Capítulo II - Coisas estranhas

88 11 3
                                    

Sabe-se somente que o dia amanheceu pelo simples fato de a ensurdecedora sineta ter tocado tão alto quanto da última vez - noite anterior. E, também pelo simples fato de a monitora ter adentrado o quarto, segurando vestes cinzas, para que Marcos pudesse usar - desta vez um pouco mais acinzentadas e iguais as de todos os outros. Assim que as jogou sobre sua cama, ele acordou assustado, olhando diretamente para ela.

— Por que ainda está deitado? — Pôs as mãos na cintura e o encarou, seus olhos semicerrados os deixaram intimidado por ela — Já deveria ter levantado, assim como seu colega — Apontou para Enrico que estava sentado na cama, terminando de calçar o surrado sapato, preto e surrado.

— Eu... — Coçou os olhos e com esforçou sentou-se — Eu dormi muito mal — Omitiu.

— Rápido! — Disse em um tom bem alto — Vocês têm suas obrigações em menos de meia hora. A propósito, todos nós dormimos mal, dá próxima vez você ficará uma semana trancado na solitária a pão e água — Ela saiu do quarto, batendo a porta com toda a força possível. Foi-se possível ouvir alguns resquícios de barro caindo no chão.

— Levanta, rápido — Enrico foi até Marcos e o ajudou a levantar-se — Não podemos nos atrasar demais — Apressou-o — Uma vez eu me atrasei e me deixaram dois dias dentro daquela solitária imunda.

— O que seria essa solitária que ela falou? — Quis saber.

— Uma micro-sala, com um pequeno colchão jogado no chão e que tem cheiro de urina e fezes. Eles te deixam lá dentro caso se comporte mal.

— Você ficou lá dentro só porque se atrasou? — Olhou-o incrédulo.

— Não foi bem por isso, mas depois eu te conto melhor sobre...

Seu corpo dói, como se o tivessem jogado de um prédio e logo em seguida o houvessem surrado a várias açoitadas de chicote.

— O que está acontecendo? — Com dificuldades ele se pôs de pé.

— Eu acabei não falando durante a noite, mas nós temos de ir para as aulas — Voltou-se para a sua cama — É melhor você se vestir, aquele demônio costuma entrar nos quartos duas vezes seguidas e quem não estiver pronto, ela arrasta para o diretor punir, e muitas das vezes, obrigam a gente a fazer algum serviço desagradável — Disse para o amedronto de Marcos.

— Eu nem tive tempo de acordar direito — Reclamou — Eu nem tenho material para estudar... aliás, vocês estudam aqui? Isso é sério? Gente? Como assim?

— Ela trouxe tudo o que você vai precisar — Enrico apontou para a parte de baixo da cama de Marcos, lá existem alguns livros surrados, de capa dura e grossa, assim como o seu próprio conteúdo — Dentro do guarda-roupas tem roupa para as aulas ao ar livre — Se pôs de pé.

— Nem sei direito o porquê de nos darem livros, sendo que mal os usamos. Os professores só estão aqui por causa do dinheiro, com certeza.

— Somos mesmo obrigados a irmos para essas aulas?

— É isso o lavar os banheiros e servir comida — Riu — Eu prefiro ficar dois dias naquela solitária do que servir comida para um bando de marmanjo.

Marcos em um súbito momento conseguiu vestir todas as suas roupas, não se importando se estaria na frente de Enrico (mesmo que isso fosse incoerente, afinal, não há nada para esconder ou temer, os dois são iguais). Um dos grandes defeitos de Marcos é ser tímido demais, porém, em algumas exceções ele sabe ser desinibido o suficiente para não ficar por baixo.

A poucos dez minutos ele já havia se vestido.

Dentro de cada quarto existe um mini banheiro para eles. Rapidamente lavou o seu rosto e escovou os dentes. Penteou o cabelo, mas não adiantou. Marcos tem um cabelo ondulado e devido ao seu tamanho, não consegue deixá-lo baixo só penteando. Ele precisa molhar para que assim tudo consiga ficar em seu devido lugar.

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora