Mamãe e Kiram, foram embora antes das seis horas. Rosalie e Giulia ficaram no meu quarto.
- Quer alguma coisa? - Rosalie pergunta.
- Não, estou bem.- Falo.
Não à muito que fazer no estado em que estou. Giulia pede comida de um restaurante italiano, e comemos.
Isso se repetiu durante as três primeiras semanas, durante o tempo em que mal conseguia ficar sentada sozinha. Elas revezavam para cuidarem de mim. Uma enfermeira que meu tio mandou sempre vinha trocar os curativos da minha sobrancelha, e ver como estava sempre que possível. Aos poucos fui conseguindo ficar de pé. Não tive coragem de me olhar no espelho. Não sei como irei reagir, e não quero. Mas preciso. E querer, e precisar são coisas completamente diferentes.
Saio da cama, e vou até o banheiro, fico parada de frente para o espelho, mas com a cabeça baixa. Então, levanto. Tem uma fita branca sobre minha sobrancelha esquerda, unindo a pele, e meus olhos tem marcas roxas profundas. Não estão mais inchados. Levanto a camiseta cinza do pijama, e lá estão mais marcas, um degrade de preto, roxo, vermelho, e verde, assim como meus olhos. Minha mão direita engessada terminando um pouco antes do cotovelo, me impedindo de mover o pulso. Respiro fundo encarando meu reflexo tristemente. Me sinto horrível, e não em questão de aparência. Molho a mão esquerda e passo no rosto. É um péssimo momento para ter um choque de realidade, mas não consigo impedir. Estou completamente confusa com tudo isso. Saio do banheiro, e sento-me à beira da cama.
Começo chorar de forma involuntária, não consigo impedir as lágrimas de começarem rolar por meu rosto.
- O que aconteceu?- Rosalie pergunta entrando, e vindo me abraçar.
- Não sei.- Assumo.
- Certo... não precisa saber agora.
Ficamos abraçadas até que consigo parar de chorar, ela fica deitada comigo.
- Estou confusa com tudo isso que está acontecendo, Rosalie.- Falo.
- Eu sei, e não é para menos.
- As coisas estão muito estranhas.
- Você precisa sair um pouco. - Ela senta, e olha para mim. - Amanhã vai ter uma festa na piscina de um cara da faculdade, ele disse que poderia levar quem eu quisesse, quer ir?
- Não sei.
- Vai ser bom para você. - Ela sorri de forma acolhedora. - A Giulia também vai se você for. Podemos ir as três, juntas como sempre fazemos, até porque se vocês não forem, eu não vou.
- Certo, se a Giulia for, eu vou. - Ela me abraça com um cuidado extremo.- Eu não vou quebrar se você encostar em mim.
- Quem me garante isso!?
Rimos.
Ficamos deitada até Giulia aparecer. Ela deita junto a nós suspirando.
- Um dia vou ter um colapso de tanto trabalhar, acreditem em mim. - Ela me abraça.
- Nós acreditamos.- Disse a abraçando de volta.
- Tenho um convite. - Ela fala empolgada. - Amanhã vai ter uma festa na piscina de um cara da faculdade, ele disse que podia chamar alguém, você quer ir?
- Com certeza preciso me distrair um pouco.
- Isso. - A loira comemora e abraça a gente. - Eu vou dormir, estou cansada.
- Podem dormir comigo hoje?- Peço.
- Claro, eu só vou tomar um banho.- Gi fala levantando, e saindo.
Rosalie arruma-se ao meu lado.
- Alguma coisa está te incomodando muito, não está?
- Está.
- O que seria?
- Não sei explicar, venho tendo insônia, pesadelos, e alucinações, pelo menos acho que sejam alucinações. - Respondo.
- Tem umas coisas acontecendo comigo também, mas não é nada demais, acho que é só cansaço.
- Eu também achava, e olha para mim agora.- Me apoio sobre o ombro colocando todo meu peso nele, e olho para ela. - Por favor se cuida Rosalie.
- Kai, fica tranquila, está tudo bem.- Ela me puxa me deitando ao seu lado.
- Mas se cuida, e me liga sempre que acontecer algo de estranho.- Peço.
- Claro.- Giulia aparece já de pijama.
- Boa noite meninas. - Disse deitando.
- Boa noite.- Respondemos.
Quando acordei as duas já não estavam mais na cama, me arrumei ocupando o resto do espaço.
- Acorda, linda. - Rosalie disse me abraçando.
- Bom dia, gostosa. - Abro os olhos.
- Bom dia. Gi e eu já estamos prontas.
- Por que não me acordaram?- Pergunto sentando.
- Estava dormindo tão bonitinha, ficamos com pena, então deixamos você descansar.
- Pode pegar um analgésico para mim?
- Posso.- Ela sai e volta com o analgésico. Me entrega junto a um copo de água. Bebo.
- Obrigada.- Saio da cama, e abro a porta do banheiro.
- De nada, vai tomar banho?- Ela pergunta saindo do quarto.
- Vou.
- Coloca alguma coisa na mão para não molhar o gesso.
- Certo.- Ela sai, pego uma sacola plástica, e coloco com fita, é horrível tomar banho assim, e fazer qualquer outra coisa. Saio do banheiro coloco uma roupa. Um short perto, e uma camiseta de mesma cor, e um sapato. Deixo o cabelo solto, arrumo a mochila com remédios, e protetor solar. As encontro na sala me esperando.
- Quer comer alguma coisa antes de irmos?- Giulia pergunta.
- Não, estou sem fome.
- Mas acabou de tomar remédio é bom comer algo.- Rosalie fala indo até a cozinha, ela demora um pouco, mas logo volta.- Tô,- ela me entrega algo em um guardanapo.- Come pelo menos esse sanduíche.
Pego o sanduíche e começo comer para que elas não fiquem preocupadas. Saimos, e descemos as escadas, entramos no uber e seguimos até a casa do garoto.
O carro para e saímos, é uma casa um pouco grande, Rosalie aperta a campainha, e logo alguém nos atende.
- Rosalie meu anjo!- Ele a puxa para dentro.- Venham garotas.- Ele faz um gesto com a mão nos chamando. Entramos, tem várias pessoas espalhadas, mas não são muitas, tem em torno de umas vinte, ele nos leva a uma mesa.- Fiquem a vontade.
Nos sentamos.
- Vou colocar uma roupa para nadar.- Rosalie avisa, pega a mochila.- Não vão?
- Eu vou.- Giulia pega a mochila.
- Eu não posso.- Falo.
- Desculpa, esqueci. - Elas vão.
Contínuo sentada.
- Oi? Não me apresentei antes. Eu sou Felipe.- Ele senta-se.
- Eu sou Kaira.
- Não vai nadar?- Ele pergunta me analisando.
- Não. - Respondo.
- Foi uma pergunta besta. O que aconteceu se não for incômodo perguntar.
Me arrumo na cadeira.
- Eu cai da escadaria do prédio.- Respondo tão rápido que quase acredito que foi isso que realmente aconteceu.
- Melhoras. - Ele sorri, sorrio de volta agradecendo. - A Rosalie já falou sobre mim?
Finalmente ele chega onde queria.
- A Rosalie fala sobre muita gente, é difícil guardar nomes. - Respondo.
- Entendo. Vou parar de encher você agora, se sinta a vontade, e se precisar de algo me fala. Vou trazer algo para você comer, e beber. Bebida alcoólica?
- Se possível nada com álcool.
- Certo, refrigerante.- Ele se vira para sair, mas volta.- Essa é a namorada que ela falou para mim?
Respiro fundo para não rir.
- Não me sinto confortável em falar sobre a intimidade da minha amiga.
- Tudo bem, desculpa. - Agora ele vai.
As meninas voltam, com a parte de cima do biquíni, e um short.
- E aí?- Rosalie pergunta sentando.
- Conheci o Felipe. - Falo, Giulia me encara sentada de frente para mim.
- Ele é o dono da festa.- Ela responde.
- Ele perguntou muito sobre você.
- E o que você disse?
- Que não gosto de falar da intimidade da minha amiga. Ahh... e ele acha que a Giulia é realmente sua namorada.
- Rosalieee... eu vou matar você.- A garota fala ficando um pouco vermelha.
- Calma, qualquer coisa a gente terminou, mas continuamos amigas.- Ela sorri.
Felipe trás algumas bebidas, refrigerantes, e coisas para comer. Rosalie some com ele, deixando-nos.
- Eu vou nadar um pouco. - Giulia fala saindo.
Fico sozinha brincando com a tampa de uma garrafa. Pego o celular ainda são duas horas. Rosalie volta, o rapaz está com marcas de unhas nas costas em alguns lugares, a loira senta-se.
- Selvagem.- Falo.
- Cala a boca, Kai. - Ela sorrir e toma um gole de refrigerante com vodka.
- É isso aí amiga, se hidrata, você precisa.
Ela mostra o dedo do meio para mim sorrindo. Giulia volta abraçada a um garoto ruivo.
- Gi...- Rosalie soa surpresa.
- Outra Rosalie.- Concluo.
- Não compara.- Ela me repreende e senta-se junto ao garoto. Começamos brincar enquanto eles bebem, Felipe se junta a nós. Depois de algumas brincadeiras e jogos para beberem, sou a única sobria. Pego um cigarro, e acendo, fico fumando enquanto eles brincam e bebem.
- Onde vai?- Pergunto vendo Rosalie levantar.
- Eu vou nadar.- Ela me manda um beijo e vai.
Olho ela mergulhar. Volto a prestar atenção no jogo enquanto Felipe vira três copos de tequila seguidos. Olho para piscina, mas não a vejo subir de volta.
- Ela não subiu!- Falo levantando.
- O que?- Giulia pergunta.
- A Rosalie não subiu de volta.- Saio da mesa, e vou em direção a piscina. - ROSALIE!- A vejo no fundo. Tento pular mas alguém me segura.- Me solta... Rosalie.
Giulia corre e pula sem pensar duas vezes, Felipe pula logo depois. Eles a trazem devolta.
- Rosalie?- Giulia a chama.- Acorda... acorda...
Felipe começa fazer os primeiros socorros.
- Rosalie!- Chamo. A vemos começar tossir e cuspir água. Meu coração está acelerado, e minha cabeça doendo. Mas agora me sinto tranquila. Pego uma toalha, e a enrolo.- Vamos para casa.
Ela mexe a cabeça concordando.
- Kai, ele me puxou. - Ela fala para mim chorando.
- Ele quem?
- Eu não sei, não tinha um rosto.
- Vamos embora. - Peço um uber, e vamos para casa, ao chegarmos a coloco na cama, e fico com ela, Gi, também dorme.
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Paper Man
HorrorUm boneco de papel. Uma maldição. Como fazer para livrar-se do mal?