Capítulo XIV - O sonho de nós três

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Três jovens já conhecidos estão sentados no chão levemente úmido, folhas sendo levadas pela leve brisa de vento. Eles estão de olhos fechados e uma doce, assustadora e melancólica melodia é tocada em seus ouvidos. A respiração acelerada os deixa apreensivos, mas não abrem os olhos.

O ambiente é até então bastante memorável e de um todo, familiar para aqueles que nunca sequer estiveram ali de corpo presente, mas de desfragmentação espiritual puseram seus pés, em momentos diferentes e aleatórios a si mesmos.

A melodia é tocada a cada momento mais forte, até que um deles abre os olhos, Marcos. Ele vê-se de frente para Enrico e Tiago. Um leve susto é refletido em seu semblante. A música é cessada para ele, mas ainda continua para os outros dois.

Ainda em tom de susto, Marcos olha para os lados e se vê em uma floresta, mais uma vez, a mesma de antes, a mesma de todo o sempre. É noite, ele vê somente as luzes acesas ao longe, no grande casarão. Vê-se no mesmo local onde esteve no sonho passado, mas antes sozinho, agora acompanhado.

As árvores ao seu redor dão um ar ainda mais sombreado e escuro.

Ele ouve passos e logo uma figura surge a seus olhos.

— Vocês três tenham cuidado — A imagem de Pedro é materializada a poucos instantes de seus olhos — Um garotinho, pouco mais ou menos de oito anos, ainda usa as mesmas vestes de antes.

— Por que? — De um certo modo, em sonho Marcos não sente medo.

— O perigo está perto o bastante... — Ele sussurra e senta-se ao lado dele — Vocês três precisam tomar cuidado...

— Mas por que precisamos tomar cuidado?

— Para que ele não os pegue... ele está quase desconfiando que eu consegui escapar...

— Ele quem? — Questionou — De quem você fala? De quem você tanto fala? Quem é essa pessoa? Esse homem!?

— O dono do casarão...

— Mas ele já deve ter morrido... — Diz.

— Ele está vivo... ele nunca morreu... ele nunca vai morrer... a menos que vocês três consigam destruir eles...

Marcos ficou confuso e por um tempo pensou.

— Quem que nós três temos de derrotar?

— O dono do casarão e suas esposas...

— Eu ainda não entendo...

— Eles me mataram... eu fui o primeiro a morrer... — De seus profundos olhos, saíram algumas lágrimas que sumiram dentro de seu terninho — Primeiro eu... depois minha irmã... todos os anos eles matam um... eles mataram o Marcelo e se não fizerem nada contra eles, os próximos serão vocês...

— Mas...

— Apenas tomem cuidado...

— Como você... — Ele fez uma longa pausa, sentia-se culpado por perguntar.

— Como eu morri? — Pedro completa — Foi uma morte horrível... eu lembro de estar sozinho aqui nessa floresta mesmo... apenas me dei conta de que havia morrido quando vi toda a juventude do meu corpo sendo sugada e meu corpo aos poucos ficando cheio de rugas, enquanto os deles novamente eram rejuvenescidos...

Marcos ficou horrorizado e não conseguia acreditar

— Por que o Enrico e o Tiago estão no meu sonho? — Perguntou.

— Vocês três estão em um mesmo sonho... eu estou falando com os três... vocês estão ligados pela força e energia da bondade e são os únicos que podem nos ajudar...

— Como assim ajudar vocês?

— Quando nos mataram, as nossas almas ficaram presas entre a barreira do seu mundo e o mundo eterno... nós precisamos que tudo isso seja desfeito para enfim descansarmos em vida eterna...

— Isso é tão confuso — Marcos fechou os olhos e respirou fundo — Eu estou com medo, mas ao mesmo tempo quero ajudar vocês...

— Você é bom e poderá nos salvar...

— Mas por que nós? Por que eu?

— Todos os outros desistiram e acabaram morrendo e agora estão presos na agonia...

— Como você conseguiu fugir? — Seus olhos brilham de intensa curiosidade, por mais que isso esteja lhe custando a vida e sanidade.

— Ele estava distraído e deixou a porta entreaberta...

— Por que os outros não fugiram...?

— Eu fui o único que conseguiu passar sem ele perceber, todos os outros ficaram...

— Então vá e procure o seu descanso, nós tentaremos resolver...

— Não posso... eu estou preso... a menos que vocês os destruam, nós estaremos presos...

— Quem devemos destruir? E como vamos destruir? — Tudo está confuso em sua cabeça, nada consegue se encaixar e nenhum suspeito até então é de fato concreto.

— O diretor Graça — Ele respondeu e a sua imagem sumiu aos poucos, sendo levada pela leve brisa — O livro e o medalhão escondido atrás do pêndulo do relógio devem ser destruídos dentro da floresta, a meia noite de lua cheia... — O sussurro foi distante e claro o suficiente para o jovem se atordoar.

Marcos rapidamente se levantou e tudo havia ficado escuro. Enrico e Tiago não estavam mais ali. Um vazio sob os seus pés se formou e mesmo assim pôs a correr até tropeçar em algo que estava em caminho. 

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora