Capítulo VIII - Um morto

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A tarde de quinta-feira foi um tanto quanto contraditória e assustadora.

A semana inteira foi comum, como qualquer outra - se não fosse pelo óbvio fato, seria de fato, normalíssima. Marcos e Enrico estão cada vez mais próximos e quem os visse juntos diria até que são namorados. O jovem também teve algumas conversas com Tiago, que sempre se mantinha imparcial em vários casos. Enrico por sua vez, sempre dizendo para Marcos parar de falar com ele, mas mesmo assim, ele sempre insistindo em manter contato com um cara homofóbico.

— O que aconteceu? — Marcos desceu as escadas correndo, visto que havia ouvido a sineta tocar e o barulho de vários rapazes correndo pelo corredor, além da inspetora Euclávia gritar para eles pararem. Eles não lhe deram atenção e o alvoroço só piorava a cada instante.

— Um interno foi morto — Enrico respondeu de olhos arregalados — Mas não sei quem foi.

Marcos pôs a mão no peito e olhou ao redor. Todos estão dispersos e agitados, correndo de um lado para o outro.

Enrico puxou-o para uma parte mais distante de todo o alvoroço. A parte perto da escada, onde existe uma janela de vidro, onde podem ver uma pedaço do lado de fora do ISM, pelo menos a região onde tem a estrada que faz a ligação do Internato até a cidade. Lá fora o céu está nublado e o chão de terra levemente úmido, um clima bem contraditório ao nordeste.

— O que você quer dizer? — Marcos perguntou um pouco impaciente — Você está apertando meu braço.

— Eu vi o garoto que foi morto... — Disse ainda amedrontado — Mas não vi quem o matou, não mesmo...

— Como?

— Ele entrou na floresta e não saiu de lá...

— Ainda não entendo...

— Ontem a tarde... você se recorda do jogo dos caras mais velhos contra os novatos? — Olhou bem no fundo dos seus olhos.

— Sim...

— Quando você saiu e veio para o quarto, um dos caras jogou a bola tão forte e tão alto, que foi parar dentro da floresta... — Fez uma pausa e respirou fundo, ainda olhando para fora, onde viam um pequeno movimento entre o diretor Graça e algumas pessoas desconhecidas — A princípio fizemos toda uma algazarra e o garoto que jogou a bola se prontificou para entrar...

— Mas ainda não entendo...

— Ele entrou na floresta e não o vimos durante toda a tarde e nem durante o jantar e nem hoje pela manhã — Respirou fundo — Só soubemos hoje a tarde que ele havia morrido, pois alguns caras estavam comentando.

— Alguém viu o corpo?

— Não, mas sabemos que ele está na enfermaria, mas o diretor Graça deixou os cães de guarda na entrada, para que ninguém entre até lá.

Marcos até o momento viu isso como uma coisa levemente normal, tendo em vista o local em que estão e também pelos próprios antecedentes das pessoas. Porém, ele não morreu por brigas, ele também não morreu porque estava devendo algo a alguém e também não morreu porque estava doente, mas morreu porque entrou em uma floresta aparentemente normal...

— Por que todo mundo está tão assustado assim? — Marcos questionou ainda sem entender tal motivo.

— Isso acontece todo ano... às vezes nessa época...

— Eu já não sei mais se tenho medo ou não...

— Eu não contei a você, mas quando eu entrei na floresta pela primeira vez, eu vi uma espécie de cemitério lá dentro... — Disse bem baixinho — Talvez seja por isso que eles não querem a nossa presença por lá.

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora