazer para livrar-se do mal?