É o final de uma bela tarde, meados de abril de 1815. Ele, um jovem pintor, acaba por concluir uma das suas mais demoradas obras. Feliz consigo mesmo por ter feito algo tão esplêndido e realista. Apelidada de casal feliz, ele mostra para os seus amigos aquela que foi a sua perfeição como artista. Ele não deu o seu melhor por causa do dinheiro, mas sim por eles serem seus amigos.
— Eu não aguentava mais — A mulher diz aliviada de seu martírio — Me lembrem de na próxima vez, a pintura ser sentada e não em pé.
— Ao menos ficou perfeito — Ele diz sorridente — Nunca vi algo tão belo — Diz feliz — Precisa agora somente de uma moldura que combine.
— Eu dei o meu melhor, só pelo fato de vocês serem meus amigos — O pintor sorri.
— Eu sabia desde o começo que poderia contar com você, Xavier — Dá um meio abraço nele.
— Você já tem algum lugar para ficar? — Sua esposa, Euclávia, pergunta.
— Infelizmente ainda não... — Ele responde indiferente — As coisas em minha casa não estão indo tão bem quanto eu poderia desejar... coisas acontecem... mas eu vou superar tudo isso.
O marido e a esposa se entreolharam e parece que seus pensamentos se cruzaram. Ambos sabem sobre o segredo.
— Por que você não passa uma temporada conosco? — O marido o convida — Seria ótimo ter mais alguém para compartilhar da casa. Viver somente com os empregados não é tão legal... digo, não é a mesma coisa, pois eles sempre estão atarefados.
— Mas eu estaria atrapalhando a paz e sossego de vocês dois — Ele recua — Tudo o que eu menos quero é atrapalhar.
— Besteira — Ela diz — Você é nosso amigo, foi nosso cupido.
— Nós estamos sozinhos aqui e acharíamos bom ter a companhia de um amigo — Ele diz sorrindo.
— Acho que posso aceitar — Xavier parece envergonhado.
Xavier entregou a tela para Istefano, que a recebeu como um prêmio glorioso. Algo divino, diga-se de passagem. Horas de trabalho foram entregues aquela perfeição.
— Ficou melhor do que eu poderia imaginar — Euclávia diz ainda abobalhada com aquilo.
— Mas diga-me, amigo... por que você nunca nos apresentou o seu namorado!? — A pergunta de Istefano parece ter pego Xavier de surpresa, ele deu um salto para trás, deixando as telas e a placa de tintas caírem no chão.
— O-que? — Gagueja — De onde tiraram tamanha bobagem!?
— Não precisa mentir para nós — Euclávia vai até ele e o ajuda a recolher as telas caídas no chão — Nós sabemos que você tem um caso com aquele homem da mercearia — Ela sorri — Não estamos julgando você, apenas ficamos tristes de você não ter nos contado.
— Eu os vi, em um dia que fui à mercearia daquele homem... os vi tendo uma conversa bastante suspeita e flagrei quando se beijavam — Confesso que no começo eu achei isso tudo uma tremenda sujeira, mas depois de muito conversar com a minha esposa, eu percebi que é tão normal quanto respirar e beber água.
— Eu pensei que vocês não iriam mais querer ser meus amigos... — Lamentou ao recolher as telas — Nós não podemos mais ser vistos pelas pessoas, se não trará problemas para ele e para mim... em minha casa, alguns de meus parentes estão desconfiados, mas consegui amenizar a situação, eu acho...
— Isso jamais — Marta o olha — Por isso resolvemos te chamar para morar conosco... eu acho que deve ser difícil para você, conhecemos a sua família e sabemos o quão maldosos são — Ela diz.
— Você é um dos meus grandes amigos, se não o único, por esse motivo eu quero o seu bem.
Xavier pôs as telas em cima do banquinho ao qual estava sentado e caminhou aproximando-se de Euclávia, dando-lhe um abraço e um beijo na bochecha; andou até Istefano e fez o mesmo. Depois, os agradeceu por tudo.
Para Xavier, saber que seus amigos não o designaram ao fogo do inferno era a coisa mais maravilhosa de todo o mundo. O universo para ter se reacendido de novo. Mas, para todos os casos e efeitos formais, ele precisa apresentar o seu namorado para os seus amigos.
Mesmo que tudo possa parecer estranho, eles realmente aceitaram em um bem conjunto o fato de seu amigo gostar de homens e não de mulheres, como externamente manda a natureza, diga-se em um frívolo de credo.
— Mas nós pedimos descrição — Istefano diz para seu amigo — Não que eu tenha qualquer coisa contra, mas... — Ele ficou sem graça em continuar falando.
— Por mim tudo bem — Xavier respondeu.
— Aqui será como a vossa casa — Euclávia sorri para ele — Vai ser ótimo ter alguém com quem conversar.
— De verdade, me envergonha ficar aqui de favor...
— Veja isso como um tempo para espairecer...
— Na verdade, nós vamos ficar extasiados em termos você para nos fazer companhia.
Os dois ajudaram Xavier a levar as suas coisas para dentro; todas as telas, pincéis e tintas. Talvez para ele seja bom ficar um tempo longe de casa e de todo o preconceito. Ele cresceu em uma família bem religiosa e preconceituosa e nunca o aceitariam tal como ele é.
Como todas as famílias da época, a dele não era diferente. Sua mãe queria que ele se casasse para lhe dar inúmeros netos - preferencialmente um garoto, assim dizia seu pai. Seu pai, este lhe condenava por ter escolhido a pintura ao invés de qualquer outro trabalho ''digno''. Mas, no fim do túnel surgiu a luz para ele.
Conhecendo-se apenas há alguns meses, ele se viu envolvendo-se com o dono da mercearia local. Um rapaz trabalhador e que aparentemente levava jeito com esportes. Os dois viram-se tão entrelaçados que não poderiam ficar tanto tempo longe um do outro. Porém, olhares maldosos estavam de vigia, esperando qualquer movimentação suspeita vinda de ambos. Mesmo que o medo os consumisse, eles nunca deixaram de se encontrar, aumentando ainda mais o amor que sentem um pelo outro.
Boa tarde. Tudo bem? Espero que sim!
Aqui está mais um capítulo bônus. Logo voltarei com mais um capítulo.
Deixem seus votos ou comentários, são de extrema importância. Agradeço aos que estão lendo e fico feliz se estiverem gostando. <3
Digam também o que estão achando da história ^^
Até logo o/
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O Mistério do Internato (Livro Gay) - Completa
Science FictionMarcos muda-se para um internato por conta própria, em virtude de ser gay. Ao mesmo instante que conhece Enrico - diferente de todos os garotos que existem dentro do ISM. Ele se depara com acontecimentos peculiares. Nada ali é normal. De momento sur...