Está tudo errado

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Acordo do nada, sentindo uma dor de cabeça horrível, e um mal estar, meu estômago revira... corro para o banheiro, levanto a tampa do vaso, e regujito, levanto com a visão turva, dou descarga, escovo os dentes, e saio. Vou até a cozinha beber água, pego o copo e percebo que estou tremendo ao ver o copo chacoalhando entre meus dedos e a palma da mão, respiro fundo para manter a calma, estou cansada, tão cansada que pagaria para alguém me fazer desmaiar, só para ter um bom momento de sono. Encho o copo, e bebo, aproveito a falta de sono, e lavo algumas coisas que estavam na pia, caminho até o quarto, e acendo o celular, são seis em ponto. Entro no banheiro, checo meu reflexo, estou horrível. Olheiras enormes aparecendo, a pele pálida, o cabelo desgrenhado, passo um pente, faço um coque e tiro a roupa, tentando no box, ligo o chuveiro, e fico embaixo da água quente por um longo tempo, apenas relaxando, não penso em nada, desligo, e saio, me enxugo, e coloco o uniforme. Passo um pouco de maquiagem bem sutil para esconder as olheiras e a palidez cadavérica. Arrumo a mochila com comprimidos para dor de cabeça, e estomago, uma garrafa com água, e alguns livros que estou lendo no momento. Consegui dormir pelo período de meia hora, não foi suficiente, mas foi alguma coisa. Encontro as meninas ainda se arrumando. Estão tomando café, Giulia já com  o uniforme e o crachá de gerente, e Rosalie com um pijama da hello kitty.
      - Bom dia.- Ambas fala.
      - Bom dia.- Respondo sentando.
      - O que quer comer?- Giulia pergunta.
      - Nada, não estou com fome, eu só quero água.
      - Está de jejum?- Rosalie pergunta mordendo a torrada com geleia de amora.
      - Não.
      - Parece que está. - Giulia concorda.
      - Eu não estou.- As palavras saem com furia. Enterro a cabeça entre os braços.- Me desculpem.
      - Tudo bem.- Rosalie fala séria.- Mas você não está parecendo bem.
      - Estou com insônia...- respiro fundo.- Isto está me deixando louca.
       - Quer ir ao médico? Eu vou com você, aviso que vou chegar atrasada hoje.- Giulia fala, e checa minha temperatura.- Parece que está com febre.
       - Já tomei um remédio.- Aviso.
       - Kaira...- Ela soa preocupada.
       - Eu vou ficar bem, qualquer coisa aviso.- Levanto-me.- Já vou.
       - Promete ligar caso aconteça alguma coisa?- Rosalie pergunta, elas sabem que sou teimosa quando se trata de está doente, só vou ao médico em último caso.
       - Prometo.- As dou um beijinho na cabeça, Rosalie sorrir segurando a caneca, Giulia beija minha bochecha, e saio.
Chego ao trabalho e encontro Anamary com os olhos vermelhos e o rosto inchado.
      - O que aconteceu?- Pergunto, dona Angela não está.
      - A gente precisa conversar.- Ela me encara e senta, puxo um banco, e sento ao seu lado.
      - Anamary...
      - Kaira, a mamãe está doente.- Minha respiração pesa, e um nó se forma em minha garganta, me arrancando as palavras e pensamentos.- Ela fez uns exames recentemente, e descobriu um tumor no cérebro.
       - Mas tem como remover, certo? Certo...? Anamary...
       - Estou com medo.- As lágrimas começam a escorrer por seu rosto. A abraço, e percebo que estou chorando.- A livraria vai fechar, ela não quer que feche, mas não posso cuidar disso sem  ela.
        - Eu entendo.
        - Ia ligar para você e dizer que não precisava mais vir, mas com tudo isso terminei esquecendo.
        - Tudo bem, foi melhor saber sobre isso pessoalmente.- Afago seu cabelo, e sinto ela me abraçar com mais força, e apertar.- Conta comigo para o que vocês precisarem.
        - Obrigada, kaira.
        - A dona Angela faria o mesmo por mim.- Ela enxuga as lágrimas assim que nos separamos.- Bom... é melhor eu ir indo.
        - A mamãe pediu para te entregar isso.- Ela me mostra três caixas.- É a forma dela de agradecer. Ela não quer deixar você triste, mas quer te ver. Vem comigo.- Tem um carro parado em frente a loja, com um senhor.- Esse é o meu pai.- Ela fala abrindo a porta para que eu entre, ela fecha a porta da loja, e entra no carro comigo.
       - É um prazer senhor.- Falo.- Sou Kaira.
       - Sou Antony, parece que a conheço faz anos, depois de tanto ouvir elas duas falando sobre você em casa.- Ele fala já dirigindo. Conversamos até chegar a casa.
É um lugar muito bonito, com um jardim bem conservado, a casa de madeira já que é no campo, pintada de marrom, entramos, a mobilha, e toda rústica, o lugar é lindo. Dona Angela está sentada na cozinha. Vou até ela. Anamary e seu Antony nos deixam a sós.
      - Oi, querida.- Ela fala sorridente.
      - Dona Angela...- a abraço.
Ela acaricia meus cabelos.
      - Não chore querida. Quando você chora é como se o mar chorasse, é lindo de se ver, mas doloroso.- Ela bate a mão para que me sente na cadeira à seu lado.- seu olhos agora estão vermelhos, azul avermelhado.
       - A senhora... não sei como vai ser a partir de agora.
       - Eu também não, não  gosto de saber que estou deixando as minhas meninas sozinhas para encarar o mundo. Eu a amo como uma filha, e sei que sabe disso.- Ela segura minha mão.- Kaira... preciso agradecer por ter conversado com essa velha sempre que podia sem nunca ter reclamado.
      - Eu vou sentir falta das suas histórias, e das conversas sobre os livros, obrigada, por ter sido a minha maior fonte de conhecimento.- Seguro sua mão firme, e vejo que ela está cansada.-  Dona Angela...- o nó na garganta fica maior.- Não quero ficar sem a senhora, não vai ser a mesma coisa.
      - Não vai ficar sem mim, aonde você e a Anamary estiverem, eu vou estar junto, segurando a mão de vocês cheia de orgulho.
      - A senhora quer descansar?
      - Eu adoraria.- Ela beija minha testa.- Cuide-se minha querida menina.
Anamary vem e a ajuda ir até seu quarto. Seu Antony me levou até a livraria colou as caixas no carro, e me deixou em casa. Assim que entrei no meu quarto deixei as caixas no chão, eram pesada, e sentei na cama chorando freneticamente.
Rosalie abriu a porta, e me abraçou.
      - O que aconteceu?
      - Está tudo errado, Rosalie.- Tento respirar.- Está tudo errado...

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