Prólogo

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 Saber controlar a vida pode ser uma dádiva, mas não para Marcos. Seus pais e o próprio haviam discutido na noite anterior sobre a sua sexualidade. Um fato comum entre tantos outros como ele - que são única e simplesmente normais, como qualquer outra pessoa.

É manhã de domingo. são pouco mais de nove horas. O sol está de fato se animando (em contraditório ao quão triste ele está) e irritando algumas coisas (ninguém nunca está satisfeito), bem controverso, poderia-se. Seu rosto está recostado sobre o vidro do carro, olhando a seca paisagem correndo sob seus olhos - ora verde, ora seca... um tempo um tanto quanto bipolar.

O motorista do carro então lhe pergunta:

— Para onde você está indo mesmo? Saímos da cidade há mais de uma hora e você nem se quer me explicou para onde quer ir — Olhou para ele pelo retrovisor. Olhando o quão cabisbaixo ele está, mas não quis lhe questionar o motivo de estar assim.

— Para o ISM — Respondeu depois de um longo pensamento.

— Aquele Internato que fica bem no interior? — Arqueou a sobrancelha, em um quase tom de deboche.

— Sim!

— Eu sei que não deveria perguntar, mas o que você fez para ir parar naquele lugar? — O homem parecia de fato mais surpreso que o normal — Eu mesmo não teria coragem de ir para lá...

— Decepcionei meus pais — Riu finalmente depois de um longo suspiro — Eu os decepcionei...

— Não entendo... — Continuou sua atenção sempre para a frente.

— Nem sempre entendemos, mas... — Deu de ombros e ajeitou a sua postura.

Marcos continuou olhando para fora. A paisagem ia oscilando entre árvores e campo de pasto para o gado.

O Internato Santo Magnus fica no interior do estado do Brasil - algumas pessoas o conhece, mas outras nunca ouviram falar. Marcos tomou essa decisão há meses atrás, quando estava em seu quarto, planejando as várias formas as quais poderia revelar aos seus pais que é gay e, também, as várias maneiras as quais eles reagiriam. Como previsto, tudo saiu do controle. Um dos planos era justamente este, ir para o ISM. As más línguas falam do ISM como um lugar tenebroso e perigoso para todo aquele desavisado.

Durante a noite passada, ele ocasionalmente fez uma ligação para lá - ao acaso descobriu o número do telefone de lá, quando vagava pela internet, buscando lugares que fossem cabíveis para a sua 'rebeldia' (ao menos assim seria como seus pais pensariam (em sua cabeça, esta é a verdade)). Quando questionado sobre o motivo de querer ir para um lugar tão ''perverso'', ele simplesmente respondeu ser um lugar para endiabrados.

Sua vida, segundo ele mesmo, foi de mal a pior. Mas, curiosamente, ele sentiu-se liberto das correntes de um conservadorismo, diga-se de passagem.

— Estamos quase chegando — O motorista disse ao ir diminuindo a velocidade aos poucos, devido ao chão de barro lamacento, culpa da chuva na noite anterior.

— Que ânimo — Debochou.

Um fato ou puramente coincidência foi quando o diretor lhe disse que justamente neste dia, haviam inúmeras vagas, pois alguns internos foram liberados sob a condição de estarem aptos para não causar mais problemas.

O prédio do Internato é bem antigo. A sua fachada já está bem gasta. É possível ver a sua imensidão devido ao extenso muro que se alastra pelos dois lados, perdendo-se no quase infinito. Há várias janelas de vidro, mas todas fechadas e impedidas de ter a visão de dentro por causa de cortinas pretas. O caminhão até a entrada tinham poucas gramas, que se perdiam no meio de tanta lama.

O ensolarado dia poderá se bom.

Ao momento que o motorista estacionou, ele sentiu um frio percorrer seu corpo e se arrepiou.

— Boa sorte — Disse pelo retrovisor.

O jovem agradeceu com um meio sorriso desanimado e fez o pagamento da viagem. Ele está somente com uma mala e uma mochila. O seu celular foi deixado em casa por ele mesmo, junto de todas as coisas mais importantes - materiais.

Logo que Marcos colocou os pés para fora do carro, sentiu um frio como nunca antes. Todo o seu corpo tremeu como se houvesse levado um choque e de súbito, a sua visão ficou escura, impedindo que ele pudesse desfrutar da paisagem do lugar - estranha, com um prédio cinzento... sem vida e um cão cheio de lama, ao qual a quentura do sol tratará de endurecer. 

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora