Lugar seguro

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Nico saiu alguns minutos mais tarde. Começo pesquisar algumas coisas sobre a lenda, mas não encontro nada.
        - Cheguei.- Rosalie fala entrando em meu quarto.
        - Bem-vinda de volta!- Falo dando espaço para ela sentar ao meu lando na cama.
        - O que está fazendo?
        - Procurando respostas. Os garotos na faculdade falaram algo?
        - Não.
Suspiro.
        - E agora?
        - Eu não faço ideia. Quer sair amanhã? Vai ter uma festa.
        - É sério!? A nossa vida está um caos e você quer ir a uma festa?- Levanto sem paciência.
        - É. Não vou ficar perdendo a minha paz, e as festas por isso.
        - Chega, eu não consigo mais.
        - Não consegue o que?
        - Ser a única que parece se importar com isso que está acontecendo.
        - Relaxa, Kai!- Ela soa irônica.
        - Cala a boca!
        - Para de ficar tão presa a isso, foi só uma brincadeira.
        - Que está me destruindo, você pode não acreditar, mas eu sim, depois daquela noite tudo deu errado para mim.
        - Você só está procurando uma coisa para culpar além de você.
        - Vai se fuder, Rosalie!- Pego um casaco.
Ela sai do quarto atrás de mim.
       - Onde você vai?- Ela pergunta.
       - Não sei.
Giulia entra.
       - O que está acontecendo?- Ela passa por mim.- Para onde ela vai?
       - Não sei. - Rosalie fala me imitando.
Saio e fecho a porta com força. Entro no elevando, e assim que chego ao térreo, saio, passo pelo porteiro, e sigo pela rua. Paro no bar a três quarteirões de casa.
       - O que a moça deseja?- Um rapaz pergunta.
       - Whisky  com gelo.- Sento-me em um banco à frente do bar.
       - Sem acompanhamento?
       - É. E uma cerveja.
Ele trás as coisas, bebo o Whisky  e logo a cerveja, depois repito.
Pego o celular no bolso, abro o aplicativo da minha conta, e há mais dinheiro que antes, muito mais. O senhor Egan fez um enorme depósito.
Contínuo bebendo fazendo um mix de whisky, vodka, bloodMary, e cerveja. Pago a conta.
Peço uma garrafa de vinho.
Bebo enquanto volto para casa. Entro no elevando, e saio assim que chego ao andar certo, pelo menos era o que eu achava.
Tento abrir a porta, mas não consigo. Começo bater.
        - Oi?- um garoto abre a porta sorrindo.
        - Você é algum namorado, ficante, ou brinquedo da Rosalie?- Pergunto.
        - Não. Acho que bateu na porta errada, nem está me reconhecendo, Kaira. Eu sou o Ernest.
        - Você ainda vende drogas?- Pergunto.
        - Fala mais baixo.- Ele pede sorrindo. - Não está bêbada demais para usar drogas?
        - Você vende, ou não?
        - O que quer?
        - Codeina, e alprazolan, ou zopidem.
        - Tenho os três.
        - Trás todos.
        - Uau! Quantos?
        - Cinco de cada. Pega.- Entrego o dinheiro a ele.
        - Já trago.- Ele entra, e logo volta, e me entrega.
Saio indo para o elevador.
        - Espera.- Viro, e olho para ele.- Em que andar eu moro?
Ele rir.
        - No nono.
Aceno com a cabeça sorrindo. Volto para o elevador, e dessa vez aperto o botão certo. Antes de sair tomo os comprimidos. Entro, coloco a chave sobre a mesa de centro da sala, e me largo no sofá bebendo o vinho.
        - Onde você estava? - Rosalie pergunta.
        - Não importa.
        - Para de agir com uma criança mimada. - Ela fala parando em minha frente.- Está bêbada?
        - Não importa!
        - No caso hoje nada importa?
        - Não importa.
Ela me levanta, e tira a garrafa de vinho da minha mão.
        - Isso importa?
Tento pegar.
        - Me devolve, eu comprei.
        - Puta merda, Kai, para de agir como uma criança!
        - Eu tenho que ser a mãe de vocês todos os dias?
        - Ah, por favor!
        - Me deixa, Rosalie.- Vou até a geladeira, pego uma cerveja, tomo.
        - Você precisa dormir.
        - Eu não quero!
Giulia aparece.
        - Qual o motivo da discussão?- Ela pergunta.
        - Pergunta a Kaira.
        - Não me pergunta nada hoje.
        - O que bebeu tanto?- Giulia pergunta.
        - Tudo aquilo que consegui, e mais  um pouco. Não estou bêbada.
        - A sua voz está embargada.- Rosalie grita.
        - Para! Eu não encho o saco de vocês quando chegam assim.
        - A garotinha mimada do papai, não aceita que está errada.
        - Está me deixando puta, sua loira descompensada.
        - Eu só quero que você vá dormir.
        - Mas eu não vou!
Ela vem e tira a cerveja de mim.
        - Kaira!- Rosalie exclama.
        - Sai... vê se encontra outra pessoa para encher, e faz aquilo que você faz de melhor. Seja uma puta!
Ela se coloca contra mim, me deixando presa contra a parede.
         - Vai me bater também? Muita gente gosta.- Disse.
         - Eu não sou a porra do seu pai!
         - Meninas!- Giulia grita.
         - E daí? você não ser ele, não lhe impede.
         - Pelo menos, quando eu saio para ser puta, eu pago a minha bebida, não o meu pai.
         - Isso é inveja, porque o seu não te banca?
         - Pelo menos o meu pai gosta de mim!
Me deixo agir por puro impulso, socando seu rosto. A loira se afasta com as mãos no rosto. Abixo sentindo a dor na mão machucada.
          - Eu vou limpar isso.- Giulia sai e logo volta.- É muito sangue.
          - Me desculpa.- Olho para elas, a loira está com o lado esquerdo do rosto melado de sangue, e lágrimas.
          - Eu so vou falar com você quando estiver sobria.- A loira responde chorando.
          - Eu vou levar ela ao hospital.- Giulia fala.- E você, por favor, vai dormir! Onde está a sua chave?
          - Na mesa da sala.- Respondo sentada no chão.
Ela pega minha chave, e saem.
Continuo sentada, tento levantar, mas não consigo.
         - Eu consigo!- Me dou apoio.
         - Não, você não consegue.
Ouço a voz infantil, doce e suave ao meu lado, mas ríspida, e cheia de desaprovação. Meu corpo gela por inteiro. Finalmente olho para a dona da voz, uma garotinha de vestido azul cobalto está ao meu lado. Ela tem aparentes um metro e meio de altura.
          - Esperava mais de você.- A decepção é quase palpável. - Acaba de machucar uma de suas amigas, e ela só queria ajudar.
         - Não foi intencional.
         - Está se deixando ser afetada por ele.
         - Eu não vou machucar elas.
         - Já está machucando, ele está consumido você, está drenando sua energia, e tirando sua sanidade.
         - Eu...
         - Você é o lugar seguro para as suas amigas, elas se sentem seguras quando você está por perto... não vai demorar muito para que faça isso com a  outra.
         - Não sei o que fazer!
         - Não se deixe levar por ele. Venho observando vocês desde quando ele chegou, e você parecia tão confiante.
         - Eu fui quebrada.- Encosto a cabeça na parede, fecho os olhos, e suspiro.
         - E continua quebrando.
         - Eu...
         - Estou aqui vendo você ter uma overdose agora mesmo. Já está sentindo seu olhos pesaram, o coração acelerar, sua respiração falha, seus mebros fracos, e a mente vazia?
         - Não vou...
         - Já está!
         - Quem é você?
Deixo o corpo ir caindo, ela coloca minha cabeça sobre as pequenas pernas, e passa as mãozinhas em meu rosto. Ela some.
         - Yanna!
A última coisa que ouço é uma voz falha.
          - Você está sozinha!
Começo engasgar, tento virar para baixo, mas não consigo, meu corpo parece ter sido colado ao chão. Me debato.
É isso...
É assim que eu vou morrer?

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